São Paulo, 14/04/2025 – A Argentina deu um importante passo em sua política econômica ao anunciar o fim das restrições cambiais e a adoção de um novo regime de câmbio flutuante dentro de bandas, disseram analisas do BTG Pactual, qualificando a decisão como “o verdadeiro Dia da Libertação”, em referência ao nome dado pelo presidente americano Donald Trump ao dia em que anunciaria a imposição de tarifas recíprocas pelos Estados Unidos, em 2 de abril.
A medida argentina, apoiada por um robusto pacote de financiamento internacional, marca a chamada “Fase 3” do plano de estabilização do governo Javier Milei.
Com o suporte de US$20 bilhões do Fundo Monetário Internacional e recursos adicionais do Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento, o país passa a operar com uma faixa cambial entre 1.000 e 1.400 pesos por dólar, ampliada em 1% ao mês para cima e para baixo. A mudança elimina praticamente todas as restrições para indivíduos no mercado de câmbio oficial e abre caminho para maior previsibilidade econômica, avaliou o BTG.
De acordo com os termos, a Argentina compromete-se a obter um superávit fiscal primário de ao menos 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Milei recebe hoje, em Buenos Aires, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent. Ambos realizarão um anúncio coletivo nesta tarde.
O novo regime, considerado mais sustentável pelo mercado, ocorre após um trimestre de turbulência para os ativos argentinos. O BTG Pactual classificou o movimento como melhor do que o esperado, ressaltando que o antigo modelo cambial já não se sustentava, especialmente após o choque externo provocado pelas tarifas dos EUA.
IMPACTOS
Apesar da perspectiva de curto prazo apontar para uma aceleração da inflação, com impacto previsto no segundo trimestre, analistas consideram o efeito moderado e acreditam que a tendência de desinflação deve ser retomada adiante.
O time de analistas do BTG, liderado por Andres Borenstein, ajustou suas expectativas para a inflação da Argentina em 2025 para 32,5%. Ao fim de 2024, o BTG projetava a inflação ao fim deste ano em 24%.
Apesar de ainda ser elevada em comparação a outros países, a projeção reflete um avanço significativo do governo Milei no combate à inflação nos últimos anos. Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas (Indec), a inflação registrada em 2024 foi de 117,8%, o que representa uma queda de quase 94 pontos percentuais em relação aos 211,4% de 2023, sob administração de Alberto Fernandez.
De acordo com o relatório do BTG, a liberalização do câmbio deve favorecer as exportações e atrair novos investimentos, especialmente nos setores de energia e mineração. O fim do câmbio preferencial para exportadores e a liberação do dólar para pessoas físicas são vistos como marcos da nova etapa econômica.
FISCAL E FMI
No campo fiscal, o governo elevou a meta de superávit primário para 1,6% do PIB em 2025, comprometendo-se com responsabilidade orçamentária. O novo arcabouço monetário será baseado na agregação monetária, abandonando o controle sobre a base monetária ampla e preparando o terreno para um eventual regime de metas de inflação.
O FMI projeta crescimento do PIB argentino em 5,5% neste ano e 4,5% em 2026, com a expectativa de reformas estruturais como a reforma previdenciária e a desregulamentação do mercado de trabalho.
Segundo o BTG, com as boas notícias em relação ao empréstimo com o FMI, O acesso ao mercado internacional de capitais em 2026 também está no horizonte, com projeções de redução da dívida pública para 31% do PIB até 2030.
A adoção do novo regime cambial deve reduzir drasticamente a diferença entre o dólar oficial e o paralelo (blue-chip swap), criando incentivos para exportadores e facilitando a operação de empresas. Já o impacto na atividade econômica tende a ser marginal, compensado pelo ambiente mais favorável ao investimento, segundo a avaliação do BTG.
Por fim, o relatório ressalta que o sucesso do novo modelo da Argentina dependerá de sua execução, mas vê o país agora mais preparado para enfrentar choques externos. Com menos incertezas domésticas e uma política cambial crível, analistas do BTG voltaram a recomendar “compra” nos títulos da dívida argentina, após recente rebaixamento para visão “neutra” .
(LB | Edição: Luciano Costa | Comentários: equipemover@tc.com.br)