São Paulo, 17/04/2025 – As ações da metalúrgica Tupy chegaram a cair mais de 17% em poucos dias após notícias sobre sucessão no comando da empresa, com os acionistas ligados ao governo federal, BNDES e Previ indicando um novo CEO, mas o movimento “não se justificava” e já se reverteu, gerando perdas e risco de um “short squeeze” para quem apostou na queda, disse o gestor Werner Roger, da Trígono Capital, em participação hoje na TC News.
“Tupy chegou a cair bastante, mas devolveu tudo, com todo aquele imbróglio da troca de CEO. Teve muita especulação, muito pessoal ´short´, tentando derrubar as ações com ´short´, mas acho que se deram mal. Estamos bem tranquilos com relação à empresa”, disse Roger, em entrevista ao “Almoço de Negócios”, na TC News.
A Trígono detém participação de 10% da Tupy — maior acionista depois do BNDESPar (28,2%) e da Previ (24,8%), que aprovaram a substituição do CEO, Fernando Rizzo, há mais de sete anos no cargo, por Rafael Lucchesi, diretor da Confederação Nacional da Indústria. O movimento gerou críticas de minoritários, incluindo as gestoras Real Investor e Charles River, que viram interferência estatal na gestão, e derrubou as ações. Hoje, no entanto, elas operam mais de 7% acima do patamar visto em 18 de março, quando a sucessão foi noticiada na mídia.
Roger avaliou que a mudança de CEO não trará impactos significativos ao dia-a-dia das operações, pontuando que o conselho participa bastante dos processos decisórios. Ele também disse que os ministros Anielle Franco, da Igualdade Racial, e Carlos Lupi, da Previdência, que fazem parte do conselho da metalúrgica, “não tiveram impacto negativo” na gestão e sempre aprovaram as medidas do atual CEO, Rizzo, que fica no cargo até o fim deste mês.
O gestor da Trígono também minimizou preocupações com eventuais impactos das tarifas de Trump sobre a Tupy, projetando que a empresa não terá prejuízos, e acrescentando que investidores que exageraram na preocupação acerca desse tema e da mudança de CEO poderão ser pegos no contrapé agora. Isso porque há muitas ações alugadas e a Tupy fez grandes recompras, deixando poucos papéis disponíveis no mercado caso haja uma corrida para fechar posições vendidas.
“É o tal do famoso ´short squeeze´. Essa coisa vai explodir, porque não tem mais ações pra quem shorteou comprar de volta. Esse pessoal não deve estar dormindo direito”, brincou Roger. Ele calcula que os aluguéis já corresponderiam a 42% do”free float real”, desconsiderando ações recompradas e detidas por ETFs, por exemplo.
“Boa parte dessa alta recente é por isso… estou muito curioso para ver qual vai ser o fim desse episódio. O pesadelo em que vai se tornar essa especulação. Não tinha razão para ‘shortear’ como fizeram com a Tupy, então vamos acompanhar”.
OPORTUNIDADES
Conhecido pela visão focada em aspectos micro da tese das companhias, e pela estratégia fundamentalista, mirando longo prazo, a Trígono segue otimista com as posições de seus veículos de investimento, que incluem empresas como Embraer, 3Tentos, Tegma e BR Partners, apesar das turbulências geradas por Trump no cenário global e das preocupações fiscais no Brasil.
“O mercado está disfuncional. Seguimos bastante confiantes com as empresas”, disse Roger, acrescentando que tem sido procurado por grandes investidores interessados em montar estratégias para se posiconar em small caps e ações de dividendos, principalmente.
“O institucional parece que já está preparando o gatilho para voltar ao mercado de renda variável”, afirmou. “É uma oportunidade que surge nas crises, principalmente quando os preços não acompanham os fundamentos”.
Questionado sobre as políticas de Donald Trump e seus impactos sobre as finanças, Roger disse que os mercados “vão entendendo” aos poucos o modo do presidente americano agir. “Parece que é muito blefe, muita conversa, mas na prática mesmo só (tarifaram pesadamente) a China, e acho que vão negociar. Por enquanto o mercado está absorvendo bem esse negócio.”
Porém, caso os EUA não fechem acordos comerciais e acabem voltando com as tarifas recíprocas, que foram suspensas por 90 dias, exceto para a China, a situação poderá degringolar, segundo o gestor. “Se de fato as taxas forem levadas a cabo, vai ter inflação e recessão. É o pior cenário possível, aí os juros não só não devem cair (nos EUA), como devem subir”.