São Paulo, 13/08/2024 – A Eternit, que está saindo da recuperação judicial, quer tomar recursos mais baratos em bancos públicos para renegociar dívidas e reduzir custos, enquanto prepara uma proposta de acordo para encerrar passivos judiciais, disse hoje o CEO, Paulo Roberto de Oliveira Andrade, em entrevista à TC News.
“O juiz proferiu a saída da RJ na sexta-feira passada, foi muito positivo. Com isso a empresa entra em uma nova realidade de vida agora. Um sobrenome com Recuperação Judicial é sempre um problema”, disse Andrade, que participou do programa Almoço de Negócios, na TC News.
Segundo ele, a Eternit buscará cerca de R$80 milhões do Banco do Nordeste (BNB), em operação com custos menores, para renegociar outros débitos mais caros, cortando custos com juros. “A princípio, já está homologado, mas eles não trabalham com empresa em RJ. Vamos voltar a pleitear”.
A Eternit precisou pedir a proteção contra credores devido a uma crise desenacadeada pela proibição do uso do amianto no Brasil pelo Supremo Tribunal Federal, em 2017. A decisão do STF foi motivada por danos que o produto teria causado a trabalhadores, que ainda são alvo de diversas discussões nos tribunais.
“Temos alguns processos, algumas ações civis públicas, que estamos tentando fazer um acordo mais global, nacional. Tentar quantificar isso e realmente fazer um acordo que tire isso do nosso radar”, disse Andrade. A Eternit tem entre R$50 milhões e R$60 milhões provisionados para lidar com esses casos, e a ideia é chegar a um acordo próximo desse valor.
Apesar dos desafios recentes com a RJ, a Eternit atraiu uma base de investidores estrelados que aposta em sua recuperação. O principal acionista é o fundo D+1, gerido pelo BTG Pactual, com 26,7%, e o megainvestidor Luiz Barsi Filho tem 5,62%. O fundo Geração Futuro LPAR, do bilionário Lírio Parisotto, tem 6,45%.
ESTRATÉGIA
Do lado operacional, a Eternit focará em ampliar o uso da capacidade instalada, após investimentos recentes em expansão, enquanto aposta no lançamento de um novo produto para o mercado de energia solar, que será divulgado ainda neste mês.
A empresa já começou a produzir uma telha com células solares embutidas, e o próximo produto para o setor será uma placa solar que poderá ser aplicada em quaisquer superfícies, como paredes.
“É uma extensão das linhas de telhas solares, estamos finalizando a certificação junto ao Inmetro e deve começar venda a partir de setembro. Estamos apostando, achamos que é estratégico e tem sinergias com os canais de venda da companhia”, disse Andrade.
AMIANTO
Apesar de proibido no Brasil, o amianto responde por cerca de um terço dos negócios da Eternit, que ainda minera e exporta o produto, apoiado por legislação estadual de Goiás. E nos próximos dias o Supremo Tribunal Federal deve julgar caso questionando a permissão para essas exportações.
“A companhia tem sim um impacto muito relevante se a mina parar de operar, mas ela consegue tocar adiante, tem condições de ser uma empresa mais focada em material de contrução”, disse Andrade à TC news.
O executivo avaliou, inclusive, que hoje o valor das ações da Eternit já estaria precificando uma decisão negativa do STF contra as operações de mineração de amianto. “Mas apostamos que não vai fechar”.
A íntegra da entrevista está no canal do TC Investimentos no YouTube.
(LB | Edição: Luca Boni | Comentários: equipemover@tc.com.br)