São Paulo, 28/11/2024 – O empresário Rubens Ometto, controlador da Cosan, questionou hoje o diretor de Política Monetária e futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, durante participação em um evento, e lançou fortes críticas também ao governo em geral, pedindo até que a autoridade monetária interceda de alguma forma junto a políticos por uma mudança de direção. “É uma coisa que, desculpe o francês, estamos ferrados”, desabafou.
Ometto falou ao receber o microfone para fazer perguntas a Galípolo em um seminário da Esfera Brasil, e aproveitou para cutucar o diretor do BC com base em um comentário feito por ele anteriormente, de que a autoridade monetária estaria precisando pisar um pouco mais no freio– a fala buscava justificar a retomada do ciclo de alta de juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom).
“Me deixa muito preocupado. Porque você, como presidente do BC, é a mesma coisa que você estar dirigindo o automóvel e você estar dizendo que pode brecar, pode acelerar; não pode virar a direção. E se você está vendo o carro indo para um lugar que não seja o desejável”, começou o empresário.
“Eu acho que a gente está em uma situação muito difícil. Porque quando você é empresário e vê o que está acontecendo… você vê claramente que é uma política de partido, de não reduzir (gastos). Porque está muito fácil resolver, é só resolver o problema do déficit fiscal e tudo se assenta. Mas eles não querem fazer isso, e não enfrentam esse problema”, disse Ometto, mostrando insatisfação com o pacote de gastos recém-anunciado pelo governo, que frustrou o mercado financeiro e levou o dólar a tocar máxima histórica, a R$6,00.
“Então o que vai acontecer? Os juros vão subindo, vão subindo. Os investimentos que todo mundo fala que vai ter de infraestrutura, PPPs, não vão acontecer, porque o empresário que investir dinheiro com essa taxa de juros, ele vai quebrar. Ele não vai conseguir, e como eles são inteligentes, não vão fazer isso”.
Para Ometto, isso poderia desencadear depois mais problemas de inflação, por falta de capacidade das empresas para investir no atendimento da oferta. “Eu entendo sua situação. Mas nós, políticos, líderes, temos que trabalhar para fazer o convencimento… é uma coisa que, desculpe o francês, estamos ferrados, porque a alta administração do país acha que está certo e não quer fazer nada.”
VISÃO DO PT?
O dono da Cosan chegou a perguntar para Galípolo sobre a visão econômica do Partido dos Trabalhadores, do presidente Lula, e sobre que visões sobre política monetária — e fiscal — ele leva para reuniões com membros do PT e do governo, como antes da divulgação do pacote de gastos. “Minha pergunta e minha curiosidade. Nos seus debates técnicos, no nível de Fazenda, de presidência do PT, dos políticos do PT, como é esse debate?”.
Galípolo, na sequência, disse buscar esclarecer para as autoridades visões sobre o comportamento do mercado e expectativas. “O Banco Central não está lá para dar sugestões de política fiscal, nem de comunicação, nem de qualquer coisa.” Ele também disse que, “na política monetária, estamos na direção”, e que tem total autonomia.
O futuro presidente do BC ainda teve que ouvir mais queixas do dono da Cosan, um dos maiores empresários do país, sobre as taxas de juros. Ometto finalizou dizendo que empresas que pagam as elevadas taxas de juros do Brasil acabarão precisando repassar custos para os preços, sob pena de quebrarem, e que isso alimentará ainda mais a inflação.
O presidente do conselho do BTG Pactual, André Esteves, buscou contemporizar, na sequência. “É muito injusto cobrar do BC a gestão da política fiscal”, afirmou, sentado ao lado de Joesley Batista, do conselho da JBS.