São Paulo, 23/04/2025 – O Ibovespa encerrou com avanço nesta quarta-feira, em linha com índices acionários de Wall Street, embora os mercados tenham arrefecido ganhos, após o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, negar que tenha havido oferta unilateral dos americanos para reduzir as tarifas impostas à China, conforme noticiado antes pelo Wall Street Journal.
O Ibovespa fechou com ganhos de 1,34%, com destaque para as ações da JBS, após empresa agendar assembleia sobre listagem nos EUA. Os índices Dow Jones, S&P500 e Nasdaq 100 encerraram em altas de 1,07%, 1,67% e 2,50%, respectivamente.
Ao fim do dia, as Treasuries yields de dois anos operavam em alta de 4,0 pontos-base, a 3,861% e as de dez anos cediam 1,4 pbs, a 4,387%. Mais cedo, Tesouro dos EUA colocou US$70 bilhões em leilão de Notes de cinco anos, com taxa de corte em 3,995%.
Entre idas e vindas no noticiário sobre a ‘guerra’ comercial ao longo das últimas 24 horas, os operadores optaram por arrefecer os ganhos na sessão, no início da tarde, após Bessent ter dito não possuir prazo para o início de negociações com a China – e que o impasse tarifário precisa “desescalar” para que as discussões comecem.
Bessent também disse que um acordo comercial completo com a China pode levar de dois a três anos para ser concluído. Mais cedo, os índices aceleraram os ganhos após o Wall Street Journal reportar, citando fontes, que governo dos EUA considerava reduzir as tarifas sobre a China para um intervalo entre 50% e 65%.
Na véspera, Trump havia afirmado que as alíquotas atualmente impostas à China, de 145%, eram “muito altas”, e que elas recuariam substancialmente. A narrativa de desescalada no conflito comercial favoreceu o apetite ao risco nos mercados acionários globais.
Parte do alívio dos mercados tambem ocorreu após Trump afirmar, na véspera, que “não tem intenção” de demitir o chair do Federal Reserve, Jerome Powell, cujo mandato termina em maio de 2026. De acordo com Washington Post, a mudança retórica de Trump, após dias de duros ataques ao chair do Fed, levou em conta o lobby de alguns de seus principais conselheiros, como Bessent, e o secretário do Comércio, Howard Lutnick.
Entre as ações, destaque para Tesla, que subiu 5,36% na Nasdaq, com o CEO da companhia, Elon Musk, afirmando em conferência de resultados que passará a alocar mais tempo à montadora a partir de maio, reduzindo dedicação ao Departamento de Eficiência Governamental (DOGE). De acordo com Musk, seu trabalho no DOGE estará “quase concluído”.
A fala de Musk é vista sob viés positivo por acionistas da Tesla, que relatavam preocupações com a menor atenção de Musk à empresa nos últimos meses. Em nota, analistas da Wedbush avaliaram que a saída de Musk do DOGE é vista como fim de “capítulo sombrio” para a companhia, e que o retorno do bilionário à gestão é uma saída aos danos à marca vistos nos últimos meses.
Apesar dos resultados da Tesla virem abaixo do consenso – no pior trimestre em anos – analistas do Morgan Stanley seguiram com recomendação de “compra”, com preço-alvo em US$410, citando que a companhia gerou fluxo de caixa positivo no período e que o timing para lançamento de produtos derivados de Inteligência Artificial foi reiterado, constituindo um “alívio”.
O Livro Bege do Federal Reserve apontou que a atividade econômica dos EUA apresentou pouca mudança em abril desde o relatório de março, com a incerteza afetando políticas comerciais internacionais de todos os distritos. O relatório também apontou que distritos consultados observaram um aumento dos preços, em razão das empresas anteciparem custos maiores devido às tarifas por meio de repasse aos clientes.
Também de acordo com o Livro Bege, as perspectivas econômicas pioraram devido à incerteza, especialmente sobre as tarifas. Operadores aguardam, agora, falas do presidente dos EUA, Donald Trump, às 18h00 – monitorando potenciais anúncios em torno da política comercial.
BRASIL
O Ibovespa encerrou em alta de 1,34%, aos 132.216 pontos, em linha com o movimento dos mercados globais, e impulsionado pelas ações da JBS, que subiam após aprovação da SEC no processo de listagem das ações em Nova York.
O volume de negociação da sessão foi de R$18,1 bilhões, acima da média dos últimos 50 pregões, de R$17,5 bilhões.
Os vértices da curva de juros fecharam em firme queda, recuando até 23,5 pontos-base, com o mercado reagindo a declarações do diretor de Política Monetária do Banco Central, Nilton David.
O dólar futuro operava, ao fim do dia, em queda de 0,14%, cotado a R$5,722 – enquanto o índice Dólar DXY, que mede o desempenho da divisa americana ante uma cesta de moedas – subia 0,21%, aos 99,85 pontos.
Em evento com investidores promovido pelo JP Morgan, Nilton David disse que toda a incerteza causada pela política tarifária de Trump tem um efeito de desaceleração na economia mundial, podendo ajudar a arrefecer a atividade no Brasil, que segue crescendo acima do potencial.
David tambem ressaltou que o BC persegue a meta e que, apesar da inflação implícita ter recuado, os preços permanecem “teimosamente” altos. Ao abordar o futuro da política monetária, o diretor David disse claramente que o ciclo não acabou e que, sobre as próximas decisões, o Copom “vai aprender à medida que caminha”.
No noticiário corporativo, JBS renovou máximas históricas com aprovação da SEC – órgão regulador do mercado de capitais dos Estados Unidos – em processo de listagem na NYSE. O conselho aprovou convocar acionistas para assembleia geral extraordinária (AGE) em 23 de maio, para discutir o plano de dupla listagem das ações. Se aprovada a operação, será distribuído um dividendo de R$1 por ação.
Ao fim da sessão, as principais contribuidoras da sessão foram as PN do Itaú, as ON da JBS e da Vale, que avançaram 2,10%, 6,38% e 1,19%, respectivamente.
Os papéis ON da JBS, as PNA da Usiminas e as ON da CVC, lideraram entre as altas percentuais, subindo 6,38%, 6,30% e 5,91%, na mesma ordem.
Na ponta negativa, destaque para as ON da Cogna, da Magazine Luiza e da Yduqs, que recuaram 8,08%, 5,92% e 5,50%, nesta ordem.
💹 COMMODITIES
No mercado de commodities, os futuros do petróleo Brent aceleraram queda, e recuavam 1,87%, aos US$66,18 por barril, ao final da tarde. depois que fontes disseram à Reuters que vários países da Opep+ avaliam acelerar aumentos de produção de petróleo a partir de junho.
Uma decisão da Opep+ nesse sentido poderia ser tomada em reunião em maio. Mais cedo, os preços passaram a cair após ministro de Energia do Cazaquistão defender priorização de “interesses do país antes dos da Opep”, sinalizando manter oferta acima da cota definida pelo cartel para o país.
Operadores também repercutiram o aumento dos estoques de petróleo bruto dos EUA, enquanto os estoques de gasolina e destilados registraram quedas maiores que o esperado na semana passada, informou a Administração de Informação de Energia (EIA).
Os preços futuros do minério de ferro encerraram em alta de 2,11% na última madrugada em Dalian com os possíveis avanços nas negociações entre Estados Unidos e China sobre tarifas melhorando a percepção dos investidores.
Ontem, após Trump reiterar intenção de fechar acordo com a China, falando em potencial redução de tarifas, um porta-voz do Ministério de Relações com Exteriores chinês disse que, se americanos quiserem resolver questões tarifárias no diálogo e negociação, haverá portas abertas.
(LB + GP | Edição: Luciano Costa | Comentários: equipemover@tc.com.br)