São Paulo, 09/04/2025 – Os índices acionários de Wall Street viveram um rali nesta quarta-feira, em sessão histórica, a melhor em anos, após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, suspender por 90 dias tarifas recíprocas sobre países que não retaliaram os EUA depois do “Dia da Libertação”, em 2 de abril, enquanto escalou guerra comercial contra a China, elevando para 125% a alíquota do país, que revidou as taxas mais cedo.
Os índices Dow Jones, S&P500 e Nasdaq 100 fecharam em altas de 7,87%, 9,52% e 12,16%, respectivamente. O S&P500 registrou o maior ganho diário desde 2008. Já o Nasdaq Composto teve o maior percentual de ganhos desde 2001, seu segundo melhor dia de ganhos da história. No Brasil, o Índice Bovespa encerrou com avanço de 3,12%, aos 127.795 pontos, maior ganho em dois anos, acompanhando o movimento nos EUA.
Ao fim da sessão, as Treasuries yields de dois anos avançavam 19 pbs, a 3,920%, enquanto as de dez anos subiam 5,8 pbs, a 4,345%. Mais cedo, em leilão, Tesouro dos EUA viu sólida demanda por Treasuries notes de dez anos. Colocou US$39 bilhões, com taxa de corte em 4,435% – abaixo da vista antes do certame, de 4,465%.
O movimento de alta nos rendimentos curtos dos yields tambem se deu com os investidores reduzindo expectativas de cortes nas taxas de juros do Federal Reserve este ano, em meio ao leve alívio nas preocupações com a economia dos EUA. O Goldman retirou projeção de recessão após Trump recuar nas tarifas.
Trump redefiniu as expectativas do mercado ao publicar em sua rede Truth Social, às 14h18, que estava interrompendo a imposição de tarifas recíprocas a países que não retaliaram os EUA por 90 dias, e que apenas seria cobrada destes a alíquota básica de 10%.
Para a China, por outro lado, Trump aumentou a alíquota sobre bens importados a 125%, ante 104% anunciados na véspera. No início da manhã, o país asiático anunciou elevação das alíquotas retaliatórias aos EUA a 84%.
Ao fim da tarde, Trump avaliou que “as pessoas estavam saindo um pouco da linha”, quando questionado sobre a decisão de pausar a imposição de tarifas recíprocas por 90 dias. No entanto, o republicano pontuou que “nada acabou ainda” sobre o tópico de tarifas, e reiterou que um “acordo poderia ser alcançado com a China”.
Trump também afirmou que estará olhando para possíveis pedidos de isenções de tarifas por companhias americanas que são altamente dependentes de cadeias globais de produção. “É preciso ter flexibilidade. Você precisa ser capaz de mostrar flexibilidade. Eu sou capaz.”
Em comentários separados, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, pontuou que a pausa na imposição de tarifas recíprocas não se deu em razão da reação dos mercados. “Há uma pausa de 90 dias porque Trump quer estar envolvido. A pausa dá tempo para negociação”, explicou.
Também de acordo com Bessent, o mercado “não entendeu” o nível máximo de tarifas impostas por Trump. Ele também disse que “tudo está sobre a mesa” ao se tratar de negociações das tarifas. “Não estou chamando isso de guerra comercial, mas a China escalou (o conflito)”, disse.
A aceleração significativa vista nos mercados acionários ocorreu poucas horas depois de Trump ter pedido calma aos investidores, pontuando ser “um bom momento para se comprar”. Ele sofria pressão de líderes empresariais e da indústria financeira, como Bill Ackman, para pausar a imposição de tarifas. Ackman agradeceu a Trump após a decisão de pausa.
Nos mercados, o Goldman Sachs deixou de projetar recessão para os EUA após Trump pausar a imposição de tarifas recíprocas por 90 dias. “Hoje mais cedo, antes do anúncio do presidente Trump, havíamos mudado para uma previsão de recessão em resposta às tarifas adicionais específicas para cada país que entraram em vigor nesta manhã”, afirmaram os analistas do Goldman.
IBOVESPA
O Índice Bovespa encerrou com avanço de 3,12%, aos 127.795 pontos, registrando a maior alta diária desde abril de 2023. O volume foi de R$27,5 bilhões, acima da média dos últimos 50 pregões, de R$16,8 bilhões.
Os vértices ao longo da curva de juros encerraram em alta de até 9,0 pontos-base, em linha com os rendimentos dos yields americanos.
Ao fim da tarde, o dólar futuro operava em queda de 2,88%, cotado a R$5,863 com o real apresentando o segundo melhor desempenho ante o dólar em uma cesta de 23 divisas acompanhadas pela Mover. O índice Dólar DXY subia 0,22%, aos 103,13 pontos.
Antes do tumulto causado por Trump nos mercados, operadores avaliavam dados de vendas no varejo divulgados pela manhã. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) reportou avanço mensal de 0,5% em fevereiro, em linha com consenso, e de 1,5% ano a ano, levemente abaixo do esperado, de alta de 1,60%.
O índice varejista voltou a crescer após uma série de quatro meses de variações muito próximas de zero, consideradas como estabilidade. Quatro das oito atividades analisadas pelo IBGE avançaram em fevereiro deste ano. Dentre elas, destaques para setores de hiper e supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo e de Móveis e eletrodomésticos.
Investidores tambem avaliam os dados de inflação ao produtor. Em fevereiro, os preços da indústria mostraram deflação mensal de 0,12%, após 12 resultados positivos seguidos. Nessa comparação, 12 das 24 atividades industriais tiveram diminuição de preços. No acumulado do ano, a variação ficou em 0,03%, e no acumulado em 12 meses ficou em 9,41%, abaixo das expectativas do mercado, de 9,69%.
Ao fim da sessão, as principais contribuidoras da sessão foram as ON da Vale, as PN da Petrobras e do Itaú, que avançaram 5,39%, 4,06% e 1,83%, respectivamente.
Os papéis ON do GPA, da Cogna e da Magazine Luiza, lideraram entre as altas percentuais, subindo 18,89%, 11,94% e 11,28%, na mesma ordem.
Em uma sessão amplamente positiva, nenhuma das ações que compõem o Ibovespa encerram no campo negativo.
Nos mercados de commodities, futuros do petróleo Brent para entrega em junho disparavam 4,22% ao fim do dia, a US$65,47 por barril, revertendo o forte movimento de queda superior a 6% no início da manhã, quando atingiu mínimas desde 2021. Os futuros da commodity revertem queda com a melhora dos sentimentos após a pausa nas tarifas dos EUA.
Os futuros do minério de ferro registraram forte queda de 2,68% na bolsa de Dalian na última madrugada, ainda pressionados pelo cenário de incerteza no comércio global após a aplicação pelos EUA de tarifas de importação contra a China e consequente retaliação dos asiáticos.
(LB + GP | Edição: Luciano Costa | Comentários: equipemover@tc.com.br)