Por: Márcio Aith
Não é piada não. O Senado quer estender subsídios para carros à combustão fabricados no Nordeste, no âmbito da Reforma Tributária. Sim. À combustão. Que emitem poluentes. Quer premiar suas montadoras. Enquanto isso, vejam só, o governo brasileiro já decidiu retomar o imposto de importação para carros elétricos, híbridos e híbridos plug-in, já a partir de janeiro de 2024.
Ou seja: o Brasil estimula o atraso.
O setor automobilístico brasileiro vive um drama real e existencial. Real pelo desastre econômico e pandêmico que fez com que mais de dez montadoras fechassem fábricas ou deixassem o país na última década. Afinal, o Brasil nunca soube dimensionar sua demanda interna, inserir-se na cadeia global de produção nem ofereceu a seus consumidores carros verdadeiramente de qualidade.
Só que o problema agora virou um dilema. Agora sabe-se que, para além de não solucionar graves crises de sua cadeia automotiva tradicional, o Brasil insiste em estimular a poluição enquanto pune o futuro.
O tributo sobre os elétricos, segundo o governo, pretende atrair a instalação de fábricas estrangeiras. De fato, começam em breve a ser produzidos em Camaçari os BYD Dolphin, carros elétricos urbanos chineses que, lançados no país no final de junho, já bateram recordes de emplacamentos, se tornando os mais vendidos.
Mas não se encante. Não é por causa da volta do tributo sobre os elétricos que os chineses vieram. É um fenômeno normal de mercado. O mais provável é que, com a volta do imposto de importação, o país afaste nossos consumidores das melhores e mais limpas tecnologias.