Por Marcio Aith*
André Fufuca (PP-MA), deputado do centrão convidado pelo presidente Lula para o Ministério do Esporte “em nome da governabilidade”, é mais um cupim que o governo traz para seu palácio de madeira.
Outro que chega com Fufuca é o deputado Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), que ganhará o Ministério dos Portos. Ambos pertencem a partidos de oposição. Ao ingressarem no ministério, vão, em tese, assegurar a base de apoio do governo no Congresso.
Mas por que comparar Fufuca e Costa a cupins? Não é nada pessoal. É que não pertencem a esse governo. São incompatíveis com o petismo, ideológica, prática e teoricamente.
Vamos começar por Fufuca. O jovem deputado está para o Ministério do Esporte de Lula assim como Márcio Pochmann para o comando da economia de Jair Bolsonaro. Em suma, são como água e óleo.
Em 17 de abril de 2016, Fufuca votou pela abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Em 14 de junho daquele mesmo ano, votou contra a cassação do deputado federal Eduardo Cunha no Comitê de Ética da Câmara dos Deputados (a foto que acompanha a coluna vale mais do que mil palavras). Fufuca ainda votou a favor de dois projetos demonizados pelo PT: a PEC do Teto de Gastos e a Reforma Trabalhista.
E quanto ao deputado Costa Filho? Fez acenos ao ex-presidente Jair Bolsonaro, elogiou as medidas econômicas do então ministro da Economia, Paulo Guedes. Votou ainda a favor de quase todos os projetos combatidos pelo PT, entre os quais a liberação de armas no campo e o homeschooling (educação domiciliar)
É natural que Presidentes e Primeiro-Ministros construam alianças com outros partidos, oferecendo cargos para assegurar maioria no parlamento. No Brasil, deu-se a essa prática o nome de presidencialismo de coalizão. Desde a redemocratização, os únicos presidentes que tentaram contrariar o Congresso, ou por ele foram contrariados, sofreram impeachment: Fernando Collor de Mello e Dilma Rousseff.
Alguém poderia perguntar: ué, mas então não é melhor trocar cargos por votos para não sofrer impeachment? Depende. Embora seja sempre melhor negociar, acordos deveriam ser feitos de forma programática, com base em pontos de identidade e fins coletivos comuns.
Não há sentido em simplesmente entregar ministérios vitais ao País nas mãos de adversários que remam em direção contrária à do governo. O nome disso é fisiologismo. É danoso à população e recria a política do toma-lá-dá-cá.
No fim, causa impeachment do mesmo jeito.
Eu ousaria chamar essa política fisiológica de “Oportunismo de Coalizão”. Ou por que não, na ótica do governo, “Suicídio por Coalizão”? A coisa funciona assim: a oposição é diariamente estimulada a criar mais dificuldades para ganhar mais ministérios ou cargos em estatais e bancos oficiais (a Caixa Econômica Federal será a próxima jóia que Lula dará ao centrão).
Com isso, o governo, vai acomodando cada vez mais exigências, com o objetivo de bajular o Congresso. Isso destrói as políticas públicas prometidas na campanha, como cupins com a madeira.
É um saco sem fundo.
O caso de Fufuca é emblemático. Mesmo com seu perfil “fisio” e ideológico, Lula vai levá-lo ao Ministério. Inicialmente, cogitou-se a pasta do Desenvolvimento Social, tão caro ao PT. Mas Lula desistiu. Empurrou Fufuca para exercitar-se no Esporte. Em outras palavras, Lula tenta nos convencer que não vendeu sua alma ao diabo. Vendeu, apenas, todo o resto.
O PT, é sempre bom lembrar, sempre se considerou o partido mais ético na construção de alianças, mesmo depois do estouro do mensalão, em 2006. Fazendo uma simples busca na internet, encontrei uma declaração feita em 2008 pelo atual deputado federal e então ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome de Lula, Patrus Ananias (PT-MG).
“Alianças devem ser alianças programáticas, com um debate que preceda a sua formação. Se nós temos diferenças, é importante esclarecermos a população por que estamos fazendo aliança, em torno de que objetivos, de que princípios, de que valores e de quais compromissos com a sociedade.”
Patrus foi além. Disse que a união de partidos políticos que militam em campos opostos não pode “escamotear diferenças e projetos diferentes”. Ou seja, alianças entre partidos que defendem bandeiras opostas não podem ser feitas para ocultar um comércio espúrio entre cargos no governo e votos no Congresso.
Sobre o mesmo tema desta coluna, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fez um inesperado desabafo, em entrevista ao programa Reconversa, uma parceria entre o jornalista Reinaldo Azevedo e o advogado Walfrido Warde.
Disse Haddad: “A gente saiu daquilo que nossos colegas chamam de presidencialismo de coalizão, e hoje a gente vive uma coisa estranhíssima, que é uma espécie de parlamentarismo sem primeiro-ministro. Ninguém vai cair, sabe. Mas o Executivo está lá. Quem vai pagar o pato político é o Executivo… A Câmara está com um poder muito grande, e ela não pode usar esse poder para humilhar o Senado e o Executivo. Mas, de fato, ela está com um poder que eu nunca vi na minha vida. Passei nove anos em Brasília – do primeiro e segundo governos de Lula e no primeiro da Dilma – e nunca vi nada parecido.”
Arthur Lira, padrinho de Fufuca e poderoso presidente da Câmara, ficou possesso com as declarações de Haddad. Foi preciso uma visita de Lula à residência oficial de Lira para que as desculpas fossem aceitas. O gesto humilde de Lula apenas confirma o que Haddad havia dito: a Câmara está com um poder inédito.
A quem interessar, uma explicação vinda do site da Syngenta, empresa líder no segmento agrícola: “O controle de cupins costuma ser trabalhoso, já que esses insetos podem construir ninhos em grandes áreas de difícil acesso e estabelecer colônias com milhões de indivíduos. Nas zonas urbanas, infestam prédios, praças e jardins. Nas residências, causam prejuízos em bens de consumo duráveis, como móveis, livros e estruturas de madeira. Infestações de cupins em locais que guardam acervos históricos, por exemplo, podem resultar em danos irreversíveis a peças de valor inestimável”.
*As opiniões dos colunistas do FLJ não refletem a posição do veículo.