Por Luciano Costa
Desde que mudou de comando, agora sob o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Petrobras tem deixado claro que buscará investir em negócios ligados à chamada transição energética, em sinalizações que começam a gerar um nó na cabeça de investidores e analistas.
Se não bastasse a dificuldade de se precificar os riscos políticos que gravitam em torno de políticas de preços e de dividendos da estatal, ainda será uma missão impossível tentar estimar os retornos de investimentos em parques eólicos no mar, conhecidos como usinas “offshore”, e projetos de hidrogênio verde, por exemplo. Essas atividades não são regulamentadas e a eficiência desses projetos é altamente nebulosa.
Embora seja visto como fonte energética com enorme potencial global, o hidrogênio verde ainda não é produzido em escala comercial, com viabilidade financeira. Usinas eólicas offshore, por sua vez, são uma realidade na Europa e começam a ser construídas na China e nos Estados Unidos, mas o Brasil sequer tem uma regulamentação para investimentos na tecnologia.
Entre especialistas do setor elétrico, há até mesmo dúvidas sobre se haveria necessidade de o Brasil desenvolver geração eólica no mar em algum momento, pelo menos no curto e médio prazos, dada a enorme disponibilidade de terras no país para usinas tradicionais dessa fonte, bem mais baratas.
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, disse em videoconferências com investidores e jornalistas neste mês que a companhia não irá se precipitar nos negócios em hidrogênio, avançando com cautela até por essa ser uma indústria ainda incipiente e que provavelmente demandará algum tipo de apoio estatal em seu início.
Em energia eólica offshore, no entanto, a Petrobras deu sua largada ontem, ao ampliar um acordo de cooperação técnica com a norueguesa Equinor. As empresas agora preveem estudos sobre potenciais projetos que poderiam somar até 14,5 gigawatts em capacidade — praticamente a mesma potência instalada da hidrelétrica binacional de Itaipu, segunda maior do mundo.
Com os primeiros passos da Petrobras em sua estratégia de diversificação, analistas de bancos de investimentos começam a se fazer algumas perguntas:
Como avaliar o valor de uma companhia que investirá em negócios que ainda não existem no Brasil e não estão regulamentados pelo governo?
Como estimar riscos para a Petrobras com a entrada nesses novos mercados, que potencialmente exigirão subsídios antes que se tornem negócios sustentáveis?
Hoje, o custo estimado de implementação de um parque eólico comum é de cerca de R$6 milhões por megawatt em capacidade instalada. Em usinas offshore estima-se que esse valor poderia quase triplicar, para R$17,4 milhões por MW, levando em conta projetos hoje em construção no Reino Unido.
Além de exigirem mais investimentos, as eólicas offshore são projetos de grande porte, com enorme capacidade de produção. Esse será outro desafio para os planos da Petrobras na tecnologia, dado que há praticamente um consenso entre técnicos de que o Brasil enfrenta sobras de energia, pelo menos no curto prazo.
Após dois verões seguidos de chuvas abundantes nas hidrelétricas e com uma economia que não decolou para impulsionar a demanda, os reservatórios estão cheios, derrubando os preços no mercado de energia aos menores níveis em anos.
Atualmente, diversas companhias de geração, incluindo as listadas Engie e Alupar, estão suspendendo investimentos em novos projetos devido ao cenário de retração nos preços e incertezas sobre a demanda.
Diante dessa conjuntura, como a Petrobras poderia conseguir retornos investindo em uma fonte de energia que exige mais recursos e demandaria maiores preços de energia para ser viável?
Outro ponto polêmico: há um temor, já manifestado em reservado por alguns investidores, de que o governo utilize o controle acionário que detém na Petrobras para avançar em indústrias “verdes”, como hidrogênio e energia eólica offshore, sem gerar pressões inflacionárias ou aumentos na conta de luz.
No passado, a antes estatal Eletrobras acabou obrigada pelo governo a construir projetos com o que o centro privado de estudos Acende Brasil qualificou como “taxas patrióticas de retorno”. Esse risco existe para a Petrobras?
Prates disse a investidores, analistas e jornalistas na semana passada que a estatal manterá o foco na exploração e produção de petróleo, com os novos negócios em transição energética respondendo por no máximo 25% dos investimentos no curto prazo.
Mas como calcular o “valuation” dessa “nova Petrobras” sem saber o que será de um quarto de suas operações no futuro? Missão impossível.
*O conteúdo da coluna é de responsabilidade do colunista e não reflete o posicionamento do FLJ