Por Marcio Aith
Em janeiro de 2021, a montadora de automóveis Ford decidiu transferir suas fábricas do Brasil para a Argentina. Os motivos alegados foram o ambiente econômico desfavorável no Brasil e a pressão adicional causada pela pandemia. No mercado, ninguém acreditou. O que se dizia era outra coisa. Da Argentina, a empresa continuaria gozando dos benefícios do Mercosul para suprir seu maior mercado consumidor, justamente o Brasil, enquanto passaria a beneficiar-se de duas marotas operações de arbitragem: entre o dólar oficial brasileiro e o “dólar blue” argentino; e entre alíquotas mais baixas do Imposto de Importação argentino. Só que o cenário mudou…
MILEI, O ACIDENTE QUE NÃO ESTAVA NOS PLANOS
O slogan “Ford vai mais longe” pode não se aplicar ao momento. Uma possível vitória de Javier Milei para a Presidência Argentina destruiria todos os benefícios reais que levaram a Ford à Argentina. O fim do Mercosul, por exemplo, acabaria com a estratégia da empresa de beneficiar-se das idiossincrasias de um mercado volátil para suprir seu principal mercado consumidor, onde fechou fábricas. Depois, a dolarização da economia argentina, outra proposta de Milei, acabaria com a arbitragem com dólar, feita pela montadora. Ao final do processo, os carros da Ford chegariam ao Brasil a preços bem maiores.
O TEMOR DO GOVERNO BRASILEIRO
O governo brasileiro não solta uma lágrima pela Ford. Mas teme muito uma possível saída da Argentina do Mercosul. Isso porque mudaria a lógica de livre comércio que prevalece hoje, inclusive com forte integração da cadeia produtiva do setor automotivo, que responde por quase metade do comércio bilateral.