Por Oscar Decotelli
Dentro da América Latina, cada país se destaca por suas especificidades. Com vantagens competitivas que envolvem desde reservas de petróleo, lítio, e cobre, até a abundância de outros recursos naturais e fatores de produção privilegiados, a região se encontra bastante alinhada com as necessidades de investimento global – especialmente no que se refere aos principais pilares da conjuntura econômica, energia e agronegócio.
Com potencial para se tornar a maior produtora de energia sustentável do mundo e com mais de 15% da capacidade mundial de sequestrar carbono, não há dúvidas de que a região tem o que é preciso para se beneficiar da corrente “Revolução Verde”. No entanto, nos últimos meses, determinados países da América Latina (que atualmente representam 16% do total das exportações de alimentos e produtos agrícolas) têm estado no holofote devido à impressionante performance do agronegócio. O Brasil, por exemplo, apresentou o quarto maior aumento do PIB entre as 50 maiores economias no primeiro trimestre, onde o resultado para o período foi impulsionado pelo agro. O setor, que registrou um aumento de quase 22% em comparação com o trimestre anterior, demonstrou o maior crescimento nesse tipo de comparação desde 1996.
Certamente, os diferenciais competitivos de um país viabilizam performances ímpares de determinados setores, e, portanto, são capazes de semear um ambiente de oportunidades promissoras. Isso pode ser facilmente tangibilizado no caso do agronegócio brasileiro: a combinação de fatores como o clima favorável para o crescimento de determinados alimentos, a extensão territorial adequada para o plantio, a diversidade biológica abundante e o conhecimento especializado dos agricultores contribuem para posicionar o Brasil como um dos líderes globais na indústria agropecuária. A nação, portanto, como o terceiro maior exportador mundial de produtos agrícolas, exerce papel fundamental na garantia de segurança alimentar para a crescente população global, e busca, cada vez mais, atender a correspondente demanda por produtos derivados da agropecuária.
No entanto, para que o país exerça seu potencial de forma completa, se mostra necessária a superação de diversos desafios, como a escassez de crédito rural, impasses logísticos, e ganhos de produtividade. Com isso, surgem empreendimentos, que, por meio de tecnologia e inovação, se propõem a resolver tais gargalos e prosperar junto à potencialização do setor. Essas empresas, que nesse caso são conhecidas como agtechs, experimentaram um aumento de 240% em sua representatividade nos investimentos durante o ano de 2022, em comparação com 2021.
Nesse cenário, o ecossistema do agronegócio brasileiro está sendo observado com bastante atenção por parte dos players de investimentos privados, que também buscam se beneficiar do momento relativamente favorável que o contexto global proporciona para a região e o país. A título de exemplo, isso pode ser ratificado pelos aportes recebidos por startups como AgroLend, AgroTools, Terra Magna, Re.green, entre outras, e a formação de diversos novos fundos focados em alocações no segmento.
Por outro lado, em um âmbito macro, adaptações na conjuntura global (como, por exemplo, mudanças econômicas estruturais, a tendência de desglobalização e nearshoring, e a redução de países emergentes investíveis ao redor do mundo – principalmente após a saída da Turquia, Rússia, e, cada vez mais, China, desse eixo) são apenas alguns fatores que também corroboram com a maior atratividade da América Latina e evidenciam novas brechas para investidores que buscam explorar o potencial de crescimento e inovação tecnológica na região.
Por fim, cabe salientar que, em meio a esse cenário, a América Latina deve começar, em um futuro próximo, a colher efetivamente os frutos de um aperto monetário antecipado. Assim, espera-se que um panorama macroeconômico mais estável e a queda das taxas de juros possibilitem um maior potencial para o investimento privado na região: se, por um lado, os investidores estarão mais inclinados a alocar recursos em ativos mais arriscados, por outro, como mencionado, a América Latina está muito bem posicionada para capitalizar as novas oportunidades estruturais no cenário global. Além disso, a redução do custo do crédito e valuations atraentes, especialmente de empresas que conseguiram superar ambientes desafiadores e comprovaram seu potencial de mercado, também contribuem para uma perspectiva positiva do investimento privado na região.
Sob essa ótica, é bastante interessante observar a evolução e desenvolvimento de determinados setores da América Latina, bem como seu notável potencial, mesmo em um cenário marcado por incertezas – que também conta com esforços rigorosos do Federal Reserve para apertar a política monetária e com a ameaça iminente de uma recessão nos Estados Unidos. Mesmo assim, seguindo sua atual trajetória e sem maiores empecilhos, fica claro que a região tem o que é preciso para ir de encontro com as expectativas futuras positivas do mercado.