
Brasília, 27/10/2025 – A vitória do partido do presidente da Argentina, Javier Milei, nas eleições de meio de mandato deste domingo, desencadeou um rali histórico dos ativos locais na manhã desta segunda-feira. O resultado surpreendeu os mercados financeiros e levou diversos analistas a retomarem o otimismo com ações no país.
O triunfo “veio justamente enquanto alguns já escreviam o obituário político” de Milei, comentou o colunista da Bloomberg, Juan Pablo Spinetto, ao explicar a reação entusiasmada dos investidores.
O ETF Global X MSCI Argertina (ARGT) disparava mais de 20% na abertura do pregão na NYSE após o partido de Milei, “La Libertad Avanza”, ter recebido 41% dos votos. A eleição ocorreu sob pessimismo com as chances do presidente, em meio a políticas de austeridade que, embora bem recebidas no mercado, geravam naturais reações da oposição política, liderada pelos tradicionais peronistas, e dos segmentos da população afetados por cortes de subsídios e gastos.
O resultado também constituiu vitória simbólica ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e seu secretário do Tesouro, Scott Bessent, após uma intervenção econômica pouco usual dos americanos no país, em apoio a Milei. A expectativa de Washington é que o pleito conceda um “respiro” à agenda reformista do líder latino-americano a partir da segunda metade do seu mandato de quatro anos.
O peso argentino disparava cerca de 10% na manhã desta segunda, a 1.341 por dólar, estancando uma forte depreciação vista anteriormente, após desvalorizar-se cerca de 21% em quatro meses até o dia 24.
O trunfo nas eleições de meio de mandato deste domingo representou uma vitória acachapante e surpreendente para Milei – a oposição obteve cerca de 32% dos votos, no que Trump descreveu como “uma lavada”.
O pleito ocorreu enquanto Milei enfrentava o momento mais turbulento de sua presidência – que culminou com uma intervenção emergencial pouco usual dos EUA, capitaneada por Bessent, para estancar uma significativa depreciação do peso argentino ante o dólar. Anteriormente, a Gavekal avaliou ser “muito melhor” para os EUA que Milei se provasse um “sucesso”, em meio ao apoio ideológico dos americanos à Argentina.
A vitória de Milei, no domingo, também representa uma forte recuperação do seu partido em relação ao fraco desempenho do governo em uma votação local da província de Buenos Aires, em setembro, quando sofreu uma derrota esmagadora para a oposição peronista, desencadeando uma aversão ao risco significativa, que pressionou o câmbio, mercados acionários e bonds locais.
Em seu discurso de vitória, Milei prometeu o Congresso “mais reformista” da história da Argentina. Ele também disse ter obtido o apoio de 101 membros da Câmara e 20 senadores com o resultado das eleições de meio de mandato – constituindo base sólida para perseguir sua agenda reformista. As eleições deste domingo renovavam metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado.
“Um desempenho melhor que o esperado de ‘La Libertad Avanza” em relação ao cenário-base deveria impulsionar um rali significativo dos ativos argentinos”, escreveram analistas do BTG Pactual na sexta-feira, quando atribuíram baixa probabilidade de uma vitória avassaladora do partido de Milei no pleito eleitoral. O cenário-base do BTG era de um empate entre os partidos, com ‘La Libertad Avanza’ alcançando cerca de 35% dos votos.
A vitória do líder argentino também é um trunfo para Trump e Bessent, escreveu o CEO da Pershing Square, Bill Ackman, no “X”.
“A percepção de que um líder tem o apoio de Trump vale milhões de votos. Uma importante vitória para a democracia, capitalismo e sanidade, e uma derrota para o socialismo”, afirmou Ackman – o vocal investidor ativista que pressionou Trump contra as tarifas recíprocas no início deste ano.
Trump, por sua vez, comemorou os resultados, e ainda disse que estes renderam “muito dinheiro” para os americanos. Desde setembro, os EUA adotaram um conjunto de ferramentas que iam desde a materialização de um acordo de linha de swap cambial de US$20 bilhões, até a compra direta de pesos argentinos antes da votação, para sustentar o câmbio local, em uma aposta ideológica no governo de Milei na América Latina.
Segundo a Bloomberg, citando operadores, os EUA gastaram um montante bem superior a US$1 bilhão adquirindo pesos argentinos – uma aposta que rendeu frutos diante da forte valorização do peso argentino na sessão.
De acordo com Juan Pablo Spinetto, da Bloomberg, a vitória de Milei também sublinha a necessidade “urgente” de o peronismo se reformar – aceitar um mínimo de regras de mercado e racionalidade econômica – sob pena de se tornar ainda mais irrelevante no país.