Faria Lima Journal no fim de semana

"Bolsismo" de Lula e as preocupações internas no governo; a estratégia de Xi contra Trump; OpenAI quer substituir banqueiros juniores; a chegada das bolsas 24h; e a queda das ações de "dates"

"Bolsismo" de Lula e as preocupações internas no governo; a estratégia de Xi contra Trump; OpenAI quer substituir banqueiros juniores; a chegada das bolsas 24h; e a queda das ações de "dates"

FARIA LIMA JOURNAL
NO FIM DE SEMANA

 

>> O boletim Faria Lima Journal no Fim de Semana, do portal Faria Lima Journal e da agência de notícias Mover, traz uma seleção de conteúdos e leituras para investidores dispostos a gastar algum tempo no sábado e domingo para leituras mais aprofundadas de boas histórias e materiais informativos.

 

Lula acelera aposta em “bolsismo” e gera preocupações até dentro do governo, revela Bloomberg

 

 

O presidente Lula tem reforçado aposta em ampliações de gastos e programas sociais, como Pé de Meia, Vale Gás e Tarifa Social de Energia, em medidas que até alguns integrantes da equipe econômica já chamam “há tempos”, de “bolsismo”, revelou reportagem da Bloomberg que cita fontes internas do governo.

Além das medidas já anunciadas, Lula sinaliza com novas, como universalização de tarifa zero no transporte público, uso do Tesouro Nacional e bancos públicos par ajudar os Correios, e retirada de investimentos com Forças Armadas das regras do arcabouço fiscal, essa última já aprovada na Câmara e Senado.

“Não era novidade para ninguém que esse seria o modo em que Lula entraria às vésperas de 2026. Isso não quer dizer que não estejam chegando ao Planalto preocupações internas sobre o riscos de o governo deixar a situação fiscal tão desancorada a partir de 2027“, aponta a reportagem da Bloomberg.

“Só o que se pode dizer, segundo alguns técnicos, é que as inconsistências estão cada dia maiores e que o arcabouço não comporta as sinalizações dadas pelo presidente caso seja reeleito”, acrescenta a reportagem, atribuindo as informações a fontes internas do governo.

 

Nova estratégia da China para Trump é bater forte, conceder pouco, avalia WSJ

 

Xi Jinping, líder chinês, reformulou a abordagem diplomática da China para o segundo mandato de Donald Trump, abandonando a cautela tradicional em favor de uma estratégia que combina concessões táticas com retaliações agressivas. Inspirado pelo manual de “pressão máxima” de Trump, Xi busca explorar a autoimagem do presidente americano como mestre em negociações, oferecendo concessões em questões de alta visibilidade, como o futuro do TikTok, enquanto responde a provocações comerciais dos EUA com contramedidas mais severas, reportou o Wall Street Journal nesta semana.

Um exemplo recente foi a restrição chinesa às exportações de terras raras em 9 de outubro, em resposta a controles de exportação americanos, sinalizando a intenção de Xi de projetar força e imprevisibilidade antes da cúpula com Trump na Coreia do Sul, marcada para a próxima quinta-feira. Essa tática visa aproveitar a dependência global de minerais chineses, mas arrisca tensões com aliados dos EUA e uma possível escalada de tarifas. A nova doutrina de Xi reflete a crença de que a China detém uma vantagem estratégica em setores como terras raras, dominando 90% da oferta global refinada desses materiais, essenciais para indústrias de tecnologia e defesa. Pequim agora exige que os EUA se adaptem ao seu poder econômico, com Xi confiante de que sanções severas, como as restrições de exportação, podem forçar concessões americanas.

No entanto, a abordagem tem riscos: as medidas chinesas, como o corte de ímãs de terras raras em resposta às tarifas de Trump em abril, causaram turbulência nos mercados financeiros, com quedas nas ações americanas e instabilidade no mercado de títulos. A China moderou algumas medidas após negociações, mas mantém um controle rigoroso sobre cadeias de suprimento críticas, sinalizando que está disposta a usar sua influência econômica como arma. Do lado americano, a estratégia de Xi alimenta argumentos de falcões em Washington que defendem a redução da dependência econômica da China. Ações como o investimento de US$3 bilhões dos EUA e Austrália em minerais essenciais visam desafiar a hegemonia chinesa.

A cúpula na Coreia do Sul será um teste crucial para essa estratégia. Xi planeja pressionar Trump por compromissos claros, como uma oposição formal à independência de Taiwan, enquanto oferece gestos como a compra de commodities americanas. No entanto, a abordagem agressiva de Pequim, especialmente em terras raras, provocou reações negativas, com Trump ameaçando tarifas de 100% e a Casa Branca considerando sanções secundárias contra a China por suas compras de petróleo russo.

 

OpenAI pode eliminar longas horas de trabalho de banqueiros juniores — ou levá-los ao desemprego, mostra Bloomberg

 

A OpenAI lançou o projeto secreto “Mercury”, recrutando mais de 100 ex-banqueiros de investimento com passagens em instituições como JPMorgan, Morgan Stanley e Goldman Sachs para treinar sua Large Language Model em modelagem financeira, visando substituir o trabalho braçal de analistas juniores no setor, de acordo com apuração da Bloomberg nesta semana.

Os participantes, pagos a US$150 por hora, constroem modelos em Excel para diferentes tipos de transações, como reestruturações e IPOs, com acesso antecipado à IA que automatizará tarefas de entrada. Essa iniciativa, gerenciada por terceiros, reflete a urgência de Sam Altman em tornar a tecnologia provida por sua companhia lucrativa para indústrias como finanças e consultoria.

Analistas juniores em bancos trabalham mais de 80 horas semanais criando modelos detalhados no Excel para fusões e aquisições, além de ajustes incessantes em PowerPoints. Startups rivais já competem para equipar bancos com IA, gerando temores de perda de empregos entre os novatos, que veem o “trabalho braçal” como essencial para aprendizado. O “Mercury” acelera essa disrupção. O processo de seleção é quase todo automatizado: uma entrevista de 20 minutos com chatbot baseada no currículo, teste de demonstrações financeiras e prova final de modelagem, sem interação humana significativa.

A OpenAI também firma contratos flexíveis, com contratados sob demanda de entregar um modelo por semana, escrevendo prompts simples, executando no Excel e corrigindo feedback antes da integração aos sistemas da OpenAI. Participantes também incluem ex-funcionários de Brookfield, Evercore, KKR e Mubadala, além de candidatos atuais à MBA por Harvard e MIT.

O projeto atraiu talentos diversos de Wall Street, destacando como a OpenAI transforma expertise humana em combustível para IA financeira, potencializando eficiência em bancos. Mas a estratégia também levanta um questionamento: se tudo der certo, como ficará o acesso a empregos de nível inicial? A IA pode, afinal, trocar as longas horas de jornada dos bankers juniores por uma jornada de zero horas…também conhecida como desemprego. 

 

Negociação de ações 24 horas por dia está chegando, mas Wall Street não está pronta, avalia Barron’s

 

As principais corretoras de Wall Street estão acelerando planos para introduzir negociações de ações por 24 horas, cinco dias por semana, em um movimento que pode transformar o ritmo do mercado de capitais dos Estados Unidos e atrair investidores globais em busca de flexibilidade, reportou a Barron’s nesta semana. Lideradas por gigantes como Robinhood Markets e Charles Schwab, as plataformas visam quebrar as barreiras do horário tradicional de pregão para atender a uma demanda crescente de traders varejistas e institucionais que operam em fusos horários variados.

A iniciativa ganha tração em meio a um boom de plataformas digitais e ao sucesso de mercados cripto, que nunca dormem. A Robinhood, conhecida por democratizar o acesso a investimentos, já oferta negociações 24 horas por dia, em dias de semana, para muitas ações. De acordo com a Barron’s, as principais bolsas, como NYSE, Nasdaq e London Stock Exchange, planejam estender as negociações de ações para 24 horas durante a semana. No caso mais prático citado na mate´ria, a Depository Trust & Clearing Corp prepara infraestrutura para suportar o modelo a partir do segundo trimestre de 2026.

Embora fins de semana permaneçam fora do escopo, a potencial ampliação de horários de negociação preocupa Wall Street. Profissionais temem a necessidade de equipes 24 horas, baixa liquidez noturna, que pode prejudicar investidores de varejo, e riscos de crises em horários atípicos, como colapsos bancários à 1h da manhã. Jenny Hadiaris, da Citigroup, destaca entusiasmo de clientes de varejo, mas cautela de investidores institucionais devido ao alto custo operacional. Peter Mallouk, da Creative Planning, alerta para desafios em crises de mercado contínuo, como na pandemia da Covid-19, em 2020.

A motivação para potencial ampliação de horários de negociação em bolsas inclui atrair investidores asiáticos interessados em ações tecnológicas, como Nvidia e Microsoft, seguir o modelo de criptomoedas, que operam ininterruptamente, e incentivar listagens de empresas estrangeiras nos EUA. Apesar do potencial, o mercado enfrenta dilemas sobre estrutura, estabilidade e suporte ao cliente em um cenário “sempre ligado”.

 

“Dates” em baixa? Financial Times destaca quedas das ações de donas do Tinder e Bumble 

 

Em meio à recente disparada de todas ações ligadas ao mundo “tech” na bolsa americana, os papéis das empresas donas de aplicativos de relacionamento Match Group, do Tinder, e Bumble, ficaram para trás, com forte queda nos últimos anos, e com número de usuários também em retração, destacou o Financial Times em reportagem que questiona “o que deu errado” com os apps.

As ações do Bumble despencam quase 90% em cinco anos, enquanto as da Match Group, controladora do Tinder, tombam mais de 70%, com ambas muito longe do ápice, não coincidentemente visto durante a pandemia de Covid-19, quando pessoas fechadas em suas casas apelavam ao celular para buscar encontros ou relacionamentos.

“´Dates´ por algoritmos, como ´dates´ online em geral, prometeram muito e entregaram pouco”, começa o texto do Financial Times, que lembra experiências científicas do passado sobre a tentativa de encontrar “pares perfeitos” por meio de questionários e técnicas científicas.

 

Desaceleração nos setores de energia eólica e solar pesa sobre resultados da WEG, mostra Faria Lima Journal

 

A perda de fôlego dos investimentos em novos projetos de energia eólica e solar no Brasil pesou sobre os resultados da fabricante de equipamentos elétricos WEG no terceiro trimestre, e poderá impactar ainda mais o balanço do quarto trimestre, mostrou reportagem do Faria Lima Journal. 

Após anos de expansão inabalável, mesmo em momentos menos favoráveis da economia brasileira, o crescimento da capacidade em renováveis do país está recuando neste ano, pela primeira vez em cinco anos, com expansão menor que em 2024 e 2023, segundo dados da Agência Internacional de Energia (IEA). Empresários têm pisado no freio devido ao encarecimento do custo de crédito e a cortes na geração de usinas, causados por excesso de oferta durante momentos do dia, limitações na rede e até falta de demanda.

Os cortes forçados na produção renovável, conhecidos no setor como “curtailment”, chegaram a impactar cerca de 43% da potencial geração solar e 27% da eólica em setembro, segundo a consultoria Aurora Energy Research. Preocupada com a situação, a agência de classificação de risco Fitch Ratings colocou em “observação negativa” 13 projetos renováveis, de um total de 36 acompanhados, citando perspectiva de que o problema aumente, e siga relevante ao menos até 2030.

O cenário levou a WEG a registrar mais um trimestre sem nenhuma entrega de novos aerogeradores, enquanto a receita com o negócio de solar também caiu na comparação anual, após a conclusão de projetos de grande porte que a companhia concluiu nos três trimestres anteriores. Mesmo as vendas de geração distribuída, para painéis solares em telhados ou miniusinas, “não estão tão aquecidas assim”, segundo o diretor financeiro da companhia, Andre Salgueiro.

E vale ficar de olho nos próximos resultados de empresas, que começam a vir agora com a temporada de balanços. Grupos de geração devem ser bastante impactados, e alguns fabricantes de equipamentos também…