FARIA LIMA JOURNAL
NO FIM DE SEMANA
>> O boletim Faria Lima Journal no Fim de Semana, do portal Faria Lima Journal e da agência de notícias Mover, traz uma seleção de conteúdos e leituras para investidores dispostos a gastar algum tempo no sábado e domingo para leituras mais aprofundadas de boas histórias e materiais informativos.
Tesla deve enfrentar nova concorrência, e não é no mercado automotivo, prevê Barron’s
A Tesla enfrenta uma nova onda de concorrência, não mais de montadoras tradicionais como General Motors ou Ford, mas de gigantes da tecnologia que apostam na monetização de inteligência artificial (IA), avaliou a Barron’s esta semana. Segundo o analista Adam Jonas, da Morgan Stanley, a Apple, uma empresa com capitalização de mercado de US$3,6 trilhões, planeja lançar um pequeno robô treinado com IA em 2026 ou 2027, o que pode impactar significativamente o mercado de robótica, e também as promessas da companhia de Elon Musk a respeito de robôs humanoides e automatização.
A Tesla, que viu suas ações subirem 8% em 2025, impulsionadas por um rali de 80% nos últimos seis meses, vem recuperando-se sob leitura, de investidores do papel, sobre a tese de automatização e concepção de robôs humanoides. O otimismo em torno da IA tem sido um motor importante para o crescimento da Tesla, que utiliza computação de IA para desenvolver carros autônomos e robôs humanoides. A empresa já lançou um serviço de táxi autônomo em Austin, Texas, em junho, e planeja vender grandes quantidades de robôs a partir de 2026. Musk, por exemplo, tem um incentivo trilionário em seu novo pacote de remuneração, a ser votado em novembro, para entregar um milhão de robôs humanoides, reforçando a aposta da empresa em IA física.
Apesar da liderança de cerca de cinco anos que os investidores da Tesla acreditam que a empresa possui em termos de robotização, gigantes tecnológicas, como Apple, Nvidia, Alphabet, Meta, Microsoft e Amazon, também estão investindo em robôs habilitados por IA, intensificando a competição por talentos no segmento. Embora robôs autônomos movidos a IA ainda não sejam uma realidade, o tema deve ganhar destaque nos próximos meses, à medida que essas empresas avançam em seus projetos, representando uma nova competição para a Tesla no setor.
Nova rainha do minério de ferro? Ascensão vertiginosa de trading de commodities intriga mercado, mostra Bloomberg
A Radiant World, uma trading house com origem na Índia e operações em Cingapura, Londres e Dubai, emergiu como um dos maiores players no comércio global de minério de ferro, a segundo maior commodity em termos de volume após o petróleo. Nos últimos dez anos, a empresa, liderada por Pinkesh Nahar, cresceu quase dez vezes, alcançando um volume estimado de 65 a 70 milhões de toneladas de minério de ferro negociado em 2025, aproximando-se da gigante Glencore (75 milhões de toneladas em 2024), reportou a Bloomberg.
Sua ascensão meteórica, porém, divide opiniões: alguns veem seu sucesso como resultado de uma abordagem inovadora em um mercado tradicional, enquanto outros alertam para os riscos de suas apostas agressivas, que poderiam causar perdas significativas em uma eventual queda de preços do minério de ferro. A Radiant World tem impacto direto no mercado de minério de ferro, essencial para a produção de aço e, consequentemente, para a economia global.
A estratégia de comprar cargas não vendidas apostando na alta dos preços a colocou a trading no radar da China, onde a estatal China Mineral Resources Group tentou limitar sua influência. Além disso, a empresa enfrenta desafios financeiros: bancos como Rabobank e ING suspenderam financiamentos devido a preocupações com documentos falsificados em transações passadas, conforme relatório interno da Rabobank. Apesar disso, a Radiant mantém relações com outros financiadores e tem o apoio da Glencore, que monitora de perto sua exposição à empresa. A trading house planeja expandir para metais não ferrosos, como alumínio e cobre, e negocia uma captação de centenas de milhões de dólares, incluindo a possível venda de uma participação à Glencore por US$1 bilhão.
Contudo, sua abordagem de trading, que inclui posições não totalmente protegidas, levanta preocupações sobre sua vulnerabilidade a quedas de preço do minério de ferro. Apesar das incertezas, a Radiant World reportou lucros recordes de US$88 milhões em 2024, beneficiada por preços de minério de ferro resilientes, que se mantêm acima de US$100 por tonelada em 2025.
O isolamento dos “progressistas militantes” — e dos “patriotas indignados”
Embora muitas vezes pareçam maioria, principalmente nas redes sociais, até pelo tom mais estridente, os esquerdistas mais fanáticos, e também a direita mais aguerrida, são uma minoria da população, menor que 10% para cada lado, e abaixo de outros nichos de opinião política da sociedade, mostrou pesquisa do think thank More in Commom em parceria com a Quaest divulgada pelo Estadão.
O estudo “Populismo e progressismo no Brasil polarizado”, que ouviu mais de 10 mil brasileiros, classificou a visão política dos respondentes em seis categorias, sendo que os chamados “patriotas indignados” representariam 6% do eleitorado, enquanto os “progressistas militantes” seriam 5%, sendo que os últimos seriam os mais isolados dos outros nichos da população– descritos como “esquerda tradicional, desengajados, cautelosos e conservadores tradicionais”.
De acordo com o levantamento, os “progressistas militantes aparecem como o segmento mais destoante do restante da população”. Embora são definidos por serem mais escolarizados (53% com ensino superior), mais ricos (37% com renda maior que 10 mil reais), menos religiosos (41%) e mais brancos (57%), embora por vezes tentem se colocar como representantes de classes mais populares e minorias. Dentre esse público, a maioria tem simpatia pelos partidos PT (39%) e PSOL (16%).
Já os “patriotas indignados” são em muitos pontos similars aos conservadores tradicionais, mas se definem mais como “bolsonaristas” (70%) e são descrentes de instituições públicas, com 71% desconfiando do Supremo Tribunal Federal (STF), embora defendam “a ordem e os valores morais tradicionais” associados ao conservadorismo, segundo a pesquisa.
Nvidia faz festa para funcionário após 738 dias de faltas, e CEO agradece retorno
“Espero que você tenha uma boa desculpa para não ter aparecido para o trabalho na Nvidia por 738 dias”, escreveu no Linkedin um especialista da área de IA da Nvidia, em referência a um funcionário da companhia, Avinatam Or, enquanto o CEO da gigante de chips, Jensen Huang, deu boas vindas ao retorno do empregado, citando “profundo alivio e alegria”, segundo reportagens na Reuters e no Jerusalem Post.
A bronca – uma óvia brincadeira – e as felicitações vieram após Avinatam ser liberado pelo grupo terrorista palestino Hamas, em troca de prisioneiros e acordo de paz com Israel intermediado pelo presidente americano Donald Trup.
“Avinatam, seja bem vindo em casa… Estamos aqui para você e sua família, à medida que você começa este próximo capítulo, de cura”, escreveu Huang em carta enviada a todos funcionários da companhia. O funcionário ficou 738 dias mantido como refém pelo Hamas, enquanto sua namorada, Argamani, ficou 246 dias refém, e foi resgatada por soldados israelenses.
A Nvidia entrou em Israel em 2020 e tem planos de expansão no país, onde tem sede em Yokneám, um hub para empresas de tecnologia perto de Haifa. Aviatan, um engenheiro eletricista de 32 anos, foi um dos sequestrados pelo Hamas durante o festival de música Nova, em 7 de outubro de 2023. Segundo a mídia israelense, ele perdeu 40% do peso durante o período em cativeiro.
Livro conta história da crise de 1929 em ritmo de “thriller” e tom de alerta
O recém-lançado livro “1929”, de Andrew Sorkin, relembra a história da crise financeira da 1929 em ritmo de romance de suspense, descreveu o New York Times, em resenha que clasificou a obra como “eletrizante”, e uma “novela de Wall Street”. Na obra, Sorkin mergulha em documentos raros do Federal Reserve, memórias inéditas e uma montanha de registros históricos para tecer uma narrativa de ganância e corrupção que parece tirada dos escândalos de hoje, segundo o jornal.
O elenco de banqueiros corruptos, políticos subornados e especuladores irresponsáveis faz do livro uma leitura viciante, com potencial para virar uma série de TV de prestígio. No entanto, o NYT também avalia que Sorkin promete lições para nosso tempo, mas não entrega a análise profunda necessária para conectar os erros do passado aos riscos do presente, resultando em mais espetáculo do que substância. O estilo de escrita de Sorkin é ao mesmo tempo sua maior força e sua fraqueza, segundo a crítica. Ele é mestre em criar cenas vívidas, quase cinematográficas — mansões opulentas, iates regados a champanhe e acordos obscuros que exalam ostentação.
Sua habilidade em extrair detalhes marginais das fontes resulta numa narrativa pulsante, como um thriller criminal que prende o leitor. No entanto, o Times critica o uso excessivo de clichês — “nervos de aço”, “olhos penetrantes”, mercados “levados ao chão” — que se acumulam como maquiagem barata, dando à prosa um brilho exagerado, por vezes vulgar. Esse estilo exuberante, embora cativante, resvala no voyeurismo, fazendo o livro parecer mais um prazer culposo do que uma análise séria do colapso econômico.
A resenha do Times também questiona o que Sorkin tenta defender, e o resultado é intrigante. Por um lado, ele expõe a feiura de 1929: gigantes de Wall Street orquestrando esquemas de compra e venda de papéis, J.P. Morgan subornando políticos com ações abaixo do preço de mercado, e o presidente da Bolsa de Nova York desviando milhões enquanto pregava perfeição de sua instituição. Mas, surpreendentemente, Sorkin parece minimizar esses crimes, sugerindo que esses vigaristas eram apenas filhos de sua era e que os mercados, apesar do caos, acabam gerando preços “justos e razoáveis”. O Times rejeita essa defesa, chamando-a de ingênua.
Em última análise, o Times vê 1929 como uma leitura emocionante que não cumpre todo o seu potencial. A tentativa de Sorkin de traçar paralelos com as manias de mercado atuais — bolhas de cripto, frenesins de Inteligência Artificial — parece mais uma provocação do que uma revelação, sem oferecer um caminho claro para evitar o próximo colapso. O livro é uma aventura cheia de escândalos, mas sua hesitação em confrontar o cerne político e econômico do problema o impede de ser uma obra-prima, segundo o NYT.
Bessent fala sobre perfil desejado para novo chefe do Fed– e recomenda livro sobre Greenspan
O secretário do Tesouro do governo Donald Trump, Scott Bessent, ofereceu pistas sobre os critérios para a escolha do próximo presidente do Federal Reserve (Fed), enquanto recomendou leitura de Maestro, livro sobre o lendário ex-chair do Fed, Alan Greenspan, escrito pelo renomado jornalista Bob Woodward, raçando paralelos entre os tempos atuais e a época em que Greenspan liderou a política monetária americana, segundo reportagem do Faria Lima Journal.
Questionado sobre características buscadas para o sucessor de Jerome Powell no Fed, em entrevista à CNBC, Bessent destacou que o governo quer alguém com “mente aberta”. Ele mencionou Greenspan como exemplo, elogiando sua abordagem durante os anos 1990, período de forte crescimento econômico nos Estados Unidos, impulsionado pela revolução da internet, e pontuando que acaba de reler a obra de Woodward, que ficou famoso pela cobertura do caso Watergate.
Na época, Greenspan resistiu à pressão de elevar os juros, apesar do receio de inflação, ao identificar que o crescimento da ecoomia dos EUA, por vezes vista como superaquecida, era sustentado por ganhos de produtividade decorrentes da adoção do uso da internet pelas empresa. O secretário fez um paralelo com o cenário atual, marcado por preocupações com uma possível bolha no mercado de inteligência artificial (IA), apontando similaridades entre os períodos.
Embora Bessent não tenha citado essa expressão na entrevista, Greenspan ficou conhecido por alertar, em um discurso em 1996, que estava vendo uma “exuberância irracional” no mercado de ações americano, enquanto hoje começam a surgir preocupações com uma eventual bolha nos mercados acionários, inflada pelas expectativas com a IA.
Greenspan, em entrevista posterior, refletiu sobre esses comentários de 1996, observando que na ocasião não fez um alerta sobre uma bolha imediata, e que sair do mercado na época da fala teria custado aos investidores uma alta de 80% antes do colapso.