FARIA LIMA JOURNAL
NO FIM DE SEMANA
> O boletim Faria Lima Journal no Fim de Semana, do portal Faria Lima Journal e da agência de notícias Mover, traz uma seleção de conteúdos e leituras para investidores dispostos a gastar algum tempo no sábado e domingo para leituras mais aprofundadas de boas histórias e materiais informativos.
Galípolo na lista dos 100 mais influentes de 2025 da revista “Time”
A revista “Time” posicionou Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central, entre as 100 pessoas mais influentes de 2025, classificando-o como “liderança ponderada”, de acordo com artigo escrito por Gita Gopinath, ex-Fundo Monetário Internacional, e atual professora de economia da Universidade de Harvard. Em artigo, Gopinath afirmou que Galípolo a dá “esperança” de que uma liderança ponderada e principista ainda está viva — mesmo nestes tempos turbulentos.
“Como presidente do Banco Central do Brasil, ele está cumprindo o compromisso da instituição de reduzir a inflação, beneficiando todos os brasileiros e, especialmente, os mais pobres, que são os mais afetados pelo aumento dos preços. Suas ações desde que assumiu o cargo este ano reafirmaram a independência do Banco Central — não é uma conquista pequena em um momento em que pressões fiscais poderiam tentar decisões de curto prazo“, afirmou Gopinath.
Gopinath também destacou a versatilidade de Galípolo, na esteira das diversas funções que desempenhou — de professor a cargos no setor público. “O mundo precisa de mais bons modelos, e Gabriel mostra que um formulador de políticas progressista não precisa ser populista. Ele é um ativo incrível para o mundo da política econômica.”
IA puxa demanda por turbinas a gás, apoia ações do setor e ameaça atrasar obras de termelétricas pelo mundo, diz Bloomberg
Um boom de demanda por investimentos capacidade de geração termelétrica a gás tem impulsionado os pedidos para fabricantes do setor, apoiando as ações de empresas como Siemens Energy, GE Vernova e Mitsubish Heavy Industries, que mostram desempenho acima do índice americano S&P. Mas, enquanto uns aproveitam a bonança em seus negócios, o cenário ameaça um aperto na oferta global de equipamentos que pode gerar atrasos em projetos ou até cancelamentos de empreendimentos pelo mundo, apontou a Bloomberg em reportagem especial.
“O mundo está faminto por energia elétrica”, escreve a agência, acrescentando que a IA alimentou uma explosão no número de data centers, enquanto a demanda de residências e dos setores industriais e de transporte crescem com tendências de eletrificação. “Muitos países estão mudando do carvão para o gás como parte de seus esforços de descarbonização. Solar e eólica agora são as fontes mais baratas em muitas regiões, mas mesmo com baterias elas ainda não conseguem entregar oferta contínua que o carvão e o gás conseguem”, acrescentou a BBG.
A reportagem destaca o gás natural como “crítico” e como “uma ponte” para a transição energética, e estima que o aquecimento do setor coloca riscos de atrasos para projetos avaliados em mais de US$400 bilhões até o final da década, devido à falta de capacidade industrial para fabricar turbinas suficientes a tempo.
“Toda a cadeia de suprimentos está lutando para manter o ritmo (de produção em linha com a demanda”, disse um VP da Siemens Energy à reportagem. “A escassez global de turbinas a gás representa uma ameaça significativa e potencialmente subestimada”, disse um diretor da consultoria CMIT, Cuong Tran Duc. A Mitsubishi está trabalhando para ampliar a capacidade em 30%, “mas isso não é o suficiente”, segundo o CEO, Eisaku Ito.
A Bloomberg cita o Vietnã como um dos países mais expostos ao risco de falta de turbinas, dados os planos de construção de 22 termelétricas a gás no país até 2030. Mas o Brasil, que não aparece na matéria, também precisará contratar volume significativo de projetos a gás na próxima década, estimado em mais de 35 gigawatts em capacidade até 2035, para evitar riscos de blecautes nos momentos em que há maior demanda e a geração eólica ou solar cai, segundo estudos oficiais do governo.
Investidores institucionais estão apostando que empresas como a Eneva, maior geradora termelétrica do país, vão se beneficiar dessa demanda por nova capacidade térmica nos próximos anos, e a companhia se tornou praticamente um call de consenso entre institucionais locais, segundo relatório recente do Itaú BBA. Mas a análise da Bloomberg mostra como a demora do Brasil em realizar os leilões de contratação desses projetos termelétricos pode colocar o país em uma situação arriscada, disputando equipamentos com o mundo todo em meio a um aperto global na oferta, o que poderá ampliar riscos ou custos para os consumidores.
Demanda por IA pode selar maior aquisição da história no setor elétrico dos EUA
A gestora de investimentos Global Infrastructure Partners, controlada pela BlackRock, está em negociações avançadas para o que poderia ser a maior aquisição de uma companhia do setor elétrico listada em bolsa na história dos Estados Unidos, a compra da americana AES, em uma potencial transação também impulsionada pela demanda do setor de inteligência artificial por eletricidade para abastecer seus data centers, segundo reportagem da Reuters que citou fontes anônimas.
A GIP, que possui ativos no Brasil, onde controla a geradora renovável Atlas, e tem parceria com a Vale em ativos de energia limpa, após ter comprado participação na Aliança Energia, poderia avaliar a AES em mais de US$40 bilhões, incluindo dívidas, de acordo com a reportagem da Reuters.
“Empresas de energia elétrica estão atraindo o interesse do investidor à medida que a IA e data centers alimentam um salto na demanda por eletricidade, levando a uma onda de negócios no setor”, apontou a matéria, destacando que a AES tem crescido rapidamente com sua aposta em energia limpa para atender big techs.
A própria GIP foi adquirida pela BlackRock recentemente, no ano passado, por US$12,5 bilhões, como parte de um movimento para se expandir em infraestrutura e mercados privados. Além dos EUA, onde tem sede, em Virgínia, a AES opera em diversos países, com presença em quatro continentes. No Brasil, o grupo vendeu os ativos recentemente para a Auren Energia.
O Enigma de Rob Granieri: O Bilionário Invisível por Trás da Jane Street, sob holofote da Bloomberg
Rob Granieri, um bilionário discreto e cofundador da Jane Street, é uma figura que desafia os estereótipos de Wall Street. Enquanto exibe cabelos longos e um estilo desleixado em sua rotina em Manhattan, ele comanda a trading house mais lucrativa do mundo, que registrou US$17 bilhões em receitas no primeiro semestre de 2025, superando gigantes bancários. Sua preferência por anonimato é notória: Granieri evita holofotes, frequenta eventos como o Burning Man e mantém um perfil tão discreto que muitos dentro da própria empresa não o reconhecem. No entanto, recentes controvérsias legais e lucros estratosféricos estão forçando a Jane Street — e seu líder — a sair das sombras, expondo um império financeiro construído na discrição, reportou a Bloomberg.
A Jane Street, fundada em 1999 por Granieri e outros ex-colaboradores da Susquehanna International Group, tornou-se uma potência no market-making, capturando 24% do volume de negociação de ETFs primários nos EUA em 2024. A empresa lucra com discrepâncias sutis entre preços de ativos e seus derivativos, utilizando um capital próprio de US$53 bilhões. Sua cultura interna, marcada por apostas inusitadas e um ambiente descontraído, reflete a personalidade de Granieri, que rejeita ostentações típicas de Wall Street. Contudo, a saída de outros cofundadores e eventos mostram os desafios de manter a discrição em um mundo financeiro obcecado por visibilidade.
O anonimato tão prezado por Granieri foi abalado por uma série de eventos recentes. Um processo contra ex-funcionários acusados de roubar estratégias valiosas trouxe atenção indesejada, incluindo uma investigação de reguladores indianos que alegam manipulação no maior mercado de opções do mundo. Esses episódios contrastam com a imagem de um líder tímido, descrito como um introvertido com uma postura “golly gee”, mais à vontade em jantares no Le Bernardin do que em confrontos públicos.
Para economistas e investidores, a trajetória de Granieri e da Jane Street oferece um estudo fascinante sobre o poder da discrição em um setor dominado por egos inflados. A habilidade de operar nas sombras permitiu à Jane Street acumular lucros recordes enquanto rivais se digladiavam por atenção. No entanto, os recentes escândalos mostram que mesmo os mais reservados não estão imunes ao escrutínio. Em um mercado cada vez mais volátil, a lição é clara: a invisibilidade pode ser um trunfo, mas exige vigilância constante para proteger estratégias e reputação. Granieri, com seu estilo único, nos lembra que o sucesso financeiro muitas vezes reside na capacidade de jogar fora dos holofotes — até que o mundo decida olhar.
Os motivos e implicações do resgate dos EUA à Argentina, na visão da Barron’s
Na última semana, os Estados Unidos anunciaram um resgate financeiro incomum à Argentina, oferecendo uma linha de swap de US$20 bilhões e a possibilidade de compra de dívida argentina, às vésperas das eleições legislativas de 26 de outubro. Diferentemente de operações multilaterais, esse apoio bilateral, raro desde o resgate do México, em 1994, levanta questionamentos sobre sua racionalidade, já que a Argentina não possui a relevância sistêmica do México, então o terceiro maior parceiro comercial dos EUA, avaliou a Barron’s em artigo nesta semana.
Em 2023, o comércio bilateral EUA-Argentina foi de apenas US$15 bilhões, e o país sul-americano mantém uma economia pouco diversificada, com exportações centradas em produtos agrícolas, como a soja, em um perfil semelhante ao visto há 130 anos, em 1885. A medida de apoio dos EUA, liderada pelo secretário do Tesouro, Scott Bessent, parece mais alinhada a apoiar as reformas austeras do presidente Javier Milei do que a responder a uma necessidade econômica global. A Argentina não é um pilar do sistema financeiro internacional, e suas crises recorrentes, como a de 2001, nunca desencadearam turbulências globais. Contudo, o pacote americano coincide com interesses estratégicos, como o acesso a minerais críticos e a proximidade com a Antártida, além de uma tentativa de conter a influência chinesa na região. Curiosamente, a suspensão temporária de impostos sobre exportações de soja por Milei, que gerou vendas de US$7 bilhões à China, irritou agricultores americanos, evidenciando a dificuldade de alinhar interesses econômicos com os geopolíticos. Além disso, especulações sobre uma possível desvalorização do peso pós-eleição alimentam temores de que o resgate possa financiar fuga de capitais, em vez de estabilizar a economia.
O apoio à Argentina parece ter motivações políticas claras, com o objetivo de sustentar Milei, cuja agenda de austeridade e redução de déficits ganhou admiradores entre setores da direita global e entusiastas do anarcocapitalismo. Bessent deixou claro que o pacote visa evitar que “desequilíbrios de mercado” comprometam as reformas de Milei, em um movimento que lembra a atuação do Banco Central Europeu na zona do euro nos anos 2010, quando pressões de mercado sinalizavam aprovação ou reprovação de escolhas políticas. Diferentemente do México em 1994, que já estava integrado às cadeias produtivas americanas, a Argentina de 2025 é um caso de intervenção econômica para reforçar um governo ideologicamente alinhado com a administração americana, sintetizou a Barron’s.
Paralelamente, o texto aponta para um padrão mais amplo de intervenção dos EUA na política sul-americana, com a imposição de tarifas de 50% ao Brasil em resposta ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. Apesar de o Brasil ter menor exposição à demanda americana, a pressão financeira dos EUA reflete uma estratégia de usar ferramentas econômicas para moldar dinâmicas políticas regionais. A combinação de estilos políticos espelhados entre os EUA e a América do Sul, junto ao uso de instrumentos como tarifas e resgates financeiros, sugere uma nova fase de influência econômica com objetivos políticos explícitos, levantando questões sobre a eficácia e os riscos dessas intervenções em um contexto de interesses econômicos conflitantes.