Ivan Monteiro fala sobre mudanças na elétrica

CEO da Eletrobras diz que 'privatização se dá ao longo do tempo' e acionistas são 'pacientes'

CEO da Eletrobras diz que 'privatização se dá ao longo do tempo' e acionistas são 'pacientes'

São Paulo, 29/9/2025 – Com passagens anteriores pelos colossos estatais Banco do Brasil e Petrobras, o atual diretor-presidente da Eletrobras, Ivan Monteiro, que assumiu o cargo após a privatização da maior elétrica da América Latina, admitiu nesta segunda-feira que teve certa frustração de expectativas com a complexidade da “mudança de chave” na companhia.

Escolhido para o cargo após a saída de Wilson Ferreira Jr, que havia conduzido boa parte do processo de desestatização, Monteiro enfrentou uma longa disputa judicial com o governo do presidente Lula sobre a participação da União na empresa, encerrada após acordo moderado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Ele também teve que lidar com compromissos assumidos com sindicatos, que restringiram cortes de pessoal no início de sua gestão.

“Trabalhei no BB, na Petrobras. Quando fui convidado para esse desafio, pensei: vou poder contribuir agora não em um corpo estatal, mas em uma empresa que foi privatizada. O grande aprendizado para mim é que o dia da privatização ele é legal, juridicamente falando.. mas ele quer dizer pouco”, afirmou Monteiro, em participação em evento do Itaú.

“No dia seguinte (da privatização), tem na sua mesa 300 contratos legados, e eles não foram privatizados… e para nós um dos mais relevantes era o Acordo Coletivo de Trabalho, que era da época de estatal e tivemos que conviver com ele.. então a privatização se dá ao longo do tempo”, explicou o CEO.

A Eletrobras só assinou um novo acordo coletivo com os funcionários neste ano, abrindo portas para realização de mais demissões consensuais, embora com números ainda limitados pela negociação com os sindicatos.

Após o acordo, a Eletrobras também buscou negociar reduções de salários com alguns funcionários com remuneração maior, mas a Justiça bloqueou a iniciativa em decisão liminar recente– o que mostra como algumas iniciativas da companhia ainda enfrentam complexidades mais associadas a uma empresa pública do que a uma 100% privada.

Após o acordo com o governo no STF, a União, que ainda detém cerca de 40% de participação na empresa, indicou três representantes para o conselho de administração, onde antes não era representada. Os acionistas privados ainda detém a maioria dos assentos, com maior influência sobre as decisões.

Durante o evento do Itaú, Monteiro também comentou que os investimentos no setor elétrico exigem “funding paciente”, uma vez que os retornos vêm no longo prazo, sinalizando que os sócios privados da companhia não estariam pressionando apenas por lucros instantâneos. “Fico satisfeito com os acionistas que temos hoje. São acionistas pacientes”.

NOVA ORIENTAÇÃO
Desde a desestatização, a Eletrobras mais que quadruplicou os investimentos, priorizou melhorias da eficiência operacional e “pela primeira vez passou a olhar para o cliente”, atenta à abertura do chamado mercado livre de eletricidade para empresas menores, disse Monteiro.

Mas uma das principais mudanças foi a estratégia de gestão de passivos, uma vez que a Eletrobras sentava em uma pilha de processos referentes ao chamado “empréstimo compulsório”, que representava R$24 bilhões em passivos no fim de 2022. Essas disputas referem-se a cobranças feitas pelo governo federal a partir dos anos 1960, para financiar expansão do setor elétrico, com promessas posteriores de devolução em ações da Eletrobras, então estatal.

“Muitos analistas diziam que esse valor (de passivos) iria para R$40 bi. Foi para R$12 bi. E por que caiu? Você chama seu jurídico e diz: o último lugar em que você vai resolver isso é o Judiciário. A orientação foi mandar ir atrás de acordos e parar de brigar”, explicou Monteiro.

“Em uma estatal não financeira… a orientação das áreas jurídica é que você deve recorrer, recorrer, recorrer. Na Petrobras era a mesma coisa”.

Ele também comentou que, desde a privatização, a Eletrobras aumentou investimentos para um patamar de cerca de R$10 bilhões previstos para este ano, de um patamar anterior de cerca de R$2,5 bilhões.

Segundo Monteiro, uma característica diferente da Eletrobras, em relação às outras empresas que dirigiu, é que a elétrica “não pode errar”.

“Na Petrobras, se por acaso ocorrer problema em uma refinaria, você vai no posto de gasolina e abastece sem problema. Se acontecer problema na Eletrobras, em algum lugar vai faltar luz, em alguns segundos”, comentou.

Ele ainda brincou que teve um início inesquecível na companhia, ao estrear no dia em que o Brasil registrava um blecaute, o maior em anos. “Meu primeiro dia como CE