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Cosan fala em vendas de ativos "no momento certo" e cortes de custos; pode até deixar Faria Lima, dizem fontes

Cosan fala em vendas de ativos "no momento certo" e cortes de custos; pode até deixar Faria Lima, dizem fontes

São Paulo – 25/09/2025 – A Cosan espera que a capitalização da companhia em até R$10 bilhões permita fôlego para desalavancar, enquanto avança com venda de alguns ativos no momento certo e promove medidas de corte de custos, que podem incluir até a saída da sede da holding da valorizada região da Faria Lima, em São Paulo, disseram fontes com conhecimento do assunto.

O conglomerado de Rubens Ometto, com uma dívida bruta de R$93 bilhões, está atraindo um aporte de R$7,25 bilhões do controlador, da holding do BTG Pactual e da gestora Perfin, em operação que gerou alguma controvérsia nos bastidores, devido às preocupações de investidores minoritários com diluição.

Quem participar da capitalização vai comprar novas ações a R$5 cada, 1/3 abaixo do preço de tela dos papéis no fechamento antes do anúncio. Para analistas de bancos de investimento, como XP, os benefícios com a expressiva redução de dívida prevista “podem compensar” o impacto negativo da diluição para os minoritários.

A estratégia, segundo seus defensores, permitirá à Cosan manter o valor de longo prazo de seus ativos, sem “queimá-los” como em uma liquidação, dado o mau momento do mercado de fusões e aquisições e a alta taxa de juros.

Um gestor que acompanhou a reunião viu pragmatismo da gestão, e alinhamento com ideia do BTG de gerar valor, desalavancando via venda de ativos sem pressa ou desespero.

A Cosan chegou a apostar nos desinvestimentos para aliviar o peso da dívida, mas o CEO, Martins, admitiu em teleconferência que as ofertas recebidas não condiziam com o que viam como valor justo dos ativos.

Agora, com a injeção de capital, a Cosan ganha tempo para negociar essas transações posteriormente, em condições melhores – levantando a médio prazo mais alguns bilhões. Uma opção mais imediata é a Radar, de terras, teria sinalizado Martins na reunião, segundo as fontes.

Participações na Moove, de lubrificantes, e na Rumo, de logística e transportes, também poderiam ser vendidas no momento certo, enquanto a Compass, de gás, é considerada muito estratégica e de elevado valor, praticamente uma joia da coroa entre os ativos não listados do grupo, de acordo com uma das fontes.

O entendimento de quem esteve presente foi de que uma eventual venda da Rumo envolveria 10% da participação na empresa.

CORTES

Os executivos da Cosan também mostraram preocupação com G&A (despesas gerais e administrativas), e disciplina de corte de custos na holding, até com aluguel, disse uma fonte a par dos temas tratados entre o CEO e fundos.

Os esforços para redução de despesas incluem até sondagens sobre eventual mudança do endereço da sede da holding, hoje na Faria Lima, para uma região “menos AAA”, visando economias, disse uma segunda fonte com conhecimento do assunto.

Procurada, a Cosan não quis comentar as informações obtidas pelo Faria Lima Journal.

A Cosan encerrou o 2T25 com alavancagem em 3,4x, de 2,7x no 2T24. O grupo enfrenta problemas também em uma de suas empresas, a Raízen, joint venture com a Shell, que também deve passar por capitalização– a alavancagem avançou para 4,5x, de 2,3x há um ano, mesmo a venda de alguns ativos, como usinas de geração solar distribuída, e a companhia ainda tem bilhões pela frente em investimentos.

A Cosan deixou claro que não colocará mais dinheiro na Raízen, disse uma das fontes. Visão é de que solução passará por vendas de ativos e aumento de capital, permitindo à empresa um respiro suficiente para terminar os dois projetos de etanol segunda geração (E2G) e então começar a desalavancar gerando caixa.

VALE NÃO VALEU

Na conversa com os gestores, a gestão da Cosan também admitiu que a aquisição da Vale foi um desvio de rota custoso em um momento em que a empresa poderia ter priorizado estabilizar as finanças.

Na época da compra da fatia na Vale, em 2022, por R$17 bilhões, a Eleven Financial comentou que a transação “torna a operação da Cosan ainda mais complexa, sem muita sinergia com os demais negócios da companhia”, e alertou que alavancagem já estava em 2,4x.

Posteriormente, a Vale sairia do negócio por cerca de R$9 bilhões, em meio às preocupações com o balanço financeiro. Por trás da decisão também esteve o fracasso na tentativa de Ometto de ganhar mais influência na mineradora.

Ometto sonhava indicar o ex-CEO da Cosan, Luis Henrique Guimarães, enquanto governo Lula chegou a cogitar o ex-ministro Guido Mantega antes de aceitar o nome do antes diretor financeiro Gustavo Pimenta.

Espremida pelos altos juros, que levaram Ometto até a questionar o hoje presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, durante evento público, a Cosan buscou alívio em uma capitalização que na prática diluirá desde minoritários ao próprio Ometto. O fundador inclusive prepara a transição do grupo, com diretores citando possibilidade de o BTG assumir o controle após seis anos.

A oferta de capitalização em preparação agora, a preços abaixo de tela e nos menores patamares em quase uma década, deve atrair investidores de olho no potencial de longo prazo dos negócios de infraestrutura do grupo, o que deverá fazer “faltar papel” na transação, avaliou uma fonte que acompanha as movimentações.

Tanto pessoas físicas quanto investidores institucionais deverão disputar as ações de forma que, considerando suas demandas e as ações que conseguirão subscrever na operação, “o corte vai ser grande”, disse a fonte.

(LC | Edição: Luca Boni | Comentários: equipemover@tc.com.br)