São Paulo, 22/08/2025 – A mudança no equilíbrio de riscos pode justificar ajustes na política monetária, afirmou o chair do Federal Reserve, Jerome Powell, em discurso altamente aguardado por investidores nesta sexta-feira, consolidando as apostas para corte de juros pelo Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) em setembro e gerando euforia nos mercados.
Em sua última aparição pública como chair do Fed no simpósio econômico de Jackson Hole, Powell surpreendeu analistas– que aguardavam viés “hawkish” em suas falas – ao pontuar que os riscos baixistas para o mercado de trabalho têm aumentado, levando os índices acionários nos Estados Unidos a renovarem máximas intradiárias.
“Embora o mercado de trabalho pareça estar em equilíbrio, trata-se de um equilíbrio curioso, resultante de uma desaceleração acentuada tanto na oferta quanto na demanda por trabalhadores. Essa situação incomum sugere que os riscos baixistas no emprego estão aumentando”, afirmou Powell, atentando para eventual cenário de aumento acentuado de demissões, bem como do desemprego, caso o quadro citado se materialize.
Em seu discurso, porém, Powell também afirmou que o Fed pode “proceder com cautela” ao considerar mudanças em sua postura política, levando em consideração a estabilidade da taxa de desemprego e de outras medidas do mercado de trabalho, bem como a aproximação da taxa-alvo Fed Funds do juro neutro – aquele que não contrai nem estimula a atividade.
TARIFAS
Powell manteve tom de cautela ao descrever os possíveis efeitos das tarifas sobre os preços na atividade econômica. Disse, por um lado, que um cenário-base “razoável” é que os efeitos serão relativamente curtos, com uma mudança única no nível de preços.
Por outro lado, disse também ser possível que a pressão das tarifas sobre os preços possa estimular uma dinâmica inflacionária “mais duradoura”, constituindo um risco a ser “avaliado e gerenciado”.
De modo geral, porém, descreveu que os efeitos das tarifas sobre os preços “agora são claramente visíveis”, devendo se acumular nos próximos meses, com “grande incerteza quanto ao momento e aos valores”.
Powell também pontuou que, no curto prazo, os riscos para a inflação tendem a ser positivos e os riscos para o emprego, negativos, classificando a situação como “desafiadora”. Ele também reiterou, no discurso, que a política monetária do Federal Reserve não segue uma trajetória “predefinida”.
“Os membros do FOMC tomarão essas decisões com base, exclusivamente, em sua avaliação dos dados e suas implicações para as perspectivas econômicas e o equilíbrio de riscos. Jamais nos desviaremos dessa abordagem”, afirmou, com agentes de mercado avaliando este último trecho como uma resposta à pressão política com que o Fed lida do presidente Donald Trump.
POSTURA
As falas de Powell em Jackson Hole – possivelmente um dos discursos mais relevantes de sua carreira como banqueiro central – eram vistas com ceticismo por agentes de mercado sob a perspectiva de sinalização para a trajetória da política monetária em setembro.
Diversos dirigentes do Fed, com falas públicas na semana, distanciaram perspectivas para eventual corte de juro em setembro. Powell, porém, mudou a sinalização com seu discurso, contrapondo-se ao viés visto na semana emitido pelos dirigentes do banco central.
“O discurso de Powell foi mais ‘dovish’ do que os mercados esperavam. Sua conclusão é uma indicação clara de que um corte de juros em setembro é agora o resultado mais provável. No entanto, a cautela persiste, com Powell sugerindo que um Payroll em agosto muito positivo, ou conjunto de dados de preços muito mais preocupante, ainda possam desencadear um atraso”, afirmou o vice economista chefe para a América do Norte da Capital Economics, Stephen Brown.
Powell, por ora, usa o histórico de Jackson Hole ao seu favor. Ele é conhecido por utilizar-se do espaço no simpósio econômico para redefinir expectativas. Hoje, cuidadosamente, Powell abriu a porta para um eventual corte de juros em setembro, a despeito de preocupações inflacionárias. Dados referentes ao mês de agosto sobre o mercado de trabalho e os preços serão cruciais para a trajetória dos juros.
PRICE ACTION
Após as declarações de Powell, o mercado voltou a precificar majoritariamente um corte de juros na magnitude de 25 pontos-base na reunião de setembro. Os derivativos da Chicago Mercantile Exchange (CME) apontam para 91,3% de chance de corte, superior aos 70% que eram precificados ontem, após falas mais “hawkishs” de membros do Fed ao longo desta semana.
Ainda de acordo com os derivativos da CME, o mercado prevê que o Fed siga as projeções do relatório Dot-Plot, com dois cortes de juros na magnitude de 25 pontos-base, nas reuniões de setembro e dezembro, totalizando um ciclo de afrouxamento monetário de 50 pontos-base neste ano.
Os mercados reagiram com bastante euforia às falas de Powell. Os principais índices acionários de Wall Street aceleraram ganhos para até 1,90%, enquanto o índice dólar DXY acentuou trajetória de queda voltando para o patamar dos 97 pontos. As Treasuries yields voltaram a fechar, com os rendimentos de dois e dez anos recuando até 10 pontos-base.