São Paulo, 25/06/2025 – A elétrica Light deve concluir ainda em 2025 o processo de renovação da concessão para distribuição de energia no Rio de Janeiro, bem como um aumento de capital que injetará dinheiro novo na empresa, hoje em recuperação judicial, disse ao Faria Lima Journal o megainvestidor Ronaldo Cezar Coelho, um dos principais acionistas da companhia.
“No ano que vem começa uma ´Nova Light´”, disse Coelho, que tem 20% das ações por meio do fundo Samambaia. Ele começou a montar posição na empresa em 2020, comprando participações do BNDES e depois da Cemig.
A Light recebeu também em 2020 um aporte de Beto Sicupira, um dos três bilionários da gestora 3G, que ficou com 10%. Depois, já em recuperação judicial, em 2023, entraram os empresários Nelson Tanure e Daniel Vorcaro, por meio da gestora WNT. Mais recentemente, o BTG Pactual adquiriu as ações de Vorcaro, e passou a deter 15,17% da empresa.
“Estamos todos de acordo com os passos da reestruturação. A Light voltou, está voltando. É só esperar um pouco mais”, disse Coelho, em entrevista.
Após anos aguardando definição, pelo governo federal, de regras para prorrogação de sua concessão no Rio, responsável pela maior parte do faturamento, a Light espera assinar novo contrato até o fim do ano, o que servirá como gatilho para capitalizar a empresa com entre R$1 bilhão e R$1,5 bilhão, entre aportes e conversões de dívidas em ações.
“Como o BTG é um credor significativo, e vai converter parte de sua dívida em ações, ele deverá chegar no fim desse processo como o maior acionista. Meus 20% vão sofrer uma diluição, deve cair para cerca de 13%. O BTG deve chegar a uns 18%. O Tanure também pode ampliar a posição. Enfim, estamos todos de acordo, e o mesmo vale para o Sicupira”, explicou.
Coelho, que chegou a comprar ações da Light por R$20 em 2020, quando a Cemig se desfez de sua participação em operação em bolsa (follow-on), elogiou seus sócios na empresa, que segundo ele atuaram ativamente nos últimos meses, e garantiu que hoje estão todos alinhados.
“Tanure foi fundamental para a gestão, para a governança. Ele indicou o presidente do Conselho de Administração, Helio Costa, e fez um trabalho muito ativo na recuperação judicial e financeira.”
As ações da Light fecharam ontem (24/6) a R$7, com valorização de 65% em 12 meses. Os papéis chegaram a R$1,62 em abril de 2023.
O RETORNO
Segundo o investidor, a retomada da Light após a RJ envolverá investimentos “pesados” nas operações, e representa também um “compromisso com o Rio” e com os 120 anos de história da empresa– fundada por capital canadense, chegou ao Brasil nos anos 1900 para instalar linhas de bonde e serviços de iluminação pública em São Paulo e depois Rio de Janeiro.
“Será uma empresa que, no balanço no final do ano, acontecendo essas etapas, será totalmente diferente de três anos atrás. É a tal história, tem essas etapas por vencer, mas elas já estão todas contratadas”, acrescentou.
“Já estivemos em uma situação que não se sabia se ia ter saída, se a recuperação judicial ia conseguir esse sucesso que obteve, de acordo com 99% dos credores. A diretoria está unida e o conselho está unido. O grupo de acionistas tem um compromisso claro com a recuperação de longo prazo”, disse Coelho.
NOVA CONCESSÃO
Por anos, a Light pediu ao governo que a renovação de seu contrato, que vence em 2026, levasse em conta a realidade do Rio de Janeiro: a elétrica hoje perde mais de 30% da energia distribuída devido a furtos e ligações clandestinas, conhecidos como “gatos”.
Ao final, as regras aprovadas pelo Ministério de Minas e Energia (MME) permitem tratamento diferenciado para “áreas de elevada complexidade”, onde empresas não conseguem atuar e cortar ligações ilegais devido ao domínio territorial por traficantes e milícias, com “incentivos compatíveis” a serem definidos em regulação posterior.
“Essa questão foi pacificada. Antes era só um argumento da Light… hoje não há quem não conheça isso no Brasil, talvez só em um Estado ou outro. Então essas etapas foram vencidas, e estamos agora em um período em que esperamos para este ano a renovação (da concessão) e o aumento de capital”, concluiu Coelho.
“Isso não é para a Light. Era uma coisa que era vista como um problema do Rio. Mas o Rio é uma questão do Brasil, interessa ao Brasil a recuperação do Rio de Janeiro e todas suas instituições”, defendeu, citando a eleição recente da cidade como a melhor do Brasil para se viver, segundo ranking Global Liveability Index da The Economist.
Ele disse ainda que, no futuro, após o fim do processo de recuperação judicial, a Light poderá até pensar em novos caminhos, como explorar as riquezas de áreas de mata atlântica preservada ao redor de suas operações e os reservatórios de água potável nas hidrelétricas da empresa.
“Eu só vivo disso, estou sempre olhando do outro lado do morro”, afirmou Coelho, ao comentar o otimismo com o Rio de Janeiro– e com a tese de investimento na Light.
(LC | Edição: Gabriel Ponte | Comentários: equipemover@tc.com.br)