Banco tem 15,17% da elétrica

Investimento na Light é 'operação financeira', diz BTG ao pedir aval para transação

Investimento na Light é 'operação financeira', diz BTG ao pedir aval para transação

São Paulo, 05/06/2025 – O BTG Pactual defendeu seu recente investimento na aquisição de fatia minoritária na elétrica Light como “uma operação financeira”, de acordo com documentos enviados ao órgão de defesa da concorrência Cade.

Com o negócio, realizado junto ao banqueiro Danial Vorcaro e por meio de um fundo de investimento em crédito privado, o BTG passou a ter fatia total de 15,17% na Light, que é responsável pela distribuição de eletricidade na região metropolitana do Rio de Janeiro e tem ativos de geração.

O valor da transação não foi revelado, mas o BTG disse que passou a ter 56,5 milhões de ações ordinária da Light, avaliadas em cerca de R$390 milhões pelo atual preço de tela dos papéis.

“Para o Grupo BTG Pactual, a operação é uma operação financeira, em linha com a sua estratégia de investimentos, e representa uma oportunidade de geração de valor para o Grupo BTG Pactual e seus acionistas”, disse o banco de André Esteves ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Em relatório divulgado ontem, o BTG estimou que a Light negocia com um múltiplo de relação entre valor de empresa e base de ativos regulatórios (EV/RAB) de 0,80x após o pedido de recuperação judicial.

“O preço das ações pode mudar bastante para cada mudança de 0,1x no EV/RAB… se o múltiplo EV/RAB da empresa após a recuperação judicial for saltar para 0,9x, a ação deveria ir para R$9,2”, calculou o time de análise do banco.

O time do BTG lembrou que a aquisição da Celpa pela Equatorial, em 2012, foi fechada por 1x EV/RAB, e calculou que um múltiplo nesse nível poderia levar o valor justo das ações da Light a R$12,30. Os papéis fecharam ontem a R$6,34.

Um fator chave para destravar o preço das ações será a assinatura da renovação da concessão da Light para distribuição de energia no Rio, em negociação com o governo federal. O contrato venceria em 2026, e discute-se renovação por 30 anos. A conclusão do processo será o gatilho para conversões de dívidas em ações dentro da reestruturação da elétrica.

Espera-se que o novo contrato providencie tratamento diferenciado para perdas da Light com furtos de energia, o que está previsto em decreto do governo sobre a prorrogação das concessões. A Energisa, que também está renovando contratos de distribuição, estimou recentemente que o processo deve estar concluído até agosto.

INTERESSE EM ENERGIA

Fora a participação na Light, o BTG é o principal acionista da geradora Eneva, com 25,3% da empresa, que tem ativos de gás, termelétricas e um complexo solar.

Ao elevar a fatia na Eneva em uma operação no ano passado, o BTG concordou em fazer da empresa “plataforma de seus investimentos em participações societárias em ativos de geração de energia elétrica e gás natural no Brasil”.

Embora a Light possua uma subsidiária de geração de energia, BTG entende que o investimento na empresa não entra em conflito com o acordo fechado com a Eneva por se tratar de negócio enquadrado como “special situations”, em que o BTG teria um prazo para liquidar a posição, disse uma fonte próxima das empresas.

Além desses ativos, o BTG possui operações em comercialização de energia elétrica e em transmissão de energia, neste último segmento por meio da Tropicália Transmissão.

Criada no Canadá em 1899 para investir em serviços públicos em São Paulo, a Light começou suas operações no Brasil nos anos 1900, com operações de bondes elétricos, depois iluminação pública e telefonia. A empresa mais tarde expandiu para o Rio de Janeiro, foi estatizada e depois re-privatizada nos anos 1990.

HISTÓRICO NO SETOR

Com longo histórico de operações no setor elétrico, o BTG fez seus primeiros negócios na área nos anos 1990, quando ainda era Pactual. Em 1999, uma controlada do banco venceu o primeiro leilão de privatização de empresa de energia no país, realizado no governo Fernando Henrique Cardoso, para venda da Escelsa, do Espírito Santo.

Em 2010, o BTG entrou na comercialização, com a aquisição da Coomex, na época a maior trading de energia independente do país.

Mais tarde, entre 2014 e 2015, o BTG negociou a entrada na Eneva por meio de troca de dívida por ações. O banco era o maior credor da MPX, empresa de energia do empresário Eike Batista que na época havia recebido um investimento da alemã E.On antes de entrar em recuperação judicial.

Mais recentemente, o BTG usaria a Eneva para tentar fechar diversas fusões e aquisições no setor de energia, incluindo uma incorporação da AES Brasil e combinação de negócios com a Vibra Energia, além de uma oferta conjunta com a PetroReconcavo pelo campo Bahia Terra, da Petrobras, embora nenhuma das operações tenha ido adiante.

Na área de transmissão de enregia, o BTG criou a Tropicália para disputar leilões no setor a partir de 2015. Em leilões mais recentes, o BTG participou e venceu a disputa por alguns lotes de projetos com o fundo Warehouse, gerido pelo banco.