Especial - prévia FOMC

Fed deve manter juros, em modo ‘esperar para ver’, apesar de apelos de Trump por corte

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Brasília, 5/5/2025 – O Federal Reserve deve manter a taxa-alvo Fed Funds inalterada na decisão desta quarta-feira, no intervalo entre 4,25% e 4,50%, na terceira manutenção consecutiva, em modo de “esperar para ver”, segundo analistas, em linha com o tom recente utilizado pelo seu chair, Jerome Powell, embora a mensagem contraste significativamente com a pressão pública do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que apela por um corte iminente dos juros.  

O Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) iniciará amanhã a sua reunião de dois dias, e divulgará a decisão na quarta, às 15h00. O chair do Fed, Jerome Powell, falará à imprensa às 15h30, quando deverá ser confrontado com questionamentos envolvendo uma primeira leitura mais fraca do Produto Interno Bruto dos Estados Unidos, os efeitos da política comercial de Trump sobre os preços, e perspectivas para corte de juros ainda neste primeiro semestre.  

Em meados de abril, Powell alertou que as políticas tarifárias de Trump ameaçavam elevar os preços e pressionar para baixo a geração de postos de trabalho. O chair do Fed também voltou a repetir, na ocasião, que o banco central se encontrava “bem-posicionado” para aguardar por maior clareza antes de qualquer ajuste em sua política monetária.  

Em seu duplo mandato, o Fed visa alcançar uma meta de inflação de 2,0%, enquanto promove o pleno emprego na economia local.  

Powell, porém, tem sido confrontado desde o início do segundo mandato de Trump com o risco de uma desaceleração econômica nos EUA, além de um encarecimento dos custos aos produtores e consumidores diante de alíquotas mais elevadas sobre importações – o que ameaça o progresso de desinflação que o Fed fez até o momento.  

Diante de uma incerteza significativamente elevada, Powell tem optado por se apoiar no discurso de “esperar para ver”, aguardando efeitos totais das políticas de Trump. Powell tem utilizado das aparições públicas para destacar que o banco central foca no impacto total de todas as mudanças do governo Trump, e não apenas da política comercial. O plano do secretário do Tesouro, Scott Bessent, visa usar tarifas para financiar cortes de impostos.  

“Um choque positivo na demanda, com flexibilidade fiscal, pode compensar o impacto negativo no crescimento de um choque negativo na oferta, em razão das tarifas. Mas ambas as políticas são potencialmente inflacionárias”, afirmaram analistas do Bank of America em nota a clientes. O BofA também não vê razão para Powell desviar-se de sua mensagem recente, de “aguardar para ver”.  

“Com uma perspectiva estagflacionária impondo riscos em direções opostas a ambos os mandatos do Fed, Powell certamente deverá: reiterar preferência em ser agnóstico sobre qual mandato será mais afetado pelas políticas e destacar que o Fed quer estar certo de que o aumento único nos preços pelas tarifas não leve a uma inflação persistente”, projetaram.  

Também na visão do BofA, a maioria dos membros do FOMC parece alinhada ao discurso de Trump, com exceção do diretor Christopher Waller, que afirmou ter maior confiança de que a inflação desencadeada pelas tarifas de Trump mostre-se “transitória”. 

Em abril, Powell classificou os planos tarifários de Trump como “mudanças fundamentais” que não oferecem às empresas e aos economistas nenhum paralelo claro para se estudar. Desde então, em uma montanha-russa de volatilidade, os mercados acionários zeraram as perdas desde o “Liberation Day”, em 2 de abril. Apesar de variações históricas nos índices dos EUA, o lendário investidor Warren Buffett afirmou na conferência anual da Berkshire Hathaway, no sábado, que os últimos cem dias nos mercados “não foram nada”. 

Além da volatilidade nas bolsas, algumas companhias americanas revisaram ou descontinuaram guidances para este ano, diante das incertezas. As leituras do sentimento do consumidor também pioraram ao longo do período.  

 

FED ´SALVADOR´? 

Powell, por sua vez, descartou anteriormente qualquer tese de “Put do Fed” – ideia de que o banco central irá intervir nos mercados financeiros, como forma de estabilizá-los, após eventos de volatilidade.  

Ao longo desse período, porém, Trump tornou mais vocal a insatisfação contra Powell em falas públicas. Embora tenha reiterado que não irá demitir o chair do Fed do posto antes da hora– algo sem precedente legal e que assustou os agentes de mercado – o republicano exige um afrouxamento monetário pelo banco central, como forma de contrabalancear qualquer impacto que a imposição de tarifas tenha sobre a atividade econômica.  

“Você não deveria criticar o Fed. Você deveria deixá-lo fazer o que quer. Mas eu sei muito mais do que ele (Powell) sabe sobre juros”, afirmou Trump, na última terça-feira, em um comício no Estado do Michigan, em alusão aos primeiros cem dias de governo. De acordo com Trump, a inflação recuou, bem como os preços de energia, enquanto o Fed segue com os juros elevados.  

Um dia depois, na quarta-feira, a primeira leitura do Produto Interno Bruto referente ao primeiro trimestre recuou 0,3%, na base anual, pressionado por um forte avanço nas importações, com alta de 41,3% no período – em uma clara tentativa de antecipação de importações por empresas antes das tarifas de Trump, em 2 de abril. Assim, o BofA entende que o FOMC pode rebaixar a classificação do crescimento econômico a “moderado” ante “sólido”.  

Já na sexta-feira, dados do Payroll reforçaram viés de abordagem paciente pelo Fed no processo de corte de juros. Os EUA criaram 177 mil postos de trabalho líquidos em abril – acima do consenso, de 130 mil – de acordo com o Bureau of Economic Analysis, enquanto a taxa de desemprego permaneceu em 4,2%. Os dados também se seguiram à leitura do PCE de março, que mostrou uma pressão moderada dos preços – ainda que acima da meta de 2,0%.  

O Goldman Sachs passou a projetar retomada de cortes de juros pelo Fed a partir de julho, ante junho, após dados acima do consenso do Payroll de abril. Nesta segunda, as apostas para um corte de juro em junho recuaram a 28%, ante 61% na semana anterior, de acordo com derivativos negociados pela Chicago Mercantile Exchange (CME).  

Nesta quarta-feira, Powell deverá reafirmar o compromisso com a estabilidade de preços, como feito anteriormente, e denotar que a “barra está alta” para qualquer corte de juro ainda em junho. Na visão do BofA, em meio à elevada incerteza, um corte de juro no próximo mês só seria viável caso houvesse argumento “claro e convincente” para a flexibilização. A pausa na imposição de tarifas recíprocas por Trump também durará até o início de julho.  

“Sem estabilidade de preços, não é possível alcançar os longos períodos de condições fortes no mercado de trabalho que beneficiam todos os americanos”, afirmou Powell no Economic Club of Chicago, no mês passado, em um claro viés de que há um elevado nível de exigência para retomada do alívio monetário, desafiando a pressão pública de Trump.  

 

(GP | Edição: Luciano Costa | Comentários: equipemover@tc.com.br)