São Paulo, 22/04/2025 – Os índices acionários na China tiveram recuperação parcial nas últimas semanas, voltando a operar perto dos níveis vistos em 3 de abril, um dia após o “Dia da Libertação”, quando o presidente americano Donald Trump revelou seu plano de tarifas recíprocas, com o mercado apoiado em parte por compras “patrióticas” de ações, segundo reportagem da Reuters nesta segunda-feira.
Na véspera do anúncio de Trump, fundos estatais divulgaram planos de aumentar compras de ações, e empresas controladas pelo governo iniciaram programas de recompra, visando apoiar o mercado. Mas os investidores chineses “de varejo” também foram às compras, com muitos alegando engajamento na “guerra” comercial contra os Estados Unidos como motivação para as operações.
Desde 4 de abril, os mercados acionários chineses receberam um fluxo líquido de 45 bilhões de iuanes em aportes por investidores de varejo, segundo dados da Datayes citados pela Reuters, após saída de 91,8 bilhões iuanes registrada nos seis dias anteriores ao “Dia da Libertação”.
O designer de interiores Cao Mingjie nunca havia negociado ações antes, mas decidiu investir cerca de 2 mil iuanes por mês no mercado acionário depois que Trump lançou praticamente uma “guerra comercial” contra os chineses, com tarifas que podem chegar a até 245% para determinadas importações.
“O objetivo não é fazer dinheiro. É contribuir para meu país”, disse Cao à Reuters. “Todos deveriam fiar ao lado do país até o fim”.
“Ser patriota significa segurar suas ações”, disse à Reuters um alpinista, Zhou Lifeng, acrescentando que continuará fazendo aportes mesmo que tenha perdas financeiras.
O estrategista de ações do UBS Securities para China, Meng Lei, disse à Reuters que compras “patrióticas” de ações “melhoraram significativamente o sentimento do investidor” desde o choque tarifário.
Nesta terça-feira, os índices de Xangai e CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, operavam perto do nível mais alto desde 3 de abril, logo antes da liquidação do mercado desencadeada por Trump. O índice Hang Seng, de Hong Kong, também negocia no nível mais alto desde 3 de abril.
Também apoiada os mercados a expectativa pela reunião de abril do Politburo da China, que provavelmente será realizada nesta semana e deverá incluir uma reavaliação da situação tarifária e decisões sobre políticas de compensação, segundo analistas do Citi citados pela Reuters. Os investidores estão atentos a eventuais medidas para apoiar os preços de ativos e se haverá decisão por uma política cambial de “depreciação oportunista”.
Na quinta-feira, antes do feriado, Trump disse que os EUA “estão conversando” com a China e defendeu acreditar que haverá um acordo.
Oficialmente, a China ainda não reconheceu o início de negociações. Declarações de porta-vozes do governo chinês têm enfatizado que, para iniciar conversas, esperam que os EUA mudem de postura e adotem tom de maior “respeito”, enquanto cobram também demandas mais claras sobre os objetivos das negociações.
Autoridades chinesas têm reiterado que o país é contra uma guerra tarifária, mas não fugirá da briga, prometendo “lutar até o fim” caso necessário.
(LC | Edição: Luca Boni | Comentários: equipemover@tc.com.br)