São Paulo, 19/02/2024 – A Petrobras tem repetido, no governo Lula 3, alguns erros de gestões anteriores da estatal em governos petistas, como tentativas de segurar os preços dos combustíveis, mas essas estratégias não deverão causar estragos tão profundos quanto no passado, defendeu hoje o consultor Adriano Pires, em entrevista à TC News.
Segundo Pires, que é sócio do Centro Brasileiro de Infraestrutura, e chegou a ser convidado a presidir a Petrobras por Bolsonaro, a empresa passou a ser uma grande exportadora de óleo nos últimos anos, e as receitas com essas vendas externas compensam eventuais perdas na área de combustíveis.
“Acho que estamos fazendo uma política de Petrobras olhando o retrovisor, ou seja, aquela Petrobras que era para ajudar a segurar inflação e aumentar a popularidade do governo. Mas agora estamos em um momento diferente da companhia”, explicou Pires, que participou do programa Manhã TC News.
“Lá atrás, quando segurava o preço do combustível, tinha um rombo muito grande nas contas da empresa. A Petrobras ficou com uma das maiores dívidas do mundo”, lembrou Pires. “Agora, mesmo você subsidiando gasolina e diesel, e fazendo essas políticas equivocadas, tem uma proteção ao caixa maior em função dessa receita que é grande e que vai crescer nos próximos anos, de exportação”.
“Então é um momento diferente que a Petrobras está vivendo, que vai permitir que a empresa continue pagando dividenods, mesmo dendo uma gestão, digamos assim… de maior intervenção do governo federal”, concluiu o especialista.
A visão de Pires é similar à de analistas do Itaú BBA, que em relatório nesta semana disse que preocupações com a política de preços da Petrobras podem ter sido exageradas. “Diferente de 10 anos atrás, a Petrobras agora tem uma exposição positiva aos preços do petróleo, como toda companhia de petróleo deveria ter”, escreveu o banco.
Pires foi chamado para a presidência da Petrobras em meados de 2022, no governo de Jair Bolsonaro, mas desistiu devido a restrições das políticas internas da empresa que o obrigariam a vender sua consultoria, CBIE, para assumir o cargo.
Se estivesse hoje à frente da estatal, Pires disse que defenderia foco em exploração e produção de petróleo e a continuidade da venda de refinarias, além de uma política de preços de combustíveis ligada à chamada paridade de importação, abandonada agora no governo petista.
“Acho que a Petrobras está sendo administrada do jeito que o presidente Lula combinou durante as eleições. A Magda está ali para atender aos desejos do governo”, acrescentou Pires, ao comentar sobre a atual diretora-presidente, Magda Chambriard.
IBAMA ´XIITA´
Questionado sobre a pressão do governo Lula para que o Ibama libere licença ambiental para a Petrobras iniciar exploração em uma nova fronteira, a Margem Equatorial, Pires defendeu que os trabalhos na área são importantes para compensar um declínio esperado no pré-sal na Bacia de Santos.
Além da Petrobras, a independente PRIO aguarda há meses licença para trabalhos no campo de Wahoo. Na semana passada, o presidente Lula chegou a dizer que o Ibama precisaria “acabar com a lenga lenga” nos processos.
“Acho que está tendo uma espécie de desconexão entre o Ibama e a própria política do governo. Acho que o Ibama é importante, precisamos de órgão ambiental, de todo cuidado. Agora… acho também que você está tendo ali no Ibama uma posição muito radical, muito xiita em relação ao petróleo”, comentou Pires.
Ele disse que a Petrobras não tem histórico de acidentes graves, nem a indústria petroleira do Brasil, e defendeu a atuação de companhias do setor.
“Hoje, qualquer empresa que cometa um prejuízo, um dano ambiental explorando petróleo, ela no limite vai acabar, as ações dela vão tender a zero”, afirmou, em referência a multas cobradas nesses casos.
Em 2012, a britânica BP foi obrigada a pagar US$4,5 bilhões em multas por um vazamento na plataforma Deepwater Horizon, no Golfo do México, em 2010. Na ocasião, estima-se que cerca de 4,9 milhões de barris de petróleo (aproximadamente 780 milhões de litros) foram despejados no mar, durante 87 dias, até o poço com problemas ser finalmente selado.