Brasília, 17/12/2024 – O Federal Reserve deve reduzir a taxa-alvo Fed Funds em 25 pontos-base na decisão desta quarta-feira, ao intervalo entre 4,25% e 4,50%, imprimindo o terceiro corte consecutivo dos juros, embora investidores e operadores ponderem perspectivas adiante para a trajetória de afrouxamento monetário, diante de uma atividade econômica resiliente, e potenciais mudanças significativas da política econômica a partir de janeiro, quando o presidente eleito, Donald Trump, tomar posse.
O Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) iniciou hoje sua reunião de dois dias, e divulgará a decisão na quarta, às 16h00. O chair do Federal Reserve, Jerome Powell, falará à imprensa às 16h30. A decisão deste mês também contará com a divulgação do relatório trimestral “Dot-Plot”, com mediana de projeções de dirigentes para diferentes variáveis macroeconômicas da economia americana.
Desde setembro, dados da atividade econômica apontam para uma inflação mais firme e um mercado de trabalho menos instável, levantando dúvidas, entre alguns membros do FOMC, sobre a continuidade do ciclo de corte de juros, de acordo com falas em aparições públicas de determinados integrantes. Powell, que objetiva equilibrar os riscos entre reduzir o juro muito rapidamente ou muito lentamente, com potenciais efeitos sobre a inflação e a atividade econômica, tenta encontrar a tração correta neste momento.
“O foco certamente estará na comunicação do Fed a respeito da trajetória futura da política monetária. Esperamos que o relatório de projeções econômicas, e mensagem de Powell, indiquem que o Fed irá reduzir o ritmo de cortes adiante (pausa em janeiro), se os dados evoluírem conforme esperado”, escreveram analistas do Bank of America em nota a clientes.
Em uma decisão de juro amplamente precificada pelos investidores, “o que as autoridades disserem a respeito da trajetória das Fed Funds certamente será mais importante do que qualquer coisa que eles decidam, particularmente”, afirmou o ex-conselheiro sênior de Powell, Jon Faust, ao The Wall Street Journal.
O BofA antevê “Dot-Plot” indicando três cortes de juros em 2025, e uma estimativa de juro neutro maior. “Pensamos que as projeções macro irão indicar uma inflação ligeiramente mais forte no próximo ano, e um maior crescimento no longo prazo. As autoridades não levarão em conta a agenda de Trump em seu cenário-base, mas o balanço de riscos deve dar uma ideia das avaliações a respeito de potenciais mudanças políticas”, complementou o banco.
TRUMP
Ainda que Trump só tome posse em 20 de janeiro de 2025, Powell tem sido questionado, em suas últimas aparições públicas, sobre potenciais efeitos que as propostas do republicano teriam sobre a política monetária. Uma deportação em massa de imigrantes poderia reverter a desaceleração do ritmo de crescimento salarial, e a imposição de tarifas ante parceiros comerciais arriscaria produzir uma reaceleração da inflação, riscos estes que pairam sobre o horizonte da economia americana.
Powell também caminha para a última decisão de juros do ano com os mercados acionários dos EUA e o bitcoin próximos das máximas recordes, na esteira do rali vivenciado desde a eleição de Trump, diante do otimismo em torno do ambiente econômico a ser instalado a partir de janeiro, e sob narrativa de excepcionalismo norte-americano ante pares, o que pode impulsionar o consumo, com os ganhos de renda, minando avanço adicional na trajetória de desinflação.
DADOS
A inflação de preços ao consumidor avançou 2,7% em novembro, na base anual, acelerando ritmo de alta ante observado em outubro, de alta de 2,6%. Ainda que os dados tenham vindo em linha com consenso do mercado, operadores ponderam se a inflação está a caminho de retornar à meta perseguida pelo Fed, de 2,0%, ou se o progresso da desinflação estagnou.
Já o mercado de trabalho encontra-se em um equilíbrio mais complicado, embora dados recentes tenham removidos temores em torno de uma potencial recessão. A economia norte-americana adicionou 140 mil novos postos de trabalho, em média, nos seis meses até novembro, com a taxa de desemprego encontrando-se em 4,2%, consideravelmente acima do nível observado de janeiro, de 3,7%, e abaixo das máximas de 4,3% tocadas em julho. O governo também revisou, para alta, dados do crescimento da renda.
À luz dos dados, Powell disse não haver nada que sugira, no momento, que o comitê esteja com pressa para reduzir os juros. Nick Timiraos, especialista em Fed do Wall Street Journal, avalia que a comunicação recente de membros do banco central sugere que as autoridades fornecerão tom muito mais cauteloso a respeito de cortes adicionais de juros em suas projeções trimestrais, no “Dot-Plot” desta quarta, bem como na entrevista coletiva de Powell.
De acordo com Timiraos, o debate da decisão desta semana irá se concentrar em dois tópicos, provavelmente: a localização do juro neutro – aquele que não estimula e nem contrai a atividade econômica – bem como o potencial de mudanças políticas de Trump. Um corte de 25 pbs, na quarta, ainda posicionaria as Fed Funds acima de um intervalo plausível do nível neutro, que gira entre 2,5% e 4,0%, lembrou o WSJ.
Também em novembro, Powell alertou a operadores de mercado que o Fed não deveria especular ou arriscar suposições a respeito dos efeitos de políticas econômicas defendidas por Trump e seu time econômico, liderado por Scott Bessent, indicado a secretário do Tesouro. No entanto, ainda que seja “cedo” para incorporar o cenário de Trump nas modelagens econômicas, Powell encerrará a última decisão monetária do ano com olhos exclusivamente para 2025.
(GP | Edição: Luciano Costa | Comentários: equipemover@tc.com.br)