Brasília, 17/12/2024 – A ata da mais recente decisão de juros do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central esclareceu que a elevação da Selic em 100 pontos-base, bem como o guidance de duas potenciais altas de mesma magnitude nas próximas duas reuniões, foram unânimes, após agentes de mercado se debruçarem sobre estrutura frasal que o colegiado utilizou no comunicado que se seguiu à reunião, que não explicitava o termo de “unanimidade” entre membros do colegiado.
As informações trazidas pela ata mostram que mesmo diretores do BC indicados pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva, incluindo Gabriel Galípolo, que comandará a autarquia a partir do ano que vem, votaram junto com o atual presidente da instituição, Roberto Campos Neto, encerrando especulações no merado sobre possível divergência.
De acordo com o documento, divulgado há pouco, membros do Copom discutiram duas dimensões, sendo que a primeira envolvia a magnitude da deterioração de curto e médio prazo do cenário de inflação, que “exigia uma postura mais tempestiva para manter o firme compromisso de convergência à meta”. Já a segunda, na visão dos membros, envolvia a materialização de “vários riscos”, tornando o cenário “mais adverso, mas menos incerto, permitindo maior visibilidade para que o Comitê oferecesse uma indicação de como antevia as próximas decisões”.
Após a alta de juros, o presidente Lula voltou a criticar o BC, em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, onde afirmou que a taxa de juros seria “a única coisa errada” com o Brasil hoje.
No final de novembro, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse que o governo está em “contagem regressiva” para a troca de comando no BC, acrescentando esperar “nova direção”, com “políticas técnicas, autônomas, mas comprometidas com o Brasil”.
A afirmação de Costa foi mal recebida por agentes de mercado e até empresários. Poucos dias depois, em evento da Esfera Brasil, o CEO da Isa Energia, Rui Chammas, chegou a questionar Galípolo sobre as falas.
“Um ministro do nosso governo disse ´estamos próximos de ter um BC voltado ao Brasil´. Disse ´eles vivem falando mal do Brasil, estamos em contagem regressiva´. Quando ouço sua fala (Galípolo), fico tranquilo. Temos um BC constitucional, que está fazendo seu trabalho de manter a meta. Quando ouço esse discurso do nosso governo, eu confesso que fico confuso, porque eles estão com expectativas diferentes da sua”, disse Chamas.
TAXA NEUTRA
Também de acordo com a ata desta terça, o Comitê elevou a taxa de juro real neutra em seus modelos de 4,75% para 5,0%, “e seguirá avaliando essa hipótese”. Na semana passada, o Copom elevou a Selic em 100 pontos-base, a 12,25%, e contratou mais duas altas, de mesma magnitude, nas próximas duas reuniões do colegiado, em se confirmando o cenário esperado.
Na ata, o Copom também pontuou que as expectativas de inflação, medidas por diferentes instrumentos e obtidas de diferentes grupos de agentes, elevaram-se em todos os prazos, indicando desancoragem adicional, em meio à percepção dos agentes econômicos sobre o recente anúncio fiscal. “A desancoragem das expectativas de inflação é um fator de desconforto comum a todos os membros do comitê e deve ser combatida.”
Na visão do colegiado, determinantes de prazo mais curto, como a taxa de câmbio e a inflação corrente, e os determinantes de médio prazo, como hiato do produto e expectativas de inflação, se deterioraram de forma relevante. Essa piora, na visão do colegiado, demanda uma política monetária “ainda mais contracionista”.