São Paulo, 14/11/2024 – A empresa de investimentos J&F, que pertence à família Batista, dos donos da JBS, está justificando negociações para aquisição da concessionária de eletricidade Amazonas Energia como uma ‘boa oportunidade’ de expandir as operações do grupo para o segmento de distribuição de energia, segundo documentos vistos pela Mover e Faria Lima Journal.
A J&F, que já atua no setor elétrico por meio da Âmbar, que opera ativos de geração e um gasoduto, está fechando agora a compra da Amazonas Energia, que enfrenta dificuldades financeiras, por meio do fundo de investimentos em participações Milão e do veículo Futura. A operação, que teve forte apoio do governo Lula nos bastidores, segundo diversas fontes, encontra-se sob avaliação do Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência (Cade).
Um plano de transferência do controle acionário da Amazonas Energia para a Âmbar foi aprovado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) no final de outubro, somente após decisão judicial que obrigou a reguladora a autorizar a transação, a despeito de questionamentos de técnicos e alguns diretores a flexibilizações de exigências à J&F, que na prática deverão empurrar uma conta bilionária para os demais consumidores de energia.
As flexibilizações foram permitidas por uma medida provisória do governo federal, que segundo o Ministério de Minas e Energia buscou viabilizar a transferência da Amazonas Energia a um novo dono, devido aos problemas da empresa. Parte da Aneel resistiu, defendendo ajustes que reduziriam custos que vão para os consumudidores de R$14 bilhões para cerca de R$8 bilhões, o que inclusive gerou diversas críticas do ministro Alexandre Silveira. A Aneel ainda tentou obrigar os Batista a garantir um aporte de pelo menos R$10 bilhões na Amazonas, mas decisão judicial reduziu o montante para R$6,5 bilhões.
“A operação proposta representa uma boa oportunidade para o ingresso do Grupo J&F no mercado de distribuição de energia elétrica, contribuindo para o desenvolvimento e para a maior eficiência do setor como um todo no país”, disse a J&F, em documentos enviados ao Cade, nos quais defendeu também que a transação não resulta em “fechamento de mercado” ou problemas para a concorrência.
Segundo a Aneel, o plano de transferência da Amazonas Energia, que hoje pertence ao Grupo Oliveira, flexibilizará obrigações para os novos donos em cerca de R$14 bilhões, valores que serão cobertos por um fundo setorial custeado por encargos na conta de luz de todos consumidores.
J&F AVANÇA EM MEIO A POLÊMICAS
Antes de negociar a compra da Amazonas Energia, a J&F atuava no setor por meio da Ambar, que possui termelétricas, usinas de geração renovável e um gasoduto, além de já ter operado em projetos de transmissão posteriormente vendidos.
Atualmente, a distribuidora de energia do Amazonas é controlada pelo grupo local Oliveira Energia, que adquiriu a concessão em leilão realizado pela então estatal Eletrobras ainda no governo Michel Temer. A empresa foi vendida na ocasião pelo valor simbólico de R$50 mil, menos que um carro popular, devido aos elevados passivos e riscos envolvidos no negócio.
Mais recentemente, sob sinalizações da Oliveira Energia sobre o desejo de desistir do negócio, o governo começou a avaliar alternativas, que levaram à edição final da MP que ao final permitiu a transferência do ativo à J&F.
O ministro Silveira disse que, antes, grupos como o BTG e um fundo israelense chegaram a avaliar a Amazonas, mas ao final apenas os Batista mantiveram interesse. Em diversas ocasiões, o ministro negou qualquer favorecimento ao grupo J&F. “Não importa a cor do gato, o que importa é que ele cace o rato”, disse o ministro.
A transação da J&F pela Amazonas Energia também levantou polêmica devido ao fato de a MP sobre a operação ter saído dias após a Ambar anunciar a aquisição de termelétricas da Eletrobras. Isso porque as usinas compradas estavam expostas ao risco de crédito da combalida Amazonas, e se beneficiaram grandemente com a medida do governo, que repassou as obrigações pelos pagamentos da energia aos consumidores, reduzindo riscos do negócio.