Em linha com previsto pelo mercado

Copom eleva Selic em 25 pbs, a 10,75%; ritmo de ajuste dependerá da ‘dinâmica da inflação’

Copom eleva Selic em 25 pbs, a 10,75%; ritmo de ajuste dependerá da ‘dinâmica da inflação’

São Paulo, 18/9/2024 – O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira elevar a taxa básica de juros, a Selic, em 25 pontos-base, a 10,75% ao ano, em decisão unânime e em linha com o previsto pela maior parte do mercado, pontuando que o ritmo de ajustes futuros na taxa básica dependerá da evolução da dinâmica da inflação.

As próximas decisões e a magnitude do ciclo iniciado “serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, afirmou o Copom, em recado visto como duro, ou “hawkish” por parte do mercado, com leituras de aceleração do ritmo de alta em novembro.

O contribuidor do TC, Alex Martins, destacou o fato de o BC não ter feito nenhum comentário sobre melhorias no cenário desde a última reunião, em 31 de julho, bem como a falta de guidances. “Não só deixa em aberto a opção de acelerar o ritmo, como não se propõe a pôr uma taxa terminal”, afirmou.

O Copom também avaliou haver assimetria altista em seu balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação, citando a desancoragem das expectativas por período mais prolongado como um dos riscos altistas. Uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada, em função de um hiato do produto mais apertado, e uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada também foram apontados como riscos de alta.

Entre os riscos baixistas, o colegiado apontou uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, e os impactos do aperto monetário sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado – sem mudanças frente ao comunicado da decisão anterior, de julho.

A unanimidade na decisão do Copom foi bem avaliada no mercado, que estava atento principalmente ao voto de Gabriel Galípolo, atual Diretor de Política Monetária, que foi indicado pelo presidente Lula para comandar o BC a partir do ano que vem, no lugar de Roberto Campos Neto, que foi alçado ao posto pelo governo anterior, de Jair Bolsonaro.

EXTERIOR

A decisão do Copom segue-se ao corte de 50 pontos-base promovido pelo Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) nesta tarde, resultando em um ciclo monetário dessincronizado entre Brasil e EUA – o terceiro em um período de 15 anos, de acordo com o JPMorgan. A magnitude do ciclo de alívio do FOMC, no entanto, pode diminuir o esforço de aperto pelo Copom, na avaliação de operadores.

Embora o chair do Federal Reserve, Jerome Powell, tenha minimizado riscos de recessão na economia norte-americana, em coletiva de imprensa no meio da tarde, o Copom apontou no comunicado desta noite que “o ambiente externo permanece desafiador”, em função do momento de inflexão do ciclo econômico nos Estados Unidos, o que suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed.

Na avaliação do colegiado, o ambiente externo, marcado por menor sincronia nos ciclos de política monetária entre países, segue exigindo cautela de emergentes – mesma estrutura utilizada na reunião de 31 de julho, que antecedeu o “sell-off” observado nos mercados acionários globais em 5 de agosto.

O Copom também reavaliou o hiato do Produto Interno Bruto ao campo positivo – medida esta antecipada por alguns players de mercado – diante de um dinamismo maior do que o esperado de indicadores da atividade econômica e do mercado de trabalho. “A inflação medida pelo IPCA cheio, assim como medidas de inflação subjacente, se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes”, complementou.

De acordo com o Copom, a resiliência na atividade, pressões do mercado de trabalho, hiato do PIB positivo, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam uma política monetária “mais contracionista”.

O Copom retomou o ciclo de aperto monetário nesta noite diante da desancoragem das expectativas inflacionárias e um balanço de dados preocupante desde a última reunião do colegiado, em julho. Uma taxa de câmbio depreciada em cerca de 1% desde a última reunião e uma atividade econômica acima do consenso, na esteira de um forte mercado de trabalho, justificam a alta de 25 pontos-base na decisão desta noite, na visão de operadores consultados pela Mover.

PROJEÇÕES

Em suas projeções no cenário de referência, o Copom elevou a estimativa de inflação ao fim de 2024 a 4,3%, ante 4,2% estimados em julho. Para 2025, as estimativas avançaram a 3,7%, ante 3,6%. O Copom também projetou inflação de 3,5% no primeiro trimestre de 2026 – horizonte relevante – ante 3,4% estimados em julho.

A projeção para a inflação de preços administrados em 2024 foi revisada a 4,2%, ante 5,0%. Já para 2025, manteve-se em 4,0%. Em seu cenário de referência, o Copom considera a taxa de câmbio partindo de R$5,60/US$, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). O colegiado adota a hipótese de bandeira tarifária “amarela” em dezembro de 2024 e dezembro de 2025.