Especial FLJ - Super Quarta - Copom

Mercado vê Copom optar por cautela e gradualismo, com alta de 25 pbs na Selic para ancorar expectativas

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Brasília, 16/9/2024 – O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) deve elevar a taxa básica de juro em 25 pontos-base na decisão desta semana, a 10,75% ao ano, segundo consenso de economistas consultados pela Mover, optando por cautela diante da desancoragem de expectativas inflacionárias e um balanço de dados preocupante desde a última reunião, embora provavelmente sem sinalizar o ritmo de altas futuras, ou mesmo a extensão do ciclo de aperto monetário.

O Copom inicia reunião de dois dias nesta terça-feira, e divulgará a decisão na quarta-feira, por volta das 18h30, horas após o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) provavelmente lançar mão de um corte de juros na economia norte-americana. O ciclo de política monetária dessincronizado entre Brasil e Estados Unidos, caso se confirme, seria o terceiro desde 2008, de acordo com o JPMorgan.

Para boa parte do mercado financeiro, o BC precisaria elevar juros por unanimidade até para reforçar a credibilidade diante da proximidade do fim do mandato do chefe da autarquia, Roberto Campos Neto, que será substituído pelo diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, escolhido pelo presidente Lula, em meio a temores de que a mudança no comando possa alterar também a direção da política monetária.

Além disso, uma taxa de câmbio depreciada, indicadores da atividade econômica acima do consenso desde julho, um mercado de trabalho apertado e um hiato do Produto Interno Bruto rodando no campo positivo, de acordo com métricas do buyside e sellside, reforçam a leitura de uma atividade econômica mais forte que justificaria aretomada do aperto monetário pelo Copom, na visão dos defensores de uma alta do juro.

Do lado dos preços, as últimas leituras do IPCA trouxeram sinais díspares, com surpresa altista em julho e baixista em agosto, quando registrou deflação de 0,02% na base mensal. Ainda assim, de acordo com a XP, a inflação ao consumidor permanece claramente acima da meta, sem sinais de arrefecimento.

Uma manutenção da Selic em 10,50% ainda seria possível, masnesse cenário o Copom passaria a lidar com os riscos de uma depreciação adicional da taxa de câmbio, bem como de as expectativas de inflação voltarem a subir, o que complicaria ainda mais o trabalho da autoridade monetária, pontuou a XP.

Uma pesquisa da Reuters na semana passada mostrou 36 de 40 economistas apostando em alta de 25 pbs da Selic, e apenas três projetando manutenção. Um único profissional previu aumento de 50 pbs.

Uma das vozes que tem advogado pela manutenção da Selic, o sócio da Meraki Capital, Rafael Ihara, avaliou que o mercado poderia estar “forçando” ao avaliar que Galípolo sinalizou alta de juros em falas recentes, e disse que o BC “não deveria cair nessa” pressão do mercado por elevação da taxa.

FALAS E PROJEÇÕES

A projeção de leve alta na Selic, de 25 pbs, está em linha com sinalizações recentes de autoridades do Copom. O presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, pontuou ao fim de agosto que um ciclo de alta dos juros, caso houvesse, seria gradual, contrariando precificação embutida nos vértices curtos da curva de juros que apontava para alta de até 50 pontos-base da Selic em setembro.

Dias depois, o diretor de Política Econômica da autarquia, Diogo Guillen, corroborou as falas de Campos Neto, e disse ser normal que o gradualismo ocorra em início de ciclos. Investidores, desde então, reduziram apostas de uma alta de maior magnitude da taxa básica de juro. Opções digitais da B3 ao fim desta segunda precificavam 76,5% de chances de alta de 25 pbs, ante 15% de chances de uma alta de 50 pbs. Uma minoria, de 8,5%, projeta juro inalterado.

O Santander também aposta em alta de 25 pbs na quarta, e calcula a Selic alcançando 11,5% em janeiro de 2025, sob leitura “desconfortável” das expectativas de inflação entre os membros do Copom e um balanço de riscos pior que o observado no início do ciclo de corte de juros, em agosto de 2023.

Um mercado de trabalho apertado, em meio ao crescimento dos salários e da renda real disponível das famílias, também pesa para o balanço de riscos do colegiado. Já a taxa de câmbio depreciou-se cerca de 1% desde a última reunião, em julho. No acumulado do ano, o real tem a terceira pior performance ante o dólar, desvalorizando-se cerca de 12%, atrás apenas da lira turca e do peso argentino.

Ainda assim, bancos centrais de economias desenvolvidas embarcaram em um processo de afrouxamento monetário ao longo deste ano que pode, em última instância, atenuar o ciclo de aperto a ser implementado pelo Copom – via um real mais apreciado ante o dólar – embora não observado até o momento.

COMUNICADO

Tão delicado quanto a decisão de política monetária é a redação do comunicado da reunião, que não deve se comprometer com um ritmo de altas futuras – em um momento de elevada incerteza. “O mais eficiente seria uma mensagem aberta, na linha de ‘fazer o que for necessário'”, avaliou a XP em relatório.

Ainda assim, um comunicado “envergonhado” arrisca não produzir o efeito desejado sobre a economia local, afirmou o ex-diretor do BC Tony Volpon, à TC News nesta segunda-feira. “Um ciclo que tende a ser mais curto necessita de posições racionais e duras o suficiente para que a autarquia consiga assegurar seu compromisso com a meta de inflação.”

De acordo com o economista do BTG Pactual, Álvaro Frasson, uma decisão unânime e discursos “uníssonos” serão importantes para a boa condução da política monetária, dado que falas anteriores de Galípolo corroboraram a precificação de início do ciclo com uma alta de 50 pbs, embutida na curva de juro. Campos Neto, posteriormente, sugeriu uma maior suavização, com falas sobre gradualismo ao participar recentemente da feira Expert, da XP.

DESSINCRONIZAÇÃO

Com exceção do Brasil, a América Latina caminha para redução adicional dos juros, em especial o México – emergente que tende a competir com o país por fluxo de estrangeiros, avaliou o Bradesco em relatório. Colômbia e Peru também devem lançar mão de um alívio monetário.

Na visão do Bradesco, o diferencial de juros maior ante o Brasil deve ajudar a trazer a taxa de câmbio para um nível mais apreciado, dado que a taxa-alvo Fed Funds deve recuar 2,0 pontos-percentuais até o fim de 2025, levando o real a se apreciar a R$5,10/US$ ao fim de 2024.

INFLAÇÃO

Nos cálculos da XP, o Copom deve manter as projeções de inflação no cenário de referência em 3,4% no primeiro trimestre de 2026 – horizonte relevante da política monetária. O colegiado também deve elevar a projeção para a inflação ao fim de 2024 a 4,3%, ante 4,2% de julho, ainda segundo a XP, que vê a projeção para 2025 inalterada em 3,6%.

Já no cenário alternativo, o Copom deve revisar a projeção para o primeiro trimestre de 2026 a 3,5%, ante 3,2%. Para 2024, deve revisar a 4,3%, ante 4,2%. Já para 2025, o colegiado deve rever a 3,7%, ante 3,4%.