São Paulo, 5/8/2024 – Os mercados acionários globais arrefeciam no início da tarde desta segunda-feira um maciço “sell-off” visto mais cedo, embora permanecessem em território negativo, após dados cruciais do PMI de serviços dos Estados Unidos para julho reportarem leitura acima do consenso, amenizando momentaneamente temores de uma desaceleração acentuada da economia americana, em conjunto com outros fatores econômicos.
O índice de gerente de compras avançou a 51,4 em julho, de acordo com o Institute for Supply Management (ISM), ante leitura de 48,8 em junho, e acima do consenso dos investidores, de 51,0. Com o dado, Treasuries yields reverteram trajetória de queda para alta, e o índice de volatilidade VIX recuou dos maiores patamares desde abril de 2020, “crash” da pandemia. Em Wall Street, os índices acionários amenizaram queda inicial, assim como na B3, embora seguissem no vermelho.
O presidente do Federal Reserve de Chicago, Austan Goolsbee, minimizou temores de uma recessão econômica nos EUA – reforçada por menor geração líquida de postos de trabalho em julho – mas alertou que o banco central precisa estar ciente de mudanças no ambiente para evitar ser excessivamente restritivo com a taxa-alvo Fed Funds. Ele falou mais cedo à CNBC.
O Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) mantém a taxa-alvo Fed Funds no intervalo entre 5,25% e 5,50% desde julho de 2023, e sinalizou na reunião da última semana que um corte em setembro “estaria na mesa” caso os dados econômicos evoluíssem conforme esperado.
CORTES ANTES?
O estresse de investidores diante de um potencial “pouso abrupto” nos EUA, dúvidas quanto ao “valuation” esticado de companhias tecnológicas, e desmontagens de operações de carry trade resultando em um iene japonês fortalecido ante o dólar americano, levaram o mercado a precificar hoje que o Fed poderia lançar mão de um corte emergencial já nesta semana.
O CEO do TC, Pedro Albuquerque, disse não acreditar que o FOMC realizará reunião emergencial para corte da taxa-alvo Fed Funds já nesta semana, sob racional de que os índices acionários dos EUA ainda operam no campo positivo no acumulado do ano, e possuem espaço para uma realização bem maior.
O cenário base de Albuquerque, gestor do multimercado Cosmos, é de que a forte aversão ao risco observada nos mercados acionários nesta segunda-feira é apenas um “breve furacão” e o momento pode ser oportuno para alocação em ativos de risco. Dados do TradingView indicam que no acumulado do ano, o S&P500 acumula alta de 10,6%, o Dow Jones, 3,74%, e o Nasdaq 100, 8,32%.
No “X”, o ex-diretor de assuntos internacionais do Banco Central Tony Volpon afirmou que o S&P500 terá que “cair muito, muito mais” para o FOMC realizar um corte emergencial dos juros, o que ocorreu em março de 2020.
A equipe do Bank of America também não acredita em corte extraordinário. “Não estamos convencidos de que riscos de recessão cresceram o bastante para nos levar a pensar em grandes cortes emergenciais. A economia está esfriando, mas segue resiliente o suficiente para se manter em expansão”, escreveram. Também de acordo com o BofA, recessões nos EUA não ocorrem sem “layoffs”, que segue “extremamente baixos” entre companhias até o momento.
ESTOURO DA BOLHA?
Na visão da Gavekal, a violenta reversão dos mercados acionários pode ser explicada pelo potencial início de implosão da bolha de Inteligência Artificial nos EUA, temor que há algum tempo assombra parte do mercado, depois da disparada das ações do setor.
“A atual temporada de balanços destaca como – apesar das dezenas de bilhões de dólares investidos em IA – as companhias techs e multinacionais ainda não conseguiram proporcionar uma aceleração significativa nos lucros.”
Na visão da Gavekal, investidores com fortes teses na revolução da IA enxergarão a atual queda significativa dos papéis como uma oportunidade de compra. Já os descrentes avaliarão se o potencial início de implosão da bolha de IA resultará em dificuldades de atração de capital estrangeiro para os EUA, com consequências para o dólar.
No início da tarde, as “Magnificent Seven”, tecnológicas com significativo peso sobre os índices acionários, recuavam significativamente, com papéis da Nvidia perdendo 5,82%, a US$101,03. Todos os segmentos tecnológicos do S&P500 operavam no território negativo, com o setor tecnológico liderando perdas, recuando até 2,91%.
MERCADOS
Os índices acionários S&P500, Dow Jones e Nasdaq 100 perdiam 2,54%, 2,26% e 2,20%, respectivamente. Treasuries yields de dois e dez anos operavam perto da estabilidade, a 3,908% e 3,796%, respectivamente, após desinverterem mais cedo a inversão da curva de yields – presenciada desde julho de 2022. O índice de “volatilidade” VIX subia 43,84%, no maior patamar desde outubro de 2022, após terem alcançado maior nível desde abril de 2020 no início do dia, quando disparou mais de 100%.
No cenário local, o Ibovespa seguia o movimento dos índices americanos e arrefecia o movimento de queda. Por volta das 14h40, o Ibovespa perdia 0,53%, aos 125.181 pontos, ante mínima intradiária de 123.073 pontos. O dólar futuro recuava 0,16%, a R$5,736, após alcançar máxima intradiária de R$5,882.
O movimento do dólar segue pressionado por conta do desmonte de posições de “carry trade”, após a alta de juros a 0,25% pelo Banco Central do Japão (BoJ) na semana anterior e intervenção de autoridades locais na moeda local, o que penaliza as divisas de países emergentes.
(LB + GP | Edição: Luciano Costa | Comentários: equipemover@tc.com.br)