São Paulo, 29/07/2024 – A Petrobras avalia uma potencial aquisição na Namíbia que poderia demandar US$4 bilhões, estimaram analistas do BTG Pactual, acrescentando que essa e outras movimentações recentes da estatal para compra de ativos geram algum risco ao pagamento de dividendos no curto prazo e começam a levantar questionamentos no mercado.
Na última semana, a diretora de Exploração e Produção da Petrobras, Sylvia dos Anjos, disse à Reuters que negocia com a Galp a compra de fatia de 40% no campo exploratório de Mopane, na Namíbia.
Antes, a Petrobras já admitiu conversas sobre um aumento da participação na Braskem e para recompra da refinaria RLAM, na Bahia. Além disso, a Mover publicou que a companhia olha potenciais alvos em geração renovável, e o jornal Estadão noticiou negociações para recompra da Reman, refinaria do Amazonas.
“Embora o nosso modelo já inclua US$2 bilhões em fusões e aquisições, a conclusão de tais transações provavelmente reduziria o espaço em nossas previsões para pagamentos de dividendos,e os investidores exigiriam um prêmio de risco maior para investir em Petrobras”, escreveu o time do BTG.
A projeção de dividendos acima de rivais do setor de óleo e gás vinha sendo um dos principais atrativos para a tese de investimentos na Petrobras, apesar dos riscos políticos associados à empresa. O BTG estima hoje os dividendos com rendimento de 15% ao acionista nos próximos 12 meses, contra níveis mais próximos de 10% das ´majors´ globais.
“Até muito recentemente, temos favorecido a tese de Petrobras em detrimento de todas as ações da nossa cobertura, mas embora continue a ser uma ‘COMPRA’ com base em fundamentos sólidos, começamos a questionar se uma combinação de menos suporte para dividendos e catalisadores de crescimento de produção mais relevantes no curto prazo poderia fazer a PRIO uma história mais convincente nos próximos 12 meses”, apontou o BTG.
CAUTELA EM ÁGUAS ESTRANGEIRAS
O BTG disse ainda que a Petrobras tem “fraco histórico em águas estrangeiras”, o que deve gerar alguma preocupação com a alocação de capital caso a aquisição na Namíbia avance.
“Acreditamos que os investidores não receberão positivamente esta medida… Embora reconheçamos que as decisões no segmento de produção devem ser tomadas com bastante antecedência, recomendamos cautela até que a Petrobras forneça mais dados sobre os seus objetivos no projeto de Mopane”, explicou o BTG.
Analistas da XP também disseram ser “menos construtivos em relação à diversificação da Petrobras para fora de seus principais ativos no Brasil”, e mencionaram que a potencial transação poderia envolver cifras equivalentes a um trimestre inteiro de fluxo de caixa livre para os acionistas.
No primeiro trimestre, a Petrobras somou fluxo de caixa livre de US$6,5 bilhões, com US$3,5 bilhões sendo direcionados para remunerar os acionistas.
O campo de Mopane tem estimativa de 10 bilhões de barris equivalentes, e estaria “relativamente bem precificado”, a um “valuation” de entre US$3 e US$4 por barril não desenvolvido, avaliou a XP.
OLHANDO PARA FORA
Em entrevista à agência EPBR na sexta-feira, a diretora de E&P da Petrobras disse que avalia uma carteira de ativos “não apenas no Brasil”, buscando entrar em novas fronteiras exploratórias, e lembrou que atualmente há dificuldade e demora em processos de licenciamento ambiental para áreas domésticas em regiões como a Margem Equatorial.
“A gente quer ficar no Brasil, gerar emprego e renda. Mas, se a gente não for bem quisto, a gente vai achar em outros lugares”, disse Sylvia.
(LC | Edição: Luca Boni | Comentários: equipemover@tc.com.br)