Brasília, 11/7/2024 – Grandes bancos americanos passaram a projetar que o Federal Reserve deve antecipar para setembro o primeiro corte de juros em anos, após dados benignos da inflação ao consumidor de junho, que reforçam trajetória de desinflação no segundo trimestre e poderiam satisfazer o desejo expresso pelo presidente do banco central, Jerome Powell, de ver “bons dados” para iniciar o ciclo.
Após o relatório de inflação (CPI na sigla em inglês), o JP Morgan disse que agora vê o primeiro corte em setembro, de novembro anteriormente, enquanto o UBS disse esperar que o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) já sinalize na próxima reunião, de julho, que estaria pronto para agir em setembro se os números seguirem na atual tendência.
O JP Morgan pontuou que o CPI foi uma “‘boa notícia’, utilizando as palavras de Powell”, pavimentando caminho para um muito aguardado corte de juro em setembro, seguido por alívios trimestrais.
“Por que não devemos esperar cortes a cada reunião a partir de então? Certamente acreditamos que esse é um risco subprecificado, particularmente se o mercado de trabalho mostrar alívio adicional”, afirmou o JP em relatório.
O UBS também disse ter cenário-base no qual a economia americana teria um “pouso suave”, com cortes de taxas uma vez a cada trimestre a partir de setembro. “No entanto, o Fed poderia provavelmente cortar muito mais agressivamente se os dados enfraquecerem mais”, apontaram os analistas do banco.
DADOS
O CPI mostrou deflação de 0,1% em junho, ante consenso de alta de 0,1%. Na base anual, o CPI reportou desaceleração da trajetória de alta, a 3,0%, ante consenso de alta de 3,1%.
O núcleo do CPI, que exclui itens voláteis, avançou 0,1% na base mensal, abaixo do consenso, de 0,2%. Já na leitura anual, o núcleo do CPI desacelerou trajetória de alta a 3,3%, ante consenso de alta de 3,4%.
O presidente da Inflation Insights, Omair Sharif, disse à Refinitiv que a desaceleração da inflação de abrigos para 0,2% no mês – leitura mais fraca desde agosto de 2021 – foi o desenvolvimento “mais importante” do relatório.
O JP mantém projeção de alta do núcleo do PCE de 0,19% em junho na base mensal, mas pontuou que pode revisar a estimativa após dados da Inflação de Preços ao Produtor (PPI) de junho, amanhã. O núcleo do PCE é a métrica favorita do FOMC para avaliar a trajetória de desinflação da economia americana.
MERCADO ANTECIPA APOSTAS
No início da tarde, derivativos negociados na Chicago Mercantile Exchange (CME) consolidavam apostas de corte de 25 pontos-base em setembro. Investidores projetavam 86,3% de chances de corte de juro no mês de setembro, ante 69,7% projetados na véspera.
Em testemunho perante o Congresso dos EUA nesta semana, o chair do Federal Reserve, Jerome Powell, pontuou estar ciente dos riscos para ambos mandatos do banco central, de assegurar preços estáveis e fomentar o pleno emprego. A taxa de desemprego de junho avançou a 4,1%, maior patamar desde novembro de 2021.
“Fed precisa prestar atenção tanto ao mercado de trabalho quanto aos empregos, em comparação a anteriormente, quando o foco estava nos riscos à inflação”, afirmou Powell na véspera. Ele volta a falar em público na próxima segunda-feira, em evento promovido pelo Economic Club of Washington.