Copom decide sobre Selic

BC deve reduzir juro a 10,75%, e mercado espera sinais para próximas reuniões

Agência Brasil
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Brasília, 18/3/2024 – O Comitê de Política Monetária do Banco Central deverá cortar os juros em 50 pontos-base na decisão da próxima quarta-feira, pela sexta vez consecutiva, para o nível de 10,75% ao ano, segundo projeções unânimes do mercado, mas a grande dúvida é se a autarquia continuará antevendo redução de mesma magnitude “nas próximas reuniões”, como em seus últimos comunicados, de acordo com bancos e economistas.

O Copom inicia sua reunião de dois dias nesta terça-feira, e divulgará a decisão na quarta-feira, por volta das 18h30. O encontro ocorre na esteira de fluxos de dados de atividade local que geraram alguma preocupação para o cenário de preços, denotando que a atividade econômica segue mais forte e as primeiras leituras da inflação ao consumidor do ano surpreenderam para cima.

A inflação no acumulado do ano alcançou 1,25% – equivalente a 41% da meta para 2024, de 3,0% – enquanto o mercado de trabalho segue aquecido, com a taxa de desemprego nos níveis mais baixos em quase uma década. Os rendimentos reais também registraram aumento, em dinâmica já apontada pelo Copom na ata da mais recente decisão de juros, de janeiro.

A orientação futura que o Banco Central incorporou em seus modelos de comunicado desde agosto de 2023, ou “forward guidance”, tem sido ponto de atenção no atual momento entre operadores. Em fevereiro, o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, classificou o “forward guidance” como atividade de alto risco, embora tenha se “pagado” até o momento. Pela sinalização, o Copom se compromete, perante investidores, com cortes de igual magnitude ao menos pelos próximos dois encontros.

A eventual manutenção desses sinais pelo BC, no entanto, está atrelada a uma série de outros fatores – desde o processo de desinflação local e nos Estados Unidos, além da trajetória fiscal. “O adiamento do início do ciclo de cortes de juros americanos, bem como um orçamento menor, podem ter impacto sobre a taxa de câmbio em um contexto de diferencial de juros que já está em trajetória cadente”, afirmou o economista-chefe do Itaú, Mário Mesquita, em relatório a clientes.

 

SINALIZAÇÕES

O Goldman Sachs crê em probabilidade significativa de alteração – ou até mesmo abandono – do “forward guidance” na decisão desta semana. De acordo com o diretor de pesquisa macroeconômica para a América Latina do Goldman, Alberto Ramos, alterar o “guidance” concederia mais “graus de liberdade” ao BC para calibrar a política monetária, em um ambiente complexo de inflação local e cenário externo.

Ramos projeta que o Copom poderá adicionar, na estrutura textual em que trata do “forward guidance”, que será a última reunião em que o colegiado oferecerá uma sinalização para mais de uma reunião adiante. Um outro cenário, segundo ele, estaria atrelado a uma condicionante, apontando que o colegiado espera, “neste momento”, novas reduções de mesma magnitude.

Analistas da XP escreveram em relatório a clientes que o Copom deverá manter o “forward guidance” na reunião deste mês, mas pela última vez. O compromisso com mais dois cortes adicionais de 50 pontos-base cada levaria a Selic ao nível de 9,75%, considerado um “nível seguro”, dado que o juro real giraria em torno de 5,5% a 6,0%.

INFLAÇÃO

A XP também entende que os riscos de a inflação não convergir para a meta no médio prazo aumentaram, dado que algumas medidas do núcleo da Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficaram acima das expectativas nas leituras recentes e os preços do petróleo subiram na margem nos mercados internacionais, ameaçando a atual deflação de custos.

Até o momento, na visão da XP, o Copom deverá manter projeção para o IPCA, em cenário de referência, de 3,5% em 2024. Para 2025, a expectativa deve continuar em 3,2%, embora haja dúvidas se a autoridade monetária revisará para cima as estimativas para o hiato do Produto Interno Bruto (PIB), tendo em vista dados de atividade acima do esperado.

(GP | Edição: Luciano Costa | Comentários: equipemover@tc.com.br)