São Paulo, 12/3/2024 – Em carta de renúncia ao conselho da Vale, o ex-membro independente do colegiado José Penido criticou duramente o processo de sucessão do presidente da companhia, que segundo ele “sofre evidente e nefasta influência política”, e com ataques também à governança.
Os comentários de Penido, em carta vista pela Mover, vêm em momento em que fontes apontam tentativas do governo federal de influenciar na escolha do novo CEO da Vale, com o presidente Lula tentando primeiro indicar o ex-ministro Guido Mantega ao cargo, nome depois substituído por outros candidatos, como o ex-Banco do Brasil Paulo Caffareli. O governo não tem mais participação na mineradora, privatizada em 1997, mas tem influência indireta por meio da Previ, fundo de pensão de funcionários do Banco do Brasil.
Para Penido, o processo “vem sendo conduzido de forma manipulada”, que “não atende ao melhor interesse da empresa”. Ele acusou ainda a formação, no conselho, de “uma maioria cimentada por interesses específicos de alguns acionistas lá representados”.
O ex-conselheiro disse, dos colegas de colegiado, que “alguns” tinham “agendas bastante pessoais”, enquanto outros teriam “evidentes conflitos de interesse”.
“Não acredito mais na honestidade de propósitos de acionistas relevantes da empresa no objetivo de elevar a governança corporativa da Vale a padrão internacional de uma corporation”, apontou Penido, ao renunciar.
Segundo ele, esse cenário torna a atuação como conselheiro “totalmente ineficaz, desagradável e frustrante”. Ele, que tem mais de 30 anos de experiência em mineração, também reclamou dos “frequentes, detalhados e tendenciosos vazamentos para a imprensa”.
Para uma fonte que acompanha o processo de perto, sobrou “paulada para todo mundo”, mas a referência de Penido a conflitos de interesse seria uma menção velada à intenção da acionista Cosan de indicar seu ex-chairman, Luis Henrique Guimarães ao cargo de CEO ao mesmo tempo em que há conversas sobre a venda de um projeto do grupo para a mineradora.
Questionada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) após notícias sobre as negociações para possível compra do Terminal de Uso Privado do Porto de São Luís, no Maranhão, da Cosan, a Vale admitiu em comunicado que avalia constantemente alternativas estratégicas, mas disse não ter qualquer acordo ou decisão fechada sobre o tema.
O conselho da Vale é presidido por Daniel Stieler, indicado pela Previ, que também indicou seu presidente João Fukunaga. Guimarães é o indicado da Cosan ao colegiado, Fernando Gomes representa a Bradespar, e Shunki Komai representa a japonesa Mitsui. Não foi possível falar com os conselheiros sobre a carta de Penido.
(LC | Edição: Luca Boni | Comentários: equipemover@tc.com.br)