Por Patrícia Vilas Boas
Em meio à recente polêmica da Americanas, o bilionário americano Warren Buffett, quinto homem mais rico do mundo, fez alertas sobre empresas que “manipulam” seus lucros. Em sua carta deste ano aos acionistas, presente no relatório anual da Berkshire Hathaway, Buffett faz um alerta: mesmo o lucro operacional pode ser facilmente manipulado pelos gestores que assim o desejarem, o que ele chamou de uma atividade “nojenta” e uma “das vergonhas do capitalismo”.
O alerta de Buffett veio em um mau momento para os controladores do 3G Capital, controladores da Americanas, que sofre as consequências de um rombo contábil de R$20 bilhões. A empresa de Buffett e os fundadores brasileiros da 3G são sócios da Kraft Heinz.
“Essa adulteração costuma ser considerada sofisticada por CEOs, diretores e seus consultores. Repórteres e analistas também aceitam sua existência. Superar as “expectativas” é anunciado como um triunfo gerencial”, escreveu o empresário. “Essa atividade é nojenta. Não é necessário talento para manipular números: é necessário apenas um profundo desejo de enganar. ‘Contabilidade ousada e imaginativa’, como um CEO certa vez me descreveu, tem se tornado uma das vergonhas do capitalismo.”
O criticismo na carta surge em um momento delicado para os sócios do 3G Capital, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, que já fizeram negócios com Buffett por meio da fusão da Kraft Foods com a H.J. Heinz, em 2015, da qual Buffett se arrepende. Em 2018, a empresa do guru dos investimentos perdeu US $2,7 bilhões com a Kraft Heinz e, um ano depois, ele assumiu em entrevista ter “pagado demais” pela Kraft. Mais recentemente, em fevereiro deste ano, seu braço direito ecoou as falas do bilionário, dizendo que a união “não funcionou bem nos últimos anos como seria o ideal”.
O maior investidor do mundo também tece uma série de elogios ao vice-presidente da Berkshire, Charlie Munger, que o acompanha desde os anos 1960. Buffett ressalta a importância de se ter um mentor na vida empresarial. “Encontre um parceiro de alto nível muito inteligente – de preferência um pouco mais velho que você – e ouça com atenção o que ele diz”, diz Buffett. Munger, de 99 anos, é sete anos mais velho que Buffett, 92.
A Berkshire Hathaway é acionista majoritária de gigantes como American Express, Bank of America, Chevron, Coca-Cola, HP Inc. e Moody. Suas apostas, por vezes acertadas e lucrativas, tornaram-na um dos maiores conglomerados empresariais do mundo. “Charlie e eu não somos corretores de ações; somos corretores de negócios”, justifica Buffett.
Mas nem tudo são ganhos. O bilionário americano também relembra em sua carta os erros cometidos – e como isso serviu de lição para que não se repetissem mais.
“A lição para os investidores: as ervas daninhas perdem importância à medida que as flores desabrocham. Com o tempo, são necessários apenas alguns ‘vencedores’ para dar certo. E, sim, começar cedo e viver até os 90 anos também ajuda.”