Por Gabriel Ponte
Os rendimentos dos títulos da dívida dos Estados Unidos de longo prazo têm enfrentado volatilidade crescente. De um lado, esse movimento é fruto de uma maior emissão de títulos por parte do governo americano para financiar seu crescente déficit fiscal. Por outro, os investidores vêm exigindo mais prêmio no mercado, de olho na inflação persistente e em juros elevados por mais tempo do que o previsto na economia americana.
Apenas entre fim de julho e meados de agosto, os rendimentos dos bonds do governo de 30 anos saltaram mais de 45 pontos-base, renovando máximas desde abril de 2011 na última quinta-feira. Hoje, sobem 8,8 pbs, para 4,467%. Já os rendimentos dos Treasuries de dez anos, que superaram hoje o maior nível desde 2007, já subiram quase 40 pontos-base desde o fim de julho.
Em 31 de julho, o Tesouro projetou que o montante a ser ofertado em leilões no terceiro trimestre deste ano deverá somar US$1,01 trilhão, acima da estimativa de maio, de US$733 bilhões, em razão de um menor saldo de caixa, além de expectativas de maiores despesas no período. Um dia depois, a agência de classificação de riscos Fitch rebaixou o rating dos EUA, citando um cenário de deterioração fiscal.
Os investidores já se preparam para uma economia em que os rendimentos tenham de oferecer retorno superior a 5%, segundo analistas. Gestoras como a BlackRock e a Pacific Investment Management Co. apontam que a inflação pode permanecer persistentemente acima da meta média do Federal Reserve, de 2,0%, deixando a porta aberta para novas altas de juros.
Pesa também sobre o comportamento dos yields americanos a decisão do Banco do Japão (BoJ), no mês passado, de tornar mais flexível seu controle da curva de rendimentos, ao relaxar o teto para as taxas dos títulos de longo prazo. A decisão, que constitui um passo inicial ao fim da política monetária ultrafrouxa do país asiático, abre caminho a uma potencial elevação dos juros.
Um aperto monetário pelo Japão tem o potencial de elevar os rendimentos dos títulos da dívida japonesa, tornando a aplicação em Treasuries menos atrativa para os investidores do país. Entre os principais detentores estrangeiros da dívida americana, o Japão é o maior comprador de Treasuries, segundo dados oficiais.
“Os eventos recentes são todos capazes de contribuir para uma elevação do prêmio de risco, evidenciada pela concentração do avanço dos Treasuries no trecho longo da curva de juros”, afirmou o economista-assistente da Capital Economics, Bradley Saunders, em relatório a clientes.
APERTO QUANTITATIVO
Em outra ponta, os rendimentos dos títulos de longo prazo também têm sido afetados pelo enxugamento de liquidez que o Fed realiza no mercado desde o ano passado, quando anunciou seu plano de redução do balanço patrimonial.
Desde meados de 2022, o Fed começou a reduzir gradualmente seu balanço patrimonial, após ter lançado um programa de recompra de títulos em 2020 para injetar liquidez no sistema financeiro devido à pandemia da Covid-19. Por meio do aperto quantitativo, o Fed permite que os títulos do seu balanço maturem sem realizar uma reposição destes.
Assim, por meio do mecanismo, quanto mais o Tesouro reduz seu balanço patrimonial, mais ele dependerá do público para se financiar, por meio do leilão de títulos. O balanço patrimonial do Fed, que chegou a beirar o patamar de US$9,0 trilhões em meados de 2022, encontra-se hoje próximo de US$8,0 trilhões.
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