Por Luciano Costa, Artur Horta e Ana Luiza Serrão
As empresas listadas no Ibovespa tiveram uma temporada de balanços do segundo trimestre (2T23) com recuo nos lucros, receita e resultados operacionais, principalmente devido ao impacto da queda de preços de commodities, como petróleo, minério de ferro e carnes, que impactaram negativamente desde Petrobras e Vale até os frigoríficos JBS, Marfrig e Minerva.
A equipe do Bank of America para a América Latina calculou que os lucros por ação, que caíram 40%, em média, tiveram o pior desempenho desde o segundo trimestre de 2020, quando efeitos da pandemia de covid-19 fizeram os valores das matérias-primas derreterem. Desconsideradas as commodities, o recuo seria de 9%.
Entre os destaques positivos, o BoFA listou os setores de seguros, com Porto e BB Seguridade, telecom, com fortes balanços de Vivo e TIM, e shoppings. Bancos, bens de capital e empresas de energia e saneamento tiveram resultados mistos. Processadores de carnes e minério de ferro foram os pontos negativos.
Confira a seguir os destaques:
PETROLEIRAS
A Petrobras lucrou R$28,7 bilhões, recuo de 47% ano a ano, com os menores ganhos já esperados devido ao recuo nos preços do petróleo e valorização do real, que impactaram todo o setor, além da queda nas margens de refino. Entre as “junior oil”, o Itaú BBA destacou desempenho da PRIO, com lucro 9% acima das projeções e redução no custo de extração para patamar recorde. A 3R superou consensos, e a PetroRecôncavo mostrou forte produção, mas foi afetada negativamente por restrições ao escoamento de gás.
MINERADORAS E SIDERÚRGICAS
Os setores tiveram um trimestre de desaceleração, em meio a menores preços do minério de ferro, queda do dólar ante o real e dados econômicos fracos, sobretudo na China. O cenário, embora tenha sido de queda do faturamento e lucro da maioria das empresas, ficou em linha com as expectativas dos analistas. O resultado da Vale caiu 78% ano a ano, para US$4,57 bilhões. A Gerdau viu o lucro recuar 50%, para R$2,1 bilhões de reais.
Para analistas do BB Investimentos, a Usiminas foi impactada pela queda do volume de vendas e maiores custos de produção por tonelada. Já a CSN, embora tenha registrado um maior volume de vendas, também teve margens pressionadas pelo cenário de custos elevados e menores preços
BANCOS
Itaú Unibanco e o Banco do Brasil foram considerados os melhores balanços entre os “bancões” no período, com o BTG destacando o Itaú como melhor desempenho e o Santander como decepcionante e fraco. Já o Bradesco foi fraco em suas linhas operacionais, conforme as expectativas, segundo a Genial Investimentos.
ELÉTRICAS
A Eletrobras reportou o melhor balanço desde a privatização, com lucro de R$1,6 bilhão, avanço de 16% ano a ano. A Eneva foi outro destaque positivo, ampliando exportações para Argentina e Uruguai, e Light e Equatorial ficaram na ponta negativa, segundo o Santander Investment. A Engie, por sua vez, surpreendeu com resultados um pouco abaixo do previsto e considerados fracos pelo Itaú BBA, além de um menor dividendo.
SAÚDE
A Hapvida mostrou resultado operacional melhor do que as expectativas do mercado e do BTG Pactual, com balanço forte e confiança dos investidores em um ‘turnaround’, apesar do prejuízo líquido de R$161 milhões. Fleury, Rede D’Or e Raia Drogasil apresentaram dados em linha com o esperado. Já a Pague Menos reportou um trimestre fraco, mas com aumento de capital sendo um bom sinal, de acordo com o Itaú BBA.
EDUCAÇÃO
A YDUQS superou as projeções e apresentou um balanço sólido no segundo trimestre, com ticket médio crescendo em todos os segmentos, destacou o BB Investimentos. Cogna, Ser Educacional e Cruzeiro do Sul também tiveram bons resultados e superaram expectativas no período. Ânima Educação, por outro lado, divulgou resultados fracos como o esperado, com prejuízo e desempenho pior que os pares, de acordo com o Itaú BBA.
VAREJO
A C&A apresentou segundo trimestre “decente”, conforme o BTG Pactual, com forte geração de caixa, e lucro líquido de R$4,2 milhões, ante prejuízo de R$12,4 milhões estimado no TC Consenso. Lojas Renner, apesar do lucro líquido de R$229 milhões, teve um trimestre difícil, mostrando errando no sortimento, na precificação e no “timing” das coleções, segundo a Genial Investimentos.
Magazine Luiza e a Via Varejo também anunciaram resultados fracos, com prejuízos líquidos de R$301 milhões e R$492 milhões, respectivamente. No caso da Magalu, a Genial destacou as perspectivas otimistas à frente, com a queda de juros, enquanto o Santander avaliou que um plano de transformação divulgado pela Via junto com o balanço pode marcar um “ponto de virada” para a companhia.
MERCADOS E ATACAREJO
O Carrefour Brasil superou as baixas expectativas do mercado, mesmo com um prejuízo líquido de R$249 milhões no segundo trimestre, enquanto o Assaí teve lucro por ação abaixo de consensos. O GPA apresentou balanço misto, com prejuízo líquido de R$330 milhões, em meio à rentabilidade pressionada e à melhora das vendas nas lojas Pão de Açúcar, de acordo com o BB Investimentos.
PAPEL E CELULOSE
Suzano e Klabin também foram negativamente afetadas pela dinâmica de menores preços das commodities e a queda do dólar ante o real entre abril e junho. Analistas do BTG Pactua, elogiaram a manutenção dos custos e da alavancagem das companhias em níveis saudáveis como pontos positivos dos balanços.
CONSTRUÇÃO CIVIL
O setor mostrou forte recuperação após seguidos períodos de queima de caixa e alta de preço dos insumos. Incorporadoras que atuam em programas habitacionais para baixa renda – como Tenda, MRV, Cury e Direcional – ficaram blindadas do alto patamar da taxa de juros e melhoraram tanto as vendas quanto a rentabilidade dos empreendimentos, reduzindo o nível de endividamento. No setor de média e alta renda, a Cyrela, maior do setor em valor de mercado, registrou lucro líquido de R$279 milhões, alta de 85% ano a ano.