FED garante depósitos para impedir corrida bancária após o colapso do Silicon Valley Bank

Após o colapso do SVB, reguladores americanos fecharam ontem o Signature Bank, diante do que consideram "risco sistêmico"

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Por Patrícia Lara

A possibilidade de a taxa de juros americana ficar inalterada em março entra no radar à medida que os mercados abrem a semana apreensivos com a solidez do sistema financeiro após o colapso do Silicon Valley Bank. O Federal Reserve, banco central americano, anunciou, em comunicado no último domingo, que disponibilizará financiamento adicional para ajudar a garantir que os bancos tenham a capacidade de atender às necessidades de todos os seus depositantes. Ontem, o presidente norte americano, Joe Biden, procurou acalmar os clientes que o sistema bancário é seguro.

Mas os desdobramentos continuam a surgir. Após o colapso do SVB, reguladores americanos fecharam ontem o Signature Bank, diante do que consideram “risco sistêmico”. Em comunicado, o Departamento de Serviços Financeiros dos Estados Unidos revelou ter assumido controle do banco, que dispõe de cerca de US$110,36 bilhões em ativos e US$88,59 bilhões em depósitos.

As negociações de derivativos apontam nesta manhã uma probabilidade de 19,5% de a taxa de juros americana seguir na faixa entre 4,50% e 4,75% no próximo encontro do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) do Federal Reserve em 21 e 22 de março. Essa hipótese inexistia na precificação desses mesmos derivativos no dia 10 de março, segundo dados compilados na Chicago Mercantile Exchange. O Goldman Sachs é uma das instituições que passaram a apostar em taxa inalterada, segundo o colunista do The Wall Street Journal, Nick Timiraos.

A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, afirmou ontem que o governo quer evitar o “contágio” financeiro após a falência do SVB, mas descartou um resgate da instituição.

Calibrando a apreensão e os esforços de contenção dos danos do SVB, os futuros dos índices acionários americanos têm sinais mistos, com queda de 0,29% do Dow Jones, estabilidade do S&P 500 e alta de 0,57% do referencial do Nasdaq, perto das 7h28. Mas as bolsas europeias ainda amargam perdas de mais de 2%, puxadas pelo tombo de ações de bancos, assim como de seguradoras e de outros papéis do setor financeiro. O HSBC concordou em comprar a unidade do SVB no Reino Unido por 1 libra esterlina, o equivalente a R$6,30.

Com a revisão das expectativas para o FOMC e a cautela nos mercados, o investidor busca ativos mais seguros como os títulos do Tesouro americano, que têm forte alta em seus preços e queda no rendimento projetado, que seguem direções opostas dos preços. O juro do Tesouro de 10 anos recuava 16 pontos-base para 3,543%. O rendimento do Tesouro de 2 anos estava em 4,222%, com baixa de 37 pontos-base.

O investidor também reduz posição no dólar americano, penalizado pela diminuição da expectativa de alta de juros nos EUA. O Índice Dólar DXY, que mede a variação da moeda frente a uma cesta de divisas, recuava 0,51%.

As commodities operam sem direção definida nesta manhã. O preço do minério de ferro fechou a sessão na Bolsa chinesa de Dalian em alta com sinais de melhora da lucratividade de siderúrgicas e perspectiva de demanda sólida do país asiático. Já a cotação do barril de petróleo Brent recuava com preocupações sobre a demanda do consumidor norte-americano.

Em meio aos desdobramentos externos, a Nu Holding, controladora do Nubank, informou que não tem exposição ao Silicon Valley Bank. Os papéis do banco digital cediam 3,12% no pré-mercado de Nova York, após um tombo de 5,27% na sexta-feira.

Aqui, o índice do setor financeiro perdeu 2,35% na sexta-feira, retratando um desempenho bem pior do que o Ibovespa, que caiu 1,38%.

A bolsa brasileira volta a fechar mais cedo hoje, às 17h00. A agenda do dia no Brasil traz a pesquisa Focus com projeções dos analistas para as principais variáveis econômicas e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, participa da Reunião Bimestral de Presidentes de Bancos Centrais, promovida pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS), em Basileia, Suíça. O evento é fechado à imprensa.

MERCADOS GLOBAIS

O índice VIX, que mede a volatilidade implícita para as opções do índice S&P500, apontava um salto de 10,49%, a 27,39 pontos.

O futuro do petróleo Brent para entrega em maio cedia 1,64%, a US$81,42 o barril.

O ouro era um dos abrigos para os investidores na busca por segurança. O contrato para entrega em abril subia 1,11%, a US$1.887,70 a onça-troy.

O minério de ferro subiu 0,5% na bolsa chinesa de Dalian, a 929 iuanes, ou o equivalente a US$134,63 a tonelada.

O Bitcoin recuava 0,96% nas últimas 24 horas, a US$21.880; o Ethereum perdia 1,13% no mesmo período.

MERCADOS LOCAIS

O índice EWZ, que replica as ações brasileiras no exterior, subia 0,33% no pré-mercado americano.

Os contratos de juros futuros na B3 devem recuar, seguindo o ajuste em baixa das taxas externas.

DESTAQUES

A quebra do Silicon Valley Bank (SVB) poderá acelerar o corte nos juros aqui no Brasil, avalia fonte do governo brasileiro não identificada. (Valor)

Órgãos do setor financeiro nos Estados Unidos anunciaram ontem o fechamento de mais um banco: o Signature Bank, com sede em Nova York. A decisão foi anunciada dois dias depois de autoridades da Califórnia fecharem o Silicon Valley Bank, que costumava financiar startups. (Agências)

Os reguladores da Califórnia fecharam na sexta-feira o Silicon Valley Bank e assumiram o controle dos depósitos do banco, de acordo com o Federal Deposit Insurance Corp (FDIC), sistema de proteção de depósitos dos Estados Unidos. Na quinta-feira, os clientes retiraram US$42 bilhões em depósitos do SVB, de acordo com o Departamento de Proteção Financeira e Inovação da Califórnia, levando a um saldo negativo de caixa de US$958 milhões. (Mover/The Wall Street Journal)

O órgão fiscalizador financeiro alemão BaFin impôs uma moratória sobre a filial alemã do Silicon Valley Bank, bloqueando temporariamente quaisquer pagamentos para clientes. O regulador bancário enfatizou que a filial alemã do extinto credor americano não tinha importância para a estabilidade do sistema financeiro do país. (Financial Times)

Gestores de Venture Capital e executivos de tecnologia esforçam-se, desde a semana passada, para entender e explicar as possíveis repercussões da falência súbita do SVB. O colapso do banco representa a maior falência de uma empresa do setor bancário desde a crise econômica de 2008. (CNBC)

O banco digital Nubank negou ter “qualquer exposição” ao Silicon Valley Bank, após boatos sobre o assunto circularem nas redes sociais e em grupos de WhatsApp. (Mover)

Apesar de estar em um estágio avançado na confecção do novo arcabouço fiscal, o governo ainda não decifrou um elemento crucial para garantir a estabilidade da nova âncora: como manter o crescimento de arrecadação acima da despesa pública em um cenário de frustração de receitas, de acordo com fontes ouvidas. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), garantiu que apresentará ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a estrutura do novo arcabouço nesta semana. (Mover)

Na China, dados da indústria e a última pesquisa da consultoria Mysteel junto a 247 siderúrgicas chinesas mostraram que a taxa geral de utilização da capacidade do alto-forno subiu pela nona semana consecutiva, após alta de 0,89 ponto percentual para 88,03% de 3 a 9 de março.

AGENDA

Boletim Focus (Brasil) – O Banco Central publicará o Boletim Focus semanal, que resume estatísticas calculadas segundo as expectativas de mercado. Divulgação: 08h30.

Agenda política (Brasil) – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, participa de evento do Valor Econômico em Brasília sobre reforma tributária e os desafios econômicos no Brasil, a partir das 10h00.

Expectativas de inflação (Estados Unidos) – O Federal Reserve de Nova York divulgará as expectativas de inflação dos consumidores de fevereiro. Divulgação: 12h00.

Agenda política (Brasil) – Haddad também estará presente na 84ª Reunião Geral da Frente Nacional de Prefeitos (FNP) para discutir reforma tributária, às 14h00.

Balança Comercial (Brasil) – O governo federal divulgará a Balança Comercial das duas primeiras semanas de março. Divulgação: 15h00.

Balanços (Brasil) – A Eletrobras, o Banco Inter e a Natura divulgarão seus balanços do quarto trimestre de 2022 após o fechamento dos mercados brasileiros.