Mercado local digere sinalização do Copom de que corte de juros pode ser adiado

Exterior aguarda decisões dos Bancos Centrais da Inglaterra e Europeu, além de refletir a moderação na alta de juros nos EUA

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Por Patrícia Lara

O mercado brasileiro inicia o dia ajustando-se à mensagem do Comitê de Política Monetária (Copom) de que pode adiar o corte de juros diante da conjuntura “particularmente incerta”. Essa indicação pode provocar uma correção na curva de juros, que até ontem embutia uma probabilidade de corte da Selic a partir de agosto.

No exterior, decisões dos Bancos Centrais da Inglaterra e Europeu movimentam o dia, que ainda reflete a moderação do aumento dos juros nos Estados Unidos e sinais do Federal Reserve, o BC americano.

Na primeira reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a Selic foi mantida em 13,75%, em decisão unânime. No comunicado, o Copom observou que a incerteza fiscal e as expectativas de inflação mais altas em horizontes mais longos requerem maior atenção na condução da política monetária.

Na Europa, o Banco Central da Inglaterra deve elevar a taxa de juros em 0,50 ponto percentual, para 4%, em decisão às 9h00, seguida pelo BC Europeu, que deve dar a mesma magnitude de aumento para as taxas na Zona do Euro, para o patamar de 3%, em anúncio previsto para as 10h15.

À espera das decisões, as bolsas europeias sobem e os futuros dos índices acionários americanos têm desempenhos mistos, com o Nasdaq em destaque positivo com avanço de mais de 1%.

Na véspera, o BC americano fez um aumento mais brando de 0,25 ponto percentual da taxa de juros. E em discurso, o presidente do Fed, Jerome Powell, citou que o processo desinflacionário começou, o que foi interpretado como um sinal “dovish”, um termo que indica uma abordagem mais suave na condução da política monetária. Ele disse ainda que a inflação americana pode retornar à meta de 2,0% sem uma desaceleração significativa da atividade econômica.

Sob efeito da sinalização mais branda do Fed, o dólar americano prolongava a queda, com o Dollar Index, que mede a variação da moeda ante uma cesta de divisas, aproximando-se de 101 pontos. Os rendimentos dos títulos de dívida do Tesouro americano de curto prazo operam perto da estabilidade, com a taxa de dois anos em alta de 0,2 ponto-base, a 4,115%, já o de 10 anos cedia 1,1 ponto-base, a 3,409%.

O clima externo ainda é embalado pelo resultado da Meta, a dona do Facebook, que via suas ações dispararem após anunciar ontem receita acima do esperado no quarto trimestre.

No Brasil, o noticiário corporativo segue pesado com a Oi em foco, após a companhia requerer tutela de urgência cautelar, o que abre caminho para nova recuperação judicial. Os investidores ainda lidam com os desdobramentos do caso Americanas.

Outro desdobramento negativo para a Bolsa vem do minério de ferro, que caiu 3,8% na Bolsa chinesa de Dalian. As importações e exportações da China estão enfrentando um ambiente “extremamente severo” devido aos riscos crescentes de uma recessão global e à desaceleração da demanda externa, disse uma autoridade do governo nesta quinta-feira.

Já na política, Rodrigo Pacheco (PSD) foi reeleito ontem para a Presidência do Senado e Arthur Lira (PP) na Câmara em um desdobramento considerado uma vitória para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda que a oposição bolsonarista tenha demonstrado relativa força política entre os senadores. Os dois deram sinais favoráveis para a reforma tributária.

No noticiário corporativo, o Santander informou nesta manhã lucro gerencial de R$ 1,69 bilhão no quarto trimestre de 2022, abaixo do consenso colhido pela Mover, de R$ 2,65 bilhões.

MERCADOS GLOBAIS

-O futuro do petróleo Brent para entrega em abril cedia 0,28%, a US$82,61 o barril.

-O Bitcoin subia 3,56% nas últimas 24 horas, a US$; o Ethereum disparava 6,12% no mesmo período.

MERCADOS LOCAIS

-O índice EWZ, que replica as ações brasileiras no exterior, estava estável no pré-mercado americano, com os ADRs da Vale e da Petrobras xxx e xxxx.

-Os contratos de juros futuros na B3 fazem ajuste ao sinal do Copom, que esvaziou a possibilidade de alívio da Selic neste ano, enquanto ficam sensíveis aos lotes do leilão habitual de prefixado pelo Tesouro.

DESTAQUES

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil decidiu manter a taxa básica de juros Selic no nível atual nesta quarta-feira, de 13,75%, em linha com o consenso, e alertou para uma conjuntura “particularmente incerta” no quadro fiscal, que requer maior atenção na condução da política monetária. (Mover)

Para o Goldman Sachs, o Copom sinalizou que pode precisar manter a taxa de juros inalterada por um período mais prolongado do que o cenário base dos analistas, segundo relatório assinado pelo diretor de pesquisa econômica para América Latina, Alberto Ramos. O banco americano espera que o BC fique parado até o terceiro trimestre deste ano, quando deve iniciar gradualmente um corte, ou até mesmo depois disso. No curto prazo, o risco de a Selic ser elevada ainda mais é considerado muito baixo. (Mover)

O Bofa Securities ainda vê cortes da Selic no segundo semestre de 2023, com início em agosto, em um processo que levaria a taxa a 11,75% no fim do ano, segundo relatório assinado pelo chefe de economia para Brasil e de estratégia para América Latina, David Beker, e a economista para Brasil, Natacha Perez. (Mover)

A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, disse, em mensagem, que o BC colocou um trecho novo em que destacou que a política monetária e inflação são afetadas pelo risco fiscal. Também mostrou reação à desancoragem das expectativas de inflação. Outro ponto relevante e “não usual” foi a referência ao Conselho Monetário Nacional. “Pareceu uma reação a essa elevação das expectativas, mas também uma reação mais institucional”, disse. (Mover)

“Há duas questões importantes na comunicação. A primeira, uma preocupação com as expectativas de inflação, que estão divergindo, e a segunda é o fato que, neste cenário, é provável que o BC mantenha o juro parado por mais tempo”, afirmou o economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani. (Mover)

Com projeções de inflação que se afastam ainda mais do centro da meta e uma linguagem bem mais dura, o Copom indica que “o espaço para cortes de juros é bastante residual”, segundo o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato. (Valor)

A diferença de apenas 17 votos entre Pacheco, reeleito presidente do Senado, e o adversário Rogério Marinho (PL) tornou o bloco bolsonarista de oposição mais forte. Com 49 votos, ante 32 de Marinho, Pacheco saiu enfraquecido para seu segundo biênio no comando da Casa. (Mover)

Na Câmara, Lira foi reeleito presidente com um recorde de 464 votos. Com quórum de 509 deputados e cinco votos brancos, os adversários Chico Alencar (PSOL) e Marcel Van Hattem (Novo) tiveram 21 e 19 votos, respectivamente. (Mover)

Lira e Pacheco focaram seus discursos de vitória na pacificação do país, na importância do diálogo e união dos poderes, mas também na necessidade de independência do Congresso. Eles se mostraram favoráveis à reforma tributária como uma das prioridades do novo ano legislativo, além de demonstrarem comprometimento com a responsabilidade fiscal. “Arcabouço fiscal e tributária são matérias primordiais”, disse Pacheco. “Vamos construir soluções que evitem o populismo fiscal”, enfatizou Lira. (Mover)

O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, afirmou nesta quarta-feira que a inflação americana pode retornar à meta de 2,0% sem uma desaceleração significativa da atividade econômica. As declarações impulsionaram os mercados acionários em Wall Street, e aceleraram as quedas dos juros futuros. (Mover)

O Santander Brasil reportou lucro líquido gerencial de R$1,69 bilhão no quarto trimestre, frustrando o consenso Mover de R$2,65 bilhões, pressionado por um aumento de 18,6% nas provisões líquidas para devedores duvidosos na base sequencial. (Mover)

AGENDA

-Decisão de Juros (Reino Unido) – O Banco Central da Inglaterra decidirá a taxa básica de juros. Divulgação: 09h00. Anterior: 3,5%. Consenso: 4,0%.

-Decisão de Juros (Zona do Euro) – O Banco Central Europeu decidirá a taxa básica de juros para a Zona do Euro. Divulgação: 10h15. Anterior: 2,5%. Consenso: 3,0%.

-Seguro-desemprego (Estados Unidos) – O Departamento de Trabalho americano divulgará os pedidos de Seguro-Desemprego da semana encerrada em 28 de janeiro. Divulgação: 10h30. Anterior: 186 mil. Consenso: 200 mil.

-Encomendas à Indústria (EUA) – O Census Bureau americano divulgará as Encomendas à Indústria de dezembro. Divulgação: 12h00. Anterior: -1,8%. Consenso: 2,2%.

-Discurso BCE (Zona do Euro) – A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, discursará após a decisão de juros na Zona do Euro. Horário: 12h15.

-Balanços (EUA) – Alphabet, Ford Motor, Apple e Amazon divulgarão seus resultados do quarto trimestre após o fechamento dos mercados americanos.

-PMIs (Japão) – O Jibun Bank divulgará a prévia dos Índices de Gerentes de Compras de Serviços e Composto de janeiro. Divulgação: 21h30.

-PMIs (China) – O Instituto Markit divulgará osÍndices de Gerentes de Compras Caixin de Serviços e Composto de janeiro. Divulgação: 22h45.