Por: Luciano Costa
Uma eventual medida do governo para estabelecer um teto ou tabelamento de juros rotativos do cartão de crédito seria “a menos aconselhável possível”, defendeu hoje o presidente da Federação Brasileira de Bancos, Isaac Sidney, ao participar de evento do Bradesco BBI.
A afirmação do Febraban, que representa as instituições financeiras, vem após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ter revelado na semana passada que trabalha em um grupo de estudos sobre uma possível limitação dos juros rotativos do cartão de crédito, a exemplo do que foi feito com empréstimos consignados a pensionistas e aposentados do INSS.
O governo chegou na semana passada a acordo para limitar o teto de juros nessas operações com beneficiários do INSS a no máximo 1,97%. Antes, o Conselho Nacional de Previdência Social havia definido teto de 1,70% para a modalidade, o que gerou protestos de bancos, que cortaram as operações.
Sidney, da Febraban, disse que esse foi um caso “emblemático” e “pedagógico”, uma vez que 95% da oferta de empréstimo consignado ao aposentados foi suspensa após a redução forçada de taxas.
“Isso significa que, quando há uma intervenção sem racionalidade econômica, tanto quanto mais voluntariosa, em qualquer tipo de produto, não só financeiro, você gera distorções em preço, distorções na oferta e na demanda”, afirmou o representante do setor.
Ele defendeu que a solução final para a disputa sobre os consignados mostrou “a importância do diálogo” do governo com os bancos, e pediu “cuidados” nas discussões sobre o mercado de cartões de crédito, que movimenta o equivalente a 21% do PIB, ou 40% do consumo das famílias, o equivalente a cerca de R$2 trilhões.
“Talvez a gente devesse dar alguns passos para trás para entender quais são os problemas, os fatores que influenciam para termos esses patamares elevados de juros. Primeiro, quero deixar um ponto bastante claro: o setor bancário tem todo interesse na redução do spread e dos juros bancários”, afirmou Sidney.
“Tenho afirmado com muita tranquilidade que os bancos não precisam de juros altos para lucrar”, acrescentou ele, ao defender melhorias no ambiente de negócios e o ataque de outras “causas” das taxas elevadas.
Ele comentou sobre o custo de captação, incertezas econômicas, incluindo “questões fiscais”, além de uma enorme oferta de compras sem juros no cartão de crédito, que acabam segundo ele aumentando a conta de quem usa o crédito rotativo, em uma espécie de “subsídio cruzado”.
Segundo o presidente da Febraban, ainda é preciso levar em conta a inadimplência do rotativo do cartão, em torno de 40%, “elevadíssima para os padrões de inadimplência de todas carteiras”.