Inflação no Brasil tem viés de alta, e mudar meta elevaria a pressão sobre o indicador, diz economista do Itaú

Segundo Mário Mesquita, inflação brasileira caminha para fechar o ano em cerca de 5,8%

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Por: Luciano Costa e Gustavo Boldrini

A inflação brasileira caminha para fechar o ano em cerca de 5,8%, acima da meta de 3,25% do Banco Central, e o viés é de alta, inclusive por incertezas quanto ao rumo da política monetária, disse nesta quarta-feira o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita.

Debates no governo sobre uma possível elevação da meta de inflação para 2024 não ajudam, e podem ainda levar à deterioração das expectativas, disse Mesquita, durante apresentação para jornalistas na sede do banco em São Paulo.

“Como analista, se sobe a meta, eu mudo a projeção de inflação. É o mais natural, e provavelmente aconteceria. Caso a meta fosse alterada, eu muito provavelmente subiria minha expectativa de inflação”, afirmou.

O ministro da Economia, Fernando Haddad (PT), disse ontem que conversou com a ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), sobre a possível mudança nas metas de inflação, decididas pelo Conselho Monetário Nacional. O presidente Lula já defendeu em entrevistas que o atual patamar é um “exagero”, e sugeriu elevação para 4,5%. A meta para 2023 é de 3,25%, e para 2024, de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

“A questão de você não anunciar nada é que a cada semana que passa as expectativas sobem. Quanto mais tempo você ficar sem anúncio, maior o risco de as expectativas subirem. E essa incerteza contribui para manter as taxas de juros de mercado mais elevadas”, disse Mesquita. Ele defendeu, no entanto, que não vê problema em o Brasil trabalhar com a meta atual, e citou outros países como exemplo.

“A meta é 3% no México, no Chile, na Colômbia. No Peru, ela é 2%. Por que o Brasil teria que ser uma economia mais frágil que essas, e por isso teria que perseguir uma meta mais elevada? Por que o assalariado brasileiro teria que conviver com uma inflação mais alta?”

Mesquita ainda afirmou que declarações de Lula e de membros do governo contra o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, também ajudam a deteriorar o cenário.

“Eu fico observando daqui, da planície, e torcendo para que esse ruído se reduza, porque ele acaba batendo na curva de juros. Esse barulho significa custo de financiamento mais elevado”, disse Mesquita.

O economista-chefe do Itaú ressaltou, no entanto, que “esse barulho todo”, de certa forma, reflete o fato de a independência do BC ter sido aprovada recentemente.

Também estão no radar do time de macroeconomia do Itaú as incertezas em relação ao nível da dívida pública. O time tem grande expectativa pela proposta do governo de apresentar um novo marco fiscal até o final do primeiro semestre, dada a derrubada do arcabouço anterior, o Teto de Gastos.

“Estamos em transição. Não temos mais o Teto, mas ainda não se colocou nada no lugar. Temos que ter uma clareza”, afirmou. As incertezas também têm reflexo no câmbio – segundo Mesquita, o dólar poderia estar a R$4,90, se considerados apenas os fundamentos internacionais.

O Brasil precisaria cortar despesas ou elevar impostos em 4% do PIB para conseguir um superávit primário suficiente para estabilizar a dívida, uma vez que o gasto tem crescido 2% reais ao ano, calculou.