Ibovespa pode ter dia turbulento após Copom mais duro que o esperado

O Copom não sinalizou explícita ou implicitamente um corte de juros

B3/Reprodução
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Por: Patricia Lara

O mercado reage ao comunicado mais duro do que o esperado divulgado pelo Comitê de Política Monetária, que manteve a taxa básica Selic inalterada em 13,75% no encontro encerrado ontem. O comunicado removeu a expressão em que antevia a possibilidade de “retomar o ciclo de ajuste”, mas destacou que a estratégia de manutenção da taxa de juros é adequada para a convergência da inflação.

O Copom não sinalizou explícita ou implicitamente um corte de juros na próxima reunião, preferindo indicar a adoção de uma postura mais neutra, o que pode ajustar as apostas sobre o timing do início do ciclo, já que o mercado vinha ampliando a probabilidade de que o primeiro alívio viria já em agosto. Agora, o foco recairá sobre o encontro do Conselho Monetário Nacional que definirá a meta de inflação em 29 de junho.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu à decisão do Copom. O presidente afirmou que o nível da Selic é “irracional” e que a direção do Banco Central joga contra os interesses do País, sem citar o presidente do BC, Roberto Campos Neto.

A postura do Copom repercute em conjunto com a aprovação no Senado do arcabouço fiscal com mudanças, o que faz com que o texto tenha de retornar para apreciação da Câmara. O novo marco foi aprovado por 57 votos favoráveis e 17 contrários. As principais alterações trazidas foram a retirada do Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF), do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e gastos com ciência, tecnologia e inovação dos limites de gastos impostos pelo arcabouço.

No exterior, as bolsas europeias recuam com os Bancos Centrais de países da região promovendo alta de juros antes da decisão monetária no Reino Unido, às 8h00. A maioria dos investidores aposta em alta de 0,25 ponto percentual, mas ganhou força a chance de um ajuste de 0,50pp após um dado de inflação acima do esperado.

Na Noruega, a taxa de juros foi elevada em 0,50 ponto percentual, para 3,75%, em um aumento acima do 0,25pp esperado. Já o BC da Suíça subiu a taxa em 0,25pp, para 1,75%, confirmando as expectativas, mas indicou mais aumentos para assegurar a estabilidade dos preços no médio prazo.

Os futuros de Nova York também recuam na sequência da terceira queda seguida ontem, após o rali das ações de tecnologia, que vinham dando suporte ao mercado, perder força.

O Índice Dólar, que mede a variação da moeda ante pares, cedia. Já o rendimento projetado nos títulos dos Estados Unidos subia, com os investidores avaliando o cenário para as taxas de juros e ainda assimilando os comentários feitos ontem pelo presidente do Federal Reserve, Jerome Powell. Ele disse que mais meio ponto de alta nos juros “parece uma boa aposta”.

Hoje, Powell voltará a participar de audiência no Congresso americano. Ele falará no Senado a partir das 11h00. Outros dirigentes do Fed também participam de eventos públicos. E a agenda nos EUA traz ainda dados de pedido de seguro-desemprego semanal, o índice de atividade do Fed de Chicago e o saldo em conta corrente, às 9h30. Também saem dados de revenda de casas de maio, às 11h00.

A preocupação com o efeito das taxas de juros na demanda pesa no petróleo, com o Brent para agosto em baixa de 1,35%, a US$76,08 por barril. Em razão de feriado na China, o contrato futuro do minério de ferro não foi cotado na Bolsa chinesa de Dalian. Em Cingapura, o minério avançou 0,50% após dados maiores que o esperado de produção de aço na China.

No Brasil, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, gravou um vídeo em 31 de maio que será mostrado no 3º Congresso Brasileiro de Internet (CBI). Campos Neto participará do Encontro anual do Banco de Compensações Internacionais, o BIS, na Basileia (Suíça), de 24 a 25 de junho.

O presidente Lula segue cumprindo agenda em Paris com diversos encontros com presidentes de países como Haiti, Cuba e África do Sul. À noite, o presidente participa de jantar oferecido pelo presidente da França, Emmanuel Macron, aos chefes de delegação da Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global.

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MERCADOS GLOBAIS

Perto das 07h00, os futuros dos índices Dow Jones, do S&P500 e Nasdaq 100 tinham queda de 0,20%, 0,18% e 0,16%, respectivamente.

O índice Stoxx Europe 600 recuava 0,84%, com todos os setores em queda. O índice FTSE 100, da bolsa de Londres, perdia 0,81% e o DAX, da bolsa de Frankfurt, cedia 0,53%.

A maioria das moedas operava em alta ante o dólar americano. O Índice Dólar DXY cedia 0,11%, a 101,96 pontos.

Entre os títulos de renda fixa, o juro dos títulos de 10 anos dos EUA subia 3,3 pontos-base, a 3,754%. A taxa dos gilts, os títulos britânicos, de mesmo prazo avançava 1,8 ponto-base, a 4,422%.

Na Ásia, as bolsas de Hong Kong e Xangai não funcionaram. O Nikkei, da Bolsa de Tóquio, fechou com variação de -0,92% e o Kospi, da Bolsa de Seul, subiu 0,43%.

O Bitcoin subia 0,49% nas últimas 24 horas, a US$30.209; o Ethereum ganhava 0,90% no mesmo período.

MERCADOS LOCAIS

O índice EWZ, que replica as ações brasileiras no exterior, cedia 0,66% no pré-mercado de NY. Ontem, o Ibovespa encerrou no maior patamar desde abril de 2022, aos 120.420 pontos, impulsionado pela ações da Petrobras, e com um volume de R$21,7 bilhões. O índice futuro pode abrir em queda após o Copom afastar as chances de um corte de juros já em agosto.

O dólar futuro pode ceder ante o real, diante do tom duro do Copom

Os contratos de juros futuros na B3 podem subir nas pontas curtas, enquanto as longas devem reagir ao rumo do câmbio. Dia reserva ainda o habitual leilão do Tesouro, com oferta de títulos prefixados Letras do Tesouro Nacional e Notas do Teseou Nacional – seríe F.

DESTAQUES

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu por unanimidade nesta quarta-feira manter a taxa básica de juros brasileira em 13,75% ao ano, e embora tenha retirado do comunicado trecho em que afirmava que não hesitaria em retomar o ciclo de ajuste, não sinalizou a possibilidade de cortes de juros em sua próxima reunião. (Mover)

O Copom fez pequenas mudanças nos fatores de risco destacados no comunicado. O comitê citou, entre fatores altistas, “alguma incerteza residual” sobre o desenho final do arcabouço fiscal a ser aprovado pelo Congresso Nacional, e seus consequentes efeitos sobre a política monetária, a trajetória da dívida pública, da inflação e ativos de risco. No comunicado de 3 de maio, a frase dizia “a incerteza ainda presente sobre o desenho final do arcabouço fiscal”. (Mover)

O Goldman Sachs prevê corte da Selic em agosto ou, pelo menos, um sinal mais explícito de que vira um corte em setembro, segundo relatório assinado pelo diretor de Pesquisa Macroeconômica do Goldman Sachs para América Latina, Alberto Ramos. (Mover)

O comunicado do Copom reforça a tese de corte de 0,25 ponto percentual da Selic em agosto, segundo o economista do BTG Pactual, Álvaro Frasson.Para a economista da AZ Quest, Mirella Hirakawa, se coloca como dependente de dados e de uma lista de fatores que devem ser observados nesse período para iniciar o ciclo de corte de juros, sendo eles a dinâmica de inflação, os efeitos da política monetária, as expectativas e projeções para a inflação, o balanço de riscos e o hiato do produto. (Mover)

A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado adiou a sabatina de Gabriel Galípolo e Ailton Aquino para as diretorias do Banco Central para o dia 4 de julho. A informação foi confirmada pela assessoria do presidente da CAE, senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO). Originalmente, a sessão para avaliar os novos nomes para o BC estava prevista para o dia 27 de junho. (Estado)

Gestoras estão com as carteiras de ações calibradas para aproveitar um muito esperado ciclo de queda de juros no Brasil, previsto para a partir do segundo semestre, que pode impulsionar vários papéis “amassados” ao longo dos últimos dois anos e levar a rentabilidade da bolsa de valores a superar outros ativos no país. (Mover)

O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, afirmou ontem que a decisão da autoridade em manter os juros inalterados no atual patamar, entre 5,0% e 5,25%, não se caracteriza como uma “pausa” no processo de aperto monetário. Powell também endossou tom “hawkish” em suas falas, alimentando apostas entre operadores de que o banco central aubirá mais os juros ao longo do segundo semestre. (Mover).