Por Gabriel Ponte
O Federal Reserve (Fed) deverá manter os juros dos Estados Unidos inalterados na decisão desta quarta-feira (14), interrompendo pela primeira vez o aperto monetário iniciado em março de 2022.
Com isso, o Fed poderá avaliar os impactos de sua política, sem descartar a retomada de altas adicionais, caso a desinflação siga mais lenta que o esperado.
O Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), órgão decisório de juros do Fed, inicia sua reunião de dois dias nesta terça-feira, e divulgará a decisão amanhã às 15h00. O presidente da autarquia, Jerome Powell, falará com a imprensa às 15h30.
Segundo a projeção de bancos americanos, as autoridades do Fed deverão optar por manter o juro inalterado para avaliar os efeitos defasados do aperto monetário promovido no país. Pesa na decisão, também, a recente falência de bancos regionais americanos – e o impacto disso sobre a oferta de crédito na maior economia do mundo.
Embora os números da Inflação de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) de maio, divulgados mais cedo nesta terça-feira (13), tenham mostrado desaceleração da inflação, indicadores do mercado de trabalho continuam apontando para uma economia aquecida nos EUA.
Analistas do Bank of America, liderados por Michael Gapen, escreveram em relatório que ao interromper o aperto neste mês, o FOMC deve sinalizar viés de alta para a trajetória da taxa de juros nas próximas reuniões do comitê.
Já o time de análise do Citibank projeta que o FOMC elevará os juros agora para moderar uma atividade econômica ainda firme, na esteira de dados de mercado de trabalho e inflação “persistentemente fortes”.
Investidores também acompanharão amanhã as projeções dos diretores do FOMC no documento conhecido como “Dot-Plot”, divulgado junto com a decisão de juros. O boletim trará as expectativas dos diretores do Fed para inflação, desemprego, PIB e taxas de juros.
Segundo o Goldman Sachs, as autoridades devem elevar a projeção de crescimento da economia americana neste ano em 0,6 ponto porcentual, para 1,0%, e reduzir a taxa de desemprego em 0,4 ponto porcentual, a 4,1%.
As projeções para o núcleo do PCE em 2023, métrica de inflação preferida do Fed, devem avançar 0,2 ponto porcentual, a 3,8%. O Goldman Sachs não espera grandes mudanças para as projeções de 2024 e 2025.
“Também projetamos que a mediana do ‘Dot-Plot’ deve apontar para mais uma alta das Fed Funds, para o nível terminal de 5,375%”, acrescentou o Goldman, que projeta alta de 0,25 ponto percentual do juro americano na reunião do FOMC de julho.
Caberá a Powell, amanhã, direcionar as expectativas de investidores sobre o futuro da política monetária. Por ora, o S&P500 se encontra em território de “bull market”, após atingir valorização superior a 20% ante as mínimas tocadas em outubro de 2022.
Caso a decisão de juros traga um tom altista para as taxas nas próximas reuniões, ou reforce as preocupações do Fed com a inflação, os mercados poderiam reverter parte do otimismo registrado nas últimas semanas. Do contrário, caso o Fed direcione sua comunicação para o aperto das condições de crédito e as preocupações com uma recessão, o apetite pelo risco recente poderia permanecer no ideário dos investidores.