Fed deve manter juros inalterados, mas com pistas sobre 2024 em relatório

Dot-Plot poderá esclarecer a magnitude da potencial reversão do ciclo de aperto monetário ao longo de 2024

Reprodução/X
Reprodução/X

Por: Gabriel Ponte

O Federal Reserve deverá manter os juros americanos inalterados no atual patamar de 5,25% a 5,50% na decisão da próxima quarta-feira, pela terceira vez consecutiva, mas há expectativa de alguma mudança na linguagem do comunicado pós-reunião, minimizando o viés de aperto monetário sinalizado até então.

O presidente do banco central americano, Jerome Powell, deverá despistar sobre o início do ciclo de flexibilização monetária, mas o mercado estará atento à atualização das projeções para a economia no relatório trimestral conhecido como “Dot-Plot”, que poderá esclarecer a magnitude da potencial reversão do ciclo de aperto monetário ao longo de 2024.

O Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) inicia sua reunião de dois dias nesta terça-feira, e deve divulgar a decisão na quarta-feira, por volta das 16h00. O presidente do Fed, Jerome Powell, comandará uma entrevista coletiva a partir das 16h30.

Dirigentes do banco central já haviam apontado, nas recentes aparições públicas antes do período de silêncio que antecede a decisão de juros, estarem confortáveis com uma nova manutenção das Fed Funds. No entanto, os investidores acompanharão no comunicado da decisão se o banco central assegurará o viés altista para os juros.

Na visão do economista para os EUA do Bank of America, Michael Gapen, o Fed deverá alterar um trecho de seus comunicados anteriores que cita uma potencial “extensão do aperto que pode ser apropriada”, adotando uma linguagem mais equilibrada.

Para os analistas do BofA, a manutenção do viés altista para os juros na reunião desta semana não seria totalmente crível neste momento, diante dos recentes dados de desinflação e moderação da atividade econômica nos Estados Unidos.

Em outra leitura, a equipe do J.P. Morgan crê que um dos principais focos de atenção dos investidores na decisão será a mediana das projeções dos dirigentes para a taxa de juros ao fim de 2024, no relatório “Dot-Plot”.

“É provável o cenário no qual os membros do Fed não endossem as expectativas dos investidores acerca de um ciclo de corte dos juros já nos próximos meses”, afirmou o chefe de economia do JP Morgan para os EUA, Michael Feroli.

Os analistas do JPM apostam em uma revisão para baixo das projeções para o núcleo da inflação ao fim deste e do próximo ano, o que favorece o cenário para um alívio dos juros ao longo de 2024. O J.P. Morgan calcula que o “Dot-Plot” desta semana deverá apontar para um juro terminal de 4,875% ao fim de 2024, ante 5,1% estimados no relatório anterior, de setembro.

No entanto, ainda que o “Dot-Plot” deste mês aponte para um potencial alívio dos juros no próximo ano, Powell, do Fed, deverá despistar quando questionado na coletiva sobre o início do ciclo de flexibilização monetária. Na leitura do JPM, o presidente do Fed deverá reiterar aos investidores que o banco central examina, no momento, se deverá manter os juros inalterados ou se lançará mão de novas altas.

Os dirigentes do Fed têm mostrado relutância em entrar em discussões públicas sobre potenciais cortes de juros, sob temores de que os investidores se antecipem e precifiquem um movimento de magnitude maior do que justificado. Esse comportamento, caso ocorra, poderia reduzir os custos de empréstimos por si só, tornando mais difícil a missão do Fed de assegurar um crescimento suficientemente lento que apoie a luta contra a inflação.

Desde 2022, Powell tem se concentrado em garantir que não se repitam erros do passado, como os do ex-chair do Fed Arthur Burns, que na década de 1970 reduziu prematuramente os juros, abrindo espaço para uma inflação galopante. Posteriormente, na década de 1980, o também ex-chair Paul Volcker teve de lançar mão de um aperto monetário significativo para controlar os preços, resultando em uma dolorosa recessão e inclusive gerando quebradeiras de economias na América Latina com elevadas dívidas externas.

Quatro décadas depois, Powell tem a missão de conduzir a economia americana para um almejado cenário de “pouso suave”, com redução dos preços sem uma elevação significativa da taxa de desemprego. Ainda que muitos analistas em Wall Street entendam que o ciclo de aperto monetário está concluído, Powell deverá se reservar o direito de manter as opcionalidades em aberto.

(GP | Edição: Luciano Costa | Arte: Vinícius Martins | Comentários: equipemover@tc.com.br)