Por Marcio Aith
A disputa criada pelo rombo contábil da Americanas saiu do campo negocial e do terreno jurídico para tornar-se uma disputa política. Uma disputa com o potencial de desvendar outros escândalos; de lesionar reputações; e de influir nas negociações. Enfim, um conflito jogado, agora, também por parlamentares – ainda que teleguiados por bancos credores, que “estimularam” a criação da CPI desde o início.
O deputado André Fufuca (PP-MA), líder do PP na Câmara, entregou à Mesa Diretora nesta quinta-feira (9) o requerimento solicitando a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as inconsistências contábeis da Americanas.
O pedido conta com 216 assinaturas, das 171 necessárias. Do total, 11 nomes serão desconsiderados, já que a coleta foi feita em janeiro e alguns deputados não estão mais em exercício. O FLJ apurou que o presidente da Câmara, Arthur Lira, vê como inevitável a instalação da Comissão.
Na justificativa, o deputado aponta que o episódio “afeta a credibilidade de todo o mercado de ações” e defende que o poder público investigue e exaponha os fatos de fraudes e rombos que afetaram a economia popular.
Fufuca foi discreto em sua justificativa. A verdadeira motivação fica mais obvia na boca dos Republicanos, Hugo Motta, que disse: “Temos que investigar tudo. Será que outros negócios do grupo 3G estão com os mesmos problemas?”. Isnaldo Bulhões, líder do MDB na Câmara, afirmou: “Se for identificado que o 3G realmente fraudou as contas da Americanas, pode ter feito o mesmo nas outras empresas do grupo.”
O objetivo de todo o parlamentar hostil ao 3G é desvendar irregularidades na Ambev (ABEV3), e poucos escondem isso.
Um nos negociadores dessa disputa disse ao FLJ que a perspectiva de uma CPI será um pesadelo para o 3G, mas que, se o grupo melhorar sua oferta para o acordo, “todos os problemas sumirão da noite para o dia”.
Coincidentemente, o pedido de protocolo da CPI na Câmara ocorreu no dia seguinte aos bancos credores recusarem a proposta de capitalização de R$ 10 bilhões, segundo fontes do Scoop by Mover, que solidifica a impressão de que banqueiros credores como André Esteves, tem menos dinheiro, mas muito mais influência na Câmara.
A todos os observadores do processo, dos dois lados, ficou a impressão de que a CPI é mais um elemento de pressão.