Combate à inflação é melhor instrumento social que existe hoje, diz Campos Neto

Campos Neto usou como exemplo o caso da Argentina, e disse que a pobreza aumentou 53% em meio a um descontrole da subida da inflação

Agência Brasil
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Por: Stéfanie Rigamonti, Patrícia Lara e Simone Kafruni

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, defendeu durante audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, nesta terça-feira, que o combate à inflação é o melhor instrumento para mitigar a pobreza no Brasil atualmente.

“Quem sente mais com a inflação é o mais pobre, porque ele não tem a renda protegida, ele não tem indexação, ele tem um reajuste de salário nominal que não acompanha”, argumentou. “Então, o combate à inflação é o melhor instrumento social que existe hoje”, completou.

Campos Neto usou como exemplo o caso da Argentina. Ele disse que a pobreza aumentou 53% em meio a um descontrole da subida da inflação e da instabilidade macroeconômica que atinge o país vizinho. Hoje, a pobreza e a extrema pobreza atingem quase 40% da população argentina, segundo dados apresentados por Campos Neto no Senado.

A Argentina é um caso conhecido na América Latina por ter abandonado seu regime de metas de inflação e por ter promovido uma mudança na taxa de juros contrária o que seria indicado por técnicos, o que resultou em uma disparada da inflação.

O presidente do BC também explicou que, para evitar um choque muito grande na sociedade, a autarquia procura suavizar suas decisões de juros, promovendo altas controladas. “Se eu quisesse combater o choque em um período curto, a gente teria juros muito altos. E a gente não vai fazer isso”, disse, argumentando que o custo social tem que ser o mínimo possível.

ARCABOUÇO FISCAL E QUEDA DE JUROS

Campos Neto também disse que não há uma relação mecânica entre arcabouço fiscal e queda de juros.

O governo federal está apostando todas as fichas em uma eventual aprovação do novo marco fiscal, que começou a tramitar no Congresso na semana passada, para que isso possa pressionar a autoridade monetária a reduzir a Selic, atualmente em 13,75% ao ano.

“O arcabouço foi um movimento na direção certa, elimina risco de cauda”, afirmou, referindo-se à curva de juros futuros.

Questionado pelos senadores sobre a obrigação do Banco Central com relação a fomento ao emprego e crescimento da economia, Campos Neto rebateu que o objetivo primário da autoridade monetária é a inflação.

“Eu sei o quanto custa a inflação para os mais pobres”, disse. Campos Neto reconheceu, no entanto, que a meta secundária do BC é fomentar o emprego em busca do crescimento econômico do país.

SUPERÁVIT PRIMÁRIO E JUROS

O presidente do Banco Central afirmou que há relação entre o resultado primário das contas públicas e a taxa de juros. “Superávit reduz inflação futura”, afirmou.

Campos Neto respondeu à questão levantada pelo senador Oriovisto Guimarães (Podemos), que pediu uma explicação sobre a relação entre déficit ou superávit primário e a queda nos juros.

O presidente do BC lembrou que houve um momento em que os juros futuros estavam em 21% e, quando começou a se gerar superávit, caíram para 14%. “Mesmo com taxa de curto prazo alta, se gerar credibilidade as curvas futuras refletem isso. E o fiscal é um dos fatores mais importantes para credibilidade”, destacou.

Segundo Campos Neto, as reformas ajudam, o equilíbrio fiscal ajuda. “Mostramos aqui que uma das coisas que ajudaram os juros a cair foi a regra fiscal do Teto de Gastos, porque atuou sobre a curva de juros futuro e inflação”, explicou.

Segundo ele, em momentos em que houve choque de credibilidade positiva no fiscal também houve choque positivo na inflação futura. “A relação existe e é muito viva”, reiterou.

Campos Neto assinalou que o custo de combater inflação é alto no curto prazo, porém não combater tem custo perene. “Dá para ter equilíbrio fiscal e social”, acrescentou.