Cautela predomina antes do relatório Payroll de emprego no feriado de amanhã

Indicadores abaixo do esperado sobre trabalho e atividade ampliam receio de recessão nos EUA

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Por: Patrícia Lara

As bolsas europeias e os futuros dos índices acionários americanos operam sem direção firme em um pregão marcado pela cautela antes da divulgação do relatório Payroll de emprego nos Estados Unidos amanhã, quando vários mercados estarão fechados pelo feriado da Páscoa. Nos últimos dias, indicadores abaixo do esperado do mercado de trabalho e de atividade ampliaram o receio de que a economia americana caminha para uma recessão, o que ofusca a possibilidade de interrupção do ciclo de alta de juros no país. Mas a China traz um contraponto positivo nesta manhã, com aceleração do setor de serviços para a máxima em dois anos.

O Índice Caixin de Gerentes de Compras do setor de serviços na China acelerou para 57,8 pontos em março, o maior patamar desde novembro de 2020, ante 55 pontos registrados em fevereiro, reforçando a narrativa de recuperação do gigante asiático.

Mesmo com o dado, o minério de ferro não resistiu a indicadores fracos de demanda por aço e se desvalorizou, o que é uma notícia desfavorável para as ações da Vale e das siderúrgicas negociadas na Bolsa brasileira. A produção de materiais de aço para construção, incluindo vergalhão e fio máquina, teve queda semanal de 1,04% na semana encerrada em 6 de abril, enquanto a demanda aparente de ambos os produtos caiu 6,7% no mesmo período, segundo dados da consultoria Mysteel citados pela Reuters.

Os contratos do minério de ferro encerraram a sessão na Bolsa chinesa de Dalian com queda de 1% para 793 iuanes, o equivalente a US$115,35 a tonelada, o patamar mais baixo em duas semanas. A cotação do barril de petróleo Brent também cede com a preocupação sobre uma recessão, ainda que caminhe para fechar a semana em alta, diante do corte de oferta anunciado no último domingo por grandes produtores da commodity.

No mercado de câmbio, o Índice Dólar DXY, que mede a variação da moeda americana ante uma cesta de divisas pares, tem leve alta. O rendimento dos títulos de dívida de curto prazo dos EUA sobe, com a taxa no papel para vencimento em um ano em alta de 13,9 pontos-base, a 4,604%.

Em razão da divulgação do Payroll na sexta-feira, a Sifma, que é o órgão que representa corretoras, bancos de investimentos e gestoras que operam nos EUA, recomendou apenas o fechamento mais cedo do mercado de títulos amanhã e não de todo o pregão. Mas não haverá negociação na Bolsa de Nova York (NYSE) e na brasileira B3, em razão do feriado da Paixão de Cristo.

Antes do feriado, a agenda doméstica traz como destaque a participação do secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, número dois da pasta, em evento com investidores internacionais organizado pela Morgan Stanley, em Nova York, às 16h00. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tem reuniões fechadas com Ellen Zentner, economista de EUA do Morgan Stanley, e com representantes do Banco Opportunity, em São Paulo.

O Tesouro Nacional faz oferta de títulos prefixados Letras do Tesouro Nacional e Notas do Tesouro Nacional – série F, em leilão com resultado a partir das 11h30. Ontem, o departamento encontrou forte demanda e captou US$2,25 bilhões com a emissão de títulos da dívida externa, quebrando um jejum de dois anos ausente do mercado internacional.

Nos Estados Unidos, saem dados de pedidos semanais de seguro desemprego na semana encerrada em 1 de abril, às 9h30, após a divulgação de indicadores de emprego no setor privado ADP e relatório JOLTS abaixo do esperado nesta semana. O consenso aponta para 200 mil solicitações iniciais, ante 198 mil na semana passada. A agenda americana traz ainda discurso do presidente da unidade do Federal Reserve de St. Louis, James Bullard, às 11h00.

Ainda no exterior, outro grande Banco Central surpreendeu com sua decisão de juros. O Banco da Reserva da Índia manteve a taxa básica inalterada em 6,5%, contrastando com as expectativas de alta de 0,25 ponto percentual. Uma das razões por trás da decisão foi que o robusto crescimento econômico do país começou a dar sinais de enfraquecimento.

MERCADOS GLOBAIS

O futuro do petróleo Brent para entrega em junho cedia 0,13%, a US$84,88 o barril.

O contrato de ouro para entrega em junho recuava 0,05%, a US$2.034,60 a onça-troy.

O Bitcoin caía 1,07% nas últimas 24 horas, a US$27.943; o Ethereum recuava 2,23% no mesmo período.

MERCADOS LOCAIS

O índice EWZ, que replica as ações brasileiras no exterior, cedia 0,04% no pré-mercado americano.

Os contratos de juros futuros na B3 devem se ajustar às taxas externas após queda expressiva na véspera.

DESTAQUES

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), disse ontem a jornalistas em Brasília, que, como acionista majoritária, a União irá “o tempo todo” intervir em como “está sendo construída tanto a política de preços quanto a política de investimentos” da Petrobras. Silveira subiu o tom no discurso, após falas do ministro pela manhã, durante entrevista à GloboNews, derrubarem as ações da companhia. Ao canal de televisão ele disse que a estatal já foi orientada a discutir sua política de reajuste de combustíveis e que essa mudança deve levar à redução no preço do diesel entre R$0,22 e R$0,25. (Mover)

Após a entrevista de Silveira ontem, a Petrobras enviou um comunicado ao mercado reafirmando compromisso com a prática de preços competitivos e informou que não recebeu nenhuma proposta do Ministério de Minas e Energia de mudança na política de reajuste de combustíveis. Após a divulgação do comunicado, as ações da estatal viraram e passaram a subir, dando sustentação aos papéis no final do pregão. (Mover)

O governo estabeleceu, como de interesse da Política Energética Nacional, que a Empresa Brasileira de Administração de Petróleo e Gás Natural S.A. – Pré-Sal Petróleo S.A. (PPSA) realize estudos sobre a viabilidade técnica e econômica de mecanismos para priorizar o abastecimento nacional de combustíveis derivados de petróleo, segundo resolução aprovada pelo ministro Alexandre Silveira e publicada no Diário Oficial da União hoje. (Mover)

Os reservatórios das usinas hidrelétricas fecharam março com 85,3% de sua capacidade de armazenamento, os melhores níveis do Sistema Interligado Nacional (SIN) registrados na última década. A situação é bem distante do que aconteceu em 2021, quando o Brasil enfrentou uma grave escassez e precisou adotar medidas emergenciais para garantir o suprimento de energia. (Estado)

Com boa receptividade junto aos investidores, o Tesouro Nacional confirmou ontem que concluiu a captação de US$2,25 bilhões por meio de emissão de um bônus com vencimento em 2033. A operação será liquidada em 13 de abril. A taxa de retorno do papel ficou em 6,15% ao ano, o que representa um spread de 285,4 pontos-base em relação ao título do Tesouro americano de prazo similar. A taxa ficou abaixo do parâmetro previsto inicialmente, de 6,50% a 6,625%. (Mover)

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou ontem que a autoridade monetária tenta suavizar o ciclo de aperto monetário “o máximo possível”, de forma que o impacto sobre a atividade econômica seja o “mínimo possível”. De acordo com Campos Neto, apesar de os juros já se encontrarem em patamar elevado, é preciso haver credibilidade para que seus efeitos se propaguem pela curva de juros. (Mover)

Campos Neto também disse ontem que as perspectivas de riscos para a trajetória da dívida foram eliminadas após a apresentação da proposta do novo arcabouço fiscal na semana passada pelo Ministério da Fazenda. A fala aconteceu durante fórum do Bradesco BBI realizado em São Paulo. O presidente do BC reforçou, contudo, que não há relação mecânica entre a política fiscal e a taxa básica de juros. (Mover)

Os derivativos apontam majoritariamente para a manutenção da taxa básica nos EUA entre 4,75% e 5% no próximo encontro do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), que acontece em maio. Na manhã desta quinta-feira, a aposta em taxa inalterada é de 56,2%, ante 56,7% ontem. A perspectiva de um aperto adicional de 0,25 pontos percentuais é de 43,8%, ante 43,3% ontem. (Mover)

Os banqueiros de Wall Street estão enfrentando um mercado de trabalho cada vez mais pessimista, depois que a crise bancária do mês passado piorou uma perspectiva já sombria para o emprego e salários. (Reuters)