Por Luciano Costa
A publicação de regras importantes para o avanço da privatização da Companhia Paranaense de Energia (Copel), realizada hoje pelo Ministério de Minas e Energia, foi vista como um sinal positivo por analistas de bancos e por um alto executivo do setor elétrico, que disseram à Mover que a medida mostra o “pragmatismo” da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da sua legenda, o Partido dos Trabalhadores, apesar de discursos contrários.
Lula criticou em diversas ocasiões a desestatização da antes federal Eletrobras, colocada pelo governo do Paraná como um modelo para a pretendida venda do controle da Copel. O presidente também ameaçou ir à Justiça contra alguns mecanismos da operação que envolveu a Eletrobras, incluindo a limitação do poder de voto da União na companhia.
Mas a pasta de Minas e Energia definiu hoje o valor dos bônus de outorga que serão cobrados em troca da renovação do contrato de concessão de três hidrelétricas da Copel antes da desestatização, fixados em R$3,7 bilhões.
“Decisão importante hoje sobre Copel. É um bom sinal. Descola do discurso político”, disse à Mover o executivo de uma grande elétrica que acompanha discussões sobre o assunto.
A equipe de transição de Lula chegou a defender que o governo deveria avaliar diversas propostas de modernização do setor elétrico antes de definir as condições para a desestatização da Copel, e nos bastidores havia temores de que o processo pudesse atrasar, devido à indisposição do presidente com a venda de empresas públicas.
“Foi muito bom. Mostra que a Gleisi [Hoffmann] não conseguiu barrar isso”, disse à Mover o chefe de análises de um grande banco, em referência à presidente do PT, que chegou a falar que iria à Justiça para impedir a venda da estatal do Paraná pelo governador Ratinho Jr (PSD).
Para o analista da Genial Investimentos Vitor Sousa, os termos definidos para a renovação dos contratos das hidrelétricas foram positivos, com valor de outorga abaixo do esperado.
Ele disse ainda que a definição sobre as usinas da Copel pode ser uma importante sinalização para o governo de Romeu Zema (Novo), em Minas Gerais, que pretende levar adiante a desestatização da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), em um processo que também deverá passar pela renovação de contratos de hidrelétricas e pagamento de outorgas.
“Ambas as empresas têm problemas muito similares, com concessões curtas. Elas precisam estender as concessões para fazer com que [o negócio] fique atrativo”, explicou Sousa, sobre os planos de privatização das elétricas estaduais.
Um dos analistas que falou à Mover estimava que a cobrança de outorgas junto à Copel ficaria mais próxima de R$4 bilhões. “O número veio menor do que a própria empresa esperava”, afirmou.
“Os termos parecem atrativos”, disse um terceiro analista, de um grande banco estrangeiro, que falou sob a condição de anonimato.
Com as sinalizações de pragmatismo e de que privatizações poderão avançar no setor, ações de empresas de energia elétrica podem se beneficiar de uma forma geral no curto prazo, acrescentaram os analistas.
O Paraná projetou que a privatização da Copel pode ocorrer até outubro, por meio de uma oferta de ações que diluiria a participação do governo estadual na companhia.