Analistas veem "risco zero" de crise no SVB atingir bancos brasileiros; Nubank e Inter negam exposição

Brasil possui regras regulatórias mais conservadoras, que blindam o sistema local de crises externas

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Por Gustavo Boldrini

A crise deflagrada pela quebra do banco americano Silicon Valley Bank na última sexta-feira não deve ter nenhum impacto sobre o sistema bancário brasileiro, disseram nesta segunda-feira analistas e gestores consultados pela Mover, enquanto bancos digitais brasileiros incluindo Nubank e Inter negavam ter qualquer exposição ao grupo.

Na visão dos especialistas, o Brasil possui regras regulatórias mais conservadoras, que blindam o sistema local de crises externas, apesar das preocupações iniciais no mercado.

“A dinâmica de gerenciamento de ativos e passivos aqui no Brasil é muito diferente e conservadora”, avalia Carlos Daltozo, head de renda variável da Eleven Research.

Para o sócio-fundador da gestora Cardinal Partners, Marcelo Audi, “o que temos aqui é o ‘bom problema’ de excesso de funding de depósitos nos bancos”. Segundo ele, o fato de a maioria dos bancos brasileiros remunerar títulos de Certificado de Depósito Bancário (CDB) com taxas próximas às de Certificado de Depósito Interbancário (CDI) acaba reduzindo o risco de uma explosão de saques, como a que impactou o SVB no final da semana passada.

“Nos EUA os bancos pagam em média 0,5% ao ano atualmente, contra um título público de dois anos pagando 5%. Isso é um incentivo para o depositante sacar seu depósito e comprar treasuries”, disse Audi.

Somente na quinta-feira, os clientes do Silicon Valley Bank haviam retirado US$42 bilhões em depósitos, de acordo com o Departamento de Proteção Financeira e Inovação da Califórnia, levando a um saldo negativo de caixa de US$958 milhões. No dia seguinte, reguladores americanos fecharam o SVB e assumiram o controle dos depósitos do banco, de acordo com o Federal Deposit Insurance Corp (FDIC), sistema de proteção de depósitos dos Estados Unidos.

“Não há motivo de preocupação para os bancos brasileiros pelas informações que foram divulgadas até agora”, disse Carlos André Vieira, analista do setor de bancos e empresas financeiras do TC Matrix. Em sua avaliação, o sistema brasileiro é um dos mais sólidos do mundo, e os bancos daqui possuem poucas relações interfinanceiras com instituições estrangeiras.

Ontem, em nota oficial, o Nubank negou ter “qualquer exposição” ao Silicon Valley Bank, após boatos sobre o assunto circularem nas redes sociais e em grupos de WhatsApp. Em comunicados enviados à Mover, os bancos Inter, Original e Picpay também negaram qualquer exposição ao SVB em suas operações.

As medidas anunciadas neste domingo pelo Federal Reserve para conter a crise causada pela quebra do SVB, que também levou ao fechamento do banco nova-iorquino Signature, foram suficientes para “acalmar os mercados e por fim a qualquer crise potencial de confiança no sistema bancário americano”, segundo Thiago Kapulskis, analista do Itaú BBA.

O “alívio” se traduz no comportamento dos principais índices acionários americanos nesta segunda-feira. Perto das 12h25, Nasdaq 100, S&P500 e Dow Jones operavam em altas de respectivamente 1,24%, 0,78% e 0,72%.

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