Por Bruno Andrade, Gabriel Ponte e Juliana Machado
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, em 13,75% ao ano pela sétima vez seguida. A decisão de manutenção já era prevista por analistas, por isso, a grande expectativa era sobre a sinalização de quando começaria o corte de juros no Brasil. No comunicado, a autoridade monetária comentou que o país se encontra no início de um processo desinflacionário.
“A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação desancoradas, segue demandando cautela e parcimônia”, disse a nota do Copom. De acordo com os analistas, o tom foi mais duro que o esperado, mas alguns economistas acreditam em um corte de juros de 0,25% na reunião de agosto.
Segundo a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, o tom do comunicado que se seguiu à decisão de juros do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central veio “mais duro do que o esperado” e não apresentou nenhuma inclinação para o corte da Selic em agosto. “Não que necessariamente impeça um corte em agosto, mas não houve sinalização clara nessa direção”, disse Abdelmalack.
Ela pontuou ainda que o Copom manteve observações de que a conjuntura atual demanda “paciência e serenidade” na condução da política monetária. Segundo ela, este trecho pode fazer com que os juros futuros subam, embora não mude as apostas para o nível terminal da Selic ao fim deste ano.
“A melhora nas expectativas da inflação semana após semana no Boletim Focus e o processo de fortalecimento do real frente ao dólar favorecem o início dos cortes [da Selic] no segundo semestre, mas o mercado pode empurrar essas apostas de agosto para setembro.”
Marianna Costa, economista-chefe do TC, reforçou que o comunicado manteve o tom de cautela, “inerente a esse colegiado, ao reforçar que ‘a conjuntura demanda paciência e serenidade'”.
“Para os agentes de mercado, o comunicado deve ser entendido como mais leve do que o anterior, porém mais duro do que o desejado. A dúvida dos agentes deve seguir sendo quando o ciclo de afrouxamento monetário começa, se será já na reunião de agosto ou apenas na reunião de setembro. Nesse sentido os dados correntes ganham ainda mais relevância”, complementou.
Na opinião do economista da ASA Investments Leonardo Costa, o comunicado foi “hawkish”, ou seja, inclinado à alta de juros. Após a decisão de hoje, a ASA informou seguir na aposta de manutenção da taxa básica em 13,75% por mais tempo. “Quem esperava que ele [Copom] indicasse queda já em agosto pode ficar frustrado”, disse Costa em nota enviada há pouco à Mover, citando que um eventual corte ainda está “muito condicionado à queda maior dos núcleos e recuo maior das expectativas” da inflação.
A ASA destacou ainda os comentários feitos pelo Copom a respeito do ambiente externo, onde a inflação segue resistente, e do crescimento do Brasil, muito condicionado ainda ao setor do Agronegócio. Assim, segundo Costa, embora tenha havido redução na expectativa do Boletim Focus para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2023 e 2024, “a inflação subjacente segue acima do intervalo compatível com o cumprimento das metas”.
Já a economista-chefe da Tenax Capital, Débora Nogueira comentou que o BC adotou um tom mais duro do que a expectativa do mercado, mas manteve espaço aberto para flexibilizações nas próximas reuniões. “A comunicação é compatível com flexibilização em agosto, mas o BC optou por assegurar graus de liberdade e não se comprometeu com queda de juros iminente”, afirmou Nogueira em nota enviada há pouco à Mover.
Segundo ela, para que haja espaço para cortes da Selic em agosto, é preciso a confirmação da meta de inflação em 3% no intervalo de 12 meses na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) que ocorrerá na semana que vem, assim como a “continuidade de bons resultados na inflação corrente e na pesquisa semanal do Focus”. “Esperamos que as condições permitam, ao fim, um corte de 0,25% em agosto”.
Ainda de acordo com Nogueira, de maneira geral, as condições para uma flexibilização monetária passam “por tudo o que o BC costuma olhar em todas as reuniões do Copom: dinâmica inflacionária, expectativas de inflação, projeções e inflação e hiato, e balanço de riscos”.
Enquanto isso, a economista da AZ Quest Mirella Hirakawa, disse que o comunicado de Campos Neto trouxe ingredientes “dovish” e “hawkish”, isto é, inclinados à queda e à alta de juros, respectivamente. No entanto, a autoridade deu, no geral, os primeiros passos para um corte da taxa Selic a partir da reunião de agosto.
Em comentários enviados à Mover, Hirakawa afirmou que o comunicado do BC veio em linha com as expectativas da gestora, que tem R$20,7 bilhões em patrimônio sob gestão, abrindo “as primeiras frestas da porta para início de cortes” da taxa básica de juros. “Como esperado, o BC se coloca como dependente de dados e de uma lista de fatores que devem ser observados nesse período para iniciar o ciclo de corte de juros, sendo eles a dinâmica de inflação, os efeitos da política monetária, as expectativas e projeções para a inflação, o balanço de riscos e o hiato do produto”, disse a economista.
Hirakawa espera que a lista de fatores caminhe na direção de um afrouxamento monetário, com contínua desinflação e reancoragem de expectativas para os preços da economia, sobretudo após a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) marcada para a semana que vem, quando a entidade deve analisar a atual meta de inflação e definir a continuidade do atual regime ou indicar mudanças.