Por Bruno Andrade
As ações do Credit Suisse negociadas na Suíça fecharam em alta de 19,15%, nesta quinta-feira (16), após o Banco Central da Suíça afirmar que vai financiar a liquidez do banco. Segundo Lucas Schwarz, analista da VG Research, a alta é apenas um alívio após a sinalização da autoridade monetária local, o que não significa que o mercado retomou a confiança e fez as pazes com a instituição financeira.
“Houve pressão de governos estrangeiros, como o da França, para que o Banco Central Suíço salvasse o Credit, visto que a quebra do banco seria catastrófica para o sistema econômico global”, disse.
Em nota, a companhia disse que aceitou fazer o empréstimo de 50 bilhões de francos suíços com o BC local para manter a liquidez no curto prazo.
“Também anunciamos que vamos oferecer via Credit Suisse Internacional a recompra de notas sênior de nossas dívidas, que estão em um valor aproximado de 3 bilhões de francos suíços”, disse a empresa.
Na tentativa de acalmar o mercado, a companhia afirmou também que no final de 2022 apresentava uma cobertura de liquidez média de 144% e que foi melhorada para 150% em 14 de março de 2023.
Fraudes e balanço
Todavia, a situação do banco não é nada agradável faz um bom tempo. A companhia passa por uma série de acusações, que culminaram na crise atual. Entenda como o Credit chegou a essa situação a seguir.
O primeiro ponto são as possíveis fraudes ocorridas nos balanços da empresa. A Comissão de Valores Imobiliários dos EUA (SEC) questionou as demonstrações de fluxo de caixa da companhia entre os anos de 2019 e 2020. A revisão aconteceu após um parecer da PwC – mesma companhia que auditou o balanço de Americanas – de que houve uma falha na eficácia dos controles internos do banco europeu.
Já terça-feira (14), a companhia se pronunciou e alegou que encontrou fragilidades materiais nos balanços de 2021 e 2022. Ou seja, se o investidor somar, há uma suspeita de fraude em balanço, pelo menos, entre 2019 e 2022.
Para Sidney Lima, analista da Top Gain Research, o caso do banco é muito parecido com a fraude no balanço da Americanas, o qual a empresa pediu recuperação judicial após encontrar um rombo de R$ 43 bilhões. “O caso recente do Credit Suisse pode se assemelhar em partes com o caso da Americanas já que esteve recentemente envolvido em demonstrações duvidosas de seus resultados”, disse o analista.
“O banco também se envolveu em casos de fraudes fiscais, e investigações sobre fraude fiscal e lavagem de dinheiro que iniciaram em 2016, e o banco entrou em acordo para pagar multa de 238 milhões de euros”, comentou Lima.
Mesmo com o balanço supostamente fraudado, a empresa ainda apresentou resultados amargos. Em 2021, o prejuízo chegou a 1,65 bilhão de francos suíços. Já em 2022 o resultado ficou negativo em 7,3 bilhões de francos suíços. Outro perda de dinheiro foi com a Greensill Capital Management e a Archegos Capital Management, as duas companhias faliram em 2021 e deram um prejuízo de US$ 15 bilhões para o banco europeu.
No meio de todo esse processo, a companhia começou a passar por uma crise de credibilidade e os clientes passaram a fazer várias retiradas com medo da empresa quebrar. Somente em novembro de 2022, os clientes sacaram 84 bilhões de francos suíços da instituição financeira, o que complicou a liquidez do banco.
Os Sauditas e a recusa de injetar mais dinheiro
Em meio a esses problemas financeiros, a companhia decidiu fazer uma nova reestruturação e foi recebida de braços abertos por dois grupos sauditas. O primeiro foi o Saudi National Bank, que se tornou o maior acionista da instituição financeira europeia. A companhia do oriente médio adquiriu 9,9% das ações do Credit em um plano de reestruturação.
Outra empresa do oriente médio também aumentou sua participação na empresa, a Qatar Investiment Authory cresceu sua participação para 5% durante o processo de emissão de novas ações do Credit.
Mas a instituição financeira sentiu novamente os solavancos da falta de liquidez e precisou pedir socorro novamente. O pedido foi encaminhado para seu maior acionista, o Saudi National Bank. No entanto, o presidente da empresa negou. “A resposta é absolutamente não, por muitas razões e não somente pela questão regulatória”, disse Ammar al Khudairy, presidente da Saudi National Bank em entrevista à TV Bloomberg. As questões regulatórias não permitem que o estrangeiro tenha mais de 10% das ações do banco.
Futuro
Se os saques, como os de 88 bilhões de francos suíços, continuassem de forma abrupta, o banco poderia quebrar. Para Schwarz, isso foi evitado pelo BC local no curto prazo. O que não aconteceu com o Silicon Valley Bank (SVB) dos EUA. “Esse empréstimo do BC local dá um respiro para o Credit, que consegue manter sua liquidez por um tempo”, disse o analista da VG Research.
Ainda assim, é muito difícil dizer que toda a situação está resolvida. Segundo Lucas Schwarz, não se sabe até quando esse banco vai continuar conseguindo manter a liquidez. “Não é possível dizer até quando o sistema financeiro da suíça vai continuar colocando dinheiro no banco para manter liquidez”, disse. “O Credit Suisse é grande demais para falhar e grande demais para ser resgatado”, comentou.
Por isso, Lima acredita que a tendência é de uma fusão ou aquisição. “O mais provável é que ocorra uma grande fusão e troca total do comando ou aquisição por outra instituição financeira”, concluiu.